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Herdeiros da culinária popular

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Tádzio França – repórter

Colaborou: Cinthia Lopes – editora

Certos sabores têm a capacidade de despertar lembranças. Alguns vão além da nostalgia: fazem parte de uma época e cultura peculiares. Quem foi criança de 30 anos para trás, lembra de quando os finais de tarde eram marcados pela chegada de um vendedor de doces que fazia a alegria da área. Podia ser o tilintar que anunciava o vendedor do cavaco chinês ou o grito, entoado como uma canção, para vender cocada, tapioca, cavaco chinês, sequilhos ou geléia de coco – a famosa ‘gelé’ ou ainda, quebra queixo como diria nossas vovós. Havia também o dindim, opção gelada favorita para se refrescar no calorão de outros tempos. À medida que as essências químicas foram dominando o mercado, as guloseimas típicas foram rareando, tornando-se apenas parte da memória afetiva. Mas elas ainda existem! São pequenos negócios mantidos por famílias, em produção artesanal. Vários deles têm reconhecimento e grande clientela, justamente por se manter original: igual ao passado,  diferente de tudo que se faz hoje.

Solange é da segunda geração da Casa da Tapioca: A tapioca é soltinha, como se fazia no passado.Tapiocaria de Tabatinga é feita na pedra desde 1949

A Casa da Tapioca, em Tabatinga, tem uma tradição de 63 anos no ramo. É de uma época muito anterior às tapiocas ‘fast food’ ou exoticamente recheadas de hoje em dia, e guarda todo o sabor e processo de produção exatamente iguais ao que se fazia em 1949. Não à toa, o local tem filas imensas a cada fim de semana. E durante a alta estação, todos os dias vão natalenses e turistas para saborear as diversas  variações da farinha de mandioca com coco ao forno.

Na Casa da Tapioca, o cliente vê a iguaria sendo feita na hora. No quintal da casa há um grande fogão à lenha feito de cimento, barro e tijolos refratários, onde as tapiocas são feitas. Na frente do cliente, a equipe peneira a goma e mistura o coco, depois espalha o produto na superfície quente do fogão, e outro vai virando a massa até ficar no ponto. As pessoas são atendidas à medida que as tapiocas vão ficando prontas. Foi providenciado um espaço de taipa com cobertura de palha, mesas e bancos de madeira para que a clientela pudesse se acomodar e saborear os quitutes com um cafezinho.

Não há tapiocas recheadas. Apenas seca ou no leite de coco, como manda o figurino. “A pedra não é apropriada para recheios. Esse é o tipo de coisa que se faz na chapa. E nossa tapioca tem um sabor diferente por ser feita na pedra”, explica Solange da Silva, sobrinha do atual proprietário da Casa da Tapioca. Segundo ela, o resultado é uma massa mais solta, macia, e não “liguenta”, como nas tapiocas na chapa. Do forno primitivo da casa, também saem bolos (de batata, milho verde, pé-de-moleque e fruta-pão), beiju de mandioca mole, e cocadas (de leite condensado, abacaxi com leite, açúcar queimado e maracujá).

Solange conta que foi preciso criar,  há 10 anos, o quiosque para receber os clientes, já que a procura cresceu de forma espantosa. “As pessoas gostam de sentar e comer as tapiocas no local, conversando e bebendo o café. Com o tempo vai embora uma garrafeira inteira de café, elas nem notam o tempo passar”, diz. Aliás, pagar o café é opcional. Uma caixinha fica do lado para a contribuição consciente. As filas costumam atingir seu auge entre as 16h30 e 17h. Há até organização por idade.

Solange define a Casa da Tapioca como uma cooperativa familiar. Todos no trabalho são parentes, e há três gerações trabalham com os quitutes. O começo de tudo se deu com Maria Carneiro, que em 1949 fazia as tapiocas para serem vendidas aos sábados na feira de São José de Mipibu. E assim foi por longos anos, até que a área começou a se desenvolver. Vieram as estradas, os veranistas fazendo suas casas em Tabatinga, e os turistas. Dona Maria passou a concentrar sua produção em casa, e logo o local foi se tornando um point para quem aprecia o sabor original do mais conhecido prato nordestino. A tapioca já foi recomendada pela revista Veja Natal. Dona Maria faleceu no ano passado, mas um grupo trabalhador de tios, sobrinhos, irmãos e cunhados estão garantindo que Tabatinga a saborosa tradição continue.

Serviço: Casa da Tapioca. Av. José Alceu, 1400, Barra de Tabatinga, Nísia Floresta. Tel.: 9193-8538.

Balas de Coco Delícia: no verão, família produz 7kg por dia Edilza: Turistas encomendam em grande quantidade.

“Bala de coco, bala de coco, quem não come, fica louco”. Quem costuma veranear por Pipa, Tibau e adjacências, já deve ter ouvido o ‘jingle’ cantado por alguma moça a vender as Balas de Coco Delícia. E o cliente provavelmente confirmou a rima da canção. “As balas ficaram famosas porque são muito boas. Provou, gostou”, resume Edilza do Nascimento, vendedora e componente da família que faz as balas há dez anos.

As balas de coco são comercializadas ao preço de R$2 por saquinho, ou três sacos por R$5. Elas saem aos sabores de coco, chocolate, coco com recheio de castanha, limão e vez por outra também de café e morango. As primeiras são as que mais vendem. O maior público das balas hoje em dia são os turistas hospedados em hotéis e pousadas – inclusive, fazem grandes encomendas antes de irem embora. Não querem enlouquecer sem a bala Delícia.

“A gente já chegou a fornecer a balinha para o Hotel Vila do Mar, em Natal, durante seis meses. Hoje nós vendemos na praia e por encomendas da região”, conta Edilza.

A base das balas é leite de coco puro com açúcar. Na alta estação, chegam a fazer de seis a sete quilos por dia. Edilza conta que a produção começa às 17 e vai até meia-noite. O processo é todo artesanal, desde a raspagem do coco até a observação do ponto correto de cozimento. E fazer as balas de um dia para o outro tem uma razão: se for feita na hora, a massa fica com uma consistência de goma de mascar; mas no dia seguinte fica desmanchando na boca, do jeito que a clientela gosta. Seis pessoas cuidam da produção.

Apesar de ser sucesso numa praia nordestina, a receita das balas de coco veio de São Paulo. Dona Ivani, sogra de Edilza, se mudou para o Rio Grande do Norte e veio morar em Arês, onde começou a fazer as balas – já receita de sua avó – para vender na cidade. Depois a família se mudou para Cacimbinhas, um dos distritos de Tibau, e continuou a vender as balinhas. A badalação turística de Pipa ajudou a divulgar as balas para o Brasil. Atualmente, Dona Ivani passou a produção para as   filhas e noras, pois a idade já não a deixa acompanhar o ritmo da cozinha. As balas Delícia não têm um ponto fixo para venda. O cliente interessado tem que ir à praia nos dias mais cheios ou encomendar. Os donos de restaurantes e os hoteis também podem orientar.

Serviço: Balas de Coco Delícia. Encomendas pelo 3246-4447 ou 9129-1763.   

Help, há mais de 23 anos fazendo cocadaCocada da Help já tem fama internacional

A doceira Maria do Socorro, seguindo o sotaque cosmopolita de Pipa, virou a ‘Help’. A cocada que ela vende há 23 anos acabou por se tornar o mais doce cartão de visita do balneário no litoral sul do RN. “O turista fala que a minha cocada é diferente das outras, mais cremosa e gostosa. Mas não tenho grandes segredos, não”, diz ela modestamente sobre o produto que vende no Ponto da Cocada, pequena loja instalada em sua própria casa, na rua principal de Pipa.

Cocada, para Help, é assunto de família. Começou com sua avó. Ela vendia para a mãe desde os nove anos, e a partir de 1989 passou a trabalhar para si própria. “Quando comecei a vender, não tinha praticamente nada em Pipa. Não chegava ônibus e os turistas vinham de combi”, conta. No começo ela vendia na praia, depois no ‘estacionamento’, e atualmente em ponto próprio. Foi graças ao desenvolvimento do turismo na região, que as cocadas da Help foram ganhando a fama que possuem hoje. Ele considera que a venda “estourou” de seis anos para cá. Este ano, o seu Ponto da Cocada foi um dos eleitos na seção Comidinhas de Veja Natal.

O processo de produção das cocadas da Help é, provavelmente, uma das causas de seu sucesso. É tudo artesanal. Ela acorda às 5h da manhã para começar os serviços. Help raspa o coco, põe açúcar, leite, põe no tacho e mexe sem parar até dar o ponto durante cerca de 40 minutos. É tudo no olho, ela não usa marcação de relógio. Depois, Help  espalha a mistura numa pedra de granito para esfriar durante 15 minutos, até atingir a consistência ideal para ser cortada. Nada leva conservante, é tudo 100% natural. A guloseima custa R$3,50. 

No começo os sabores das cocadas eram apenas os de coco branco e de coco queimado. Com o tempo, Help foi incorporando novos sabores, tendo hoje os de maracujá, cajá, abacaxi e uva. Vale salientar que ela usa apenas fruta ou a polpa para fazer esses sabores diferentes. Em período de alta temporada ela cerca de 80 a 100 cocadas por dia – e vende tudo.  A cocada da Help, além de natural, também é ecológica. Ela faz questão de dizer que doa os cascos dos cocos usados nos doces para os artesãos locais fazerem seus trabalhos.

Provando que é versátil, Help não vende apenas cocada em seu ponto. Também faz pastéis – já premiados num Festival Gastronômico de Pipa – com recheios de atum, camarão, carne, carne de sol, queijo e presunto, além de tapiocas, sanduíches e sopas. Tudo, com a mesma qualidade com que faz suas apreciadas cocadas. “Todo mundo fala isso, mas é verdade: quando a gente trabalha com amor, tudo fica mais gostoso”, conclui. Alguém discorda?

Serviço: Ponto da Cocada. Av. Baía dos Golfinhos, 120, praia de Pipa. Tel.:  9171-4039.

Mantendo viva a tradição do quebra queixoDe volta à Cidade Alta, vendedor de geleia mantém a tradição do pai José Antero

Quebra-queixo, doce americano, japonês, ou simplesmente geleia de coco. O nome muda conforme a região do país. Para os natalenses, é o apreciado ‘gelé’, um dos mais típicos doces de rua. O mais tradicional doce da cidade ficava a cargo do paraibano José Antero, que aqui chegou em 1979 e conquistou todo uma geração de clientes natalenses. Hoje, quem cuida dos gelés é o filho dele, Adeilton Vital, que há três voltou a ter um ponto na Cidade Alta, dividindo com o Alecrim.

“O pessoal sentia falta do gelé na Cidade Alta, e pedia que a gente voltasse”, conta Adeilton, que agora tem uma pequena banca em parceria com a lanchonete Cartola’s, na avenida João Pessoa. Lá ele vende o vistoso doce marrom feito de açúcar branco com coco seco. “Muita gente pensa que a geleia leva rapadura devido a cor, mas não é verdade. Essa cor é devido ao tempo de cozimento, que leva de quatro a cinco horas”, explica. Ele afirma que seu gelé tem uma consistência mais macia que o do Sul, “que parece uma pedra”. Este é possível comer sem quebrar o queixo.

A geleia pode ser consumida no papel – que é a forma mais tradicional -, como também em três tamanhos de embalagem de plástico. Novos tempos. “É mais higiênico, e também o cliente pode levar para onde quiser”, diz Adeilton. A embalagem grande comporta até 1 quilo e meio de doce. Os preços variam de 1 até 14 reais. Outra inovação é que há gelés com novos sabores: de abacaxi, coco com banana, e  castanha. Ele acredita que é um diferencial importante para hoje em dia.

Adeilton costuma brincar, dizendo que “nasceu dentro de um tabuleiro de doce”. “As pessoas não acreditam que eu, com 27 anos, faço esse tipo de doce. Meu pai me ensinou, e desde que ele morreu eu assumi a produção junto com minha mãe. É uma tradição de família, já que meu pai me criou com ela”, diz. O primeiro ponto de seu Antero foi o Alecrim, também mantido por lá até hoje. A criançada continua sendo uma boa parte do público. Gelé não nega que tem sabor de infância.

Serviço: A Tradicional Geleia de Coco. Av. João Pessoa, 190, Cidade Alta. Aberto de segunda a sábado, das 9 às 17h40.

Doroteia Dantas recupera a tradição do dindimUma releitura do velho Dindim

Os dindins já refrescaram a infância de muita gente. Hoje em dia quase não se vê mais nas praias ou nas casas que os vendem para complementar a renda familiar. Quase esquecido, mas ainda irresistível. Foi nisso que pensou a representante comercial, produtora e colunista Doroteia Dantas, quando criou há um ano  sua marca de dindins de grife chamada sugestivamente de “Me Chupe”. “Eu queria um nome de impacto, não posso negar”, diverte-se. Os dindins saem só por encomenda.

Segundo Doroteia – que adotou o nome Doroty Lamour para comerciar suas guloseimas geladas – fazer o dindin foi um resgate. “Lembro muito da minha infância em Macau. É uma saudade muita saudável, e muita gente sente isso”, filosofa. Para dar um toque diferenciado, ela ressalta que procurou fazer o produto da forma mais artesanal possível, utilizando frutas naturais e polpas. “Não é aquele dindin com 90% de água. É algo realmente saboroso”, enfatiza.

Os dindins de Doroty saem nos sabores de morango, cajá, uva, manga, coco, coco queimado, tangerina, e até o tradicional ‘chiclete’, único no qual ela usa essência de tutti-frutti e corante. O resultado é concentrado e muito saboroso. Doroty conta que faz os dindins de sexta a domingo, para poder vender ao longo da semana. Ela faz tudo sozinha – até  500 dindins. Já recebeu encomendas desde eventos até empresas que querem servir para sua clientela. Os pedidos para encomenda devem ser de no mínimo 30 dindins. Mais informações pelo 9966-3069. 

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