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Hezbollah vai tentar chegar ao poder

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NASRALLAH - Líder do Hezbollah

Enviado especial

BEIRUTE – Membros do 14 de Março, o grupo majoritário no Parlamento libanês,  liderado pelo primeiro-ministro Fouad Siniora, estão preocupados com a perspectiva  de o Hezbollah sair do atual conflito clamando vitória.

O cenário de um Hezbollah  fortalecido politicamente ganhando as eleições e sendo a principal força de  uma nova coalizão já apareceu no radar de políticos do Partido do Futuro, o  da família Hariri, o principal do bloco governante. “Com certeza o Hezbollah  tentará chegar ao poder depois do fim da guerra”, diz o deputado Walid Edo,  do Futuro.

Na quinta-feira, no encontro do 14 de Março que contou com a presença do primeiro-ministro,  esse foi um dos assuntos tratados. “Todos os partidos estão unidos nessa época  de guerra”, diz Moawad Abdallah, o chefe do departamento de comunicação do Parlamento.  Nenhum político cristão ou sunita defende abertamente o desarmamento do grupo  xiita Hezbollah antes do cessar-fogo, o que é curioso dada a extensão dos prejuízos  materiais e humanos até agora. “Essa postura é extremamente hipócrita porque  muitos deles usam palavras bastante pesadas em conversas privadas para se referir  às decisões do grupo.

Os canais de televisão só mostram as entrevistas de refugiados  que apóiam a guerra, embora muitos estejam revoltados com o Hezbollah”, diz  Issa Goraieb, o editorialista do L’Orient Le Jour, o jornal libanês publicado  em francês. O grupo xiita tem mostrado capacidade de enfrentar as tropas israelenses no  combate corpo-a-corpo perto da fronteira e de lançar foguetes contra o território  vizinho.

Essa tática, no entanto, não tem impedido a destruição do país. Para  o Hezbollah, entregar as armas é impensável porque seria a derrota. Para políticos  de outros partidos, essa possibilidade poderia ser o fim das hostilidades. Apesar  disso, eles descartam até mesmo mencionar o assunto publicamente. Alguns temem  a acusação de traidor e outros as conseqüências. “Qualquer ataque ao grupo nesse  momento causaria uma guerra civil. Por pior que seja a destruição provocada  pela guerra, ela não é nada perto do que seria o resultado de uma guerra civil”,  diz Edo.

 Oficialmente, políticos contrários ao Hezbollah falam no inimigo comum e histórico,  Israel. Diante das mortes de civis, expressam pesar e apoio à resistência, palavra  geralmente usada para se referir à luta do Hezbollah contra as tropas israelenses.  Quando fazem questionamentos ao grupo xiita, vão até um certo limite. Criticam  o fato de o Hezbollah ter capturado, sem consultar o governo, dois soldados  israelenses no mês passado, o que deu início à guerra.

Até agora, nenhuma pesquisa de opinião confiável tentou medir o humor dos libaneses.  É difícil calcular o percentual que aprova o comportamento do grupo. Mas à medida  que os ataques israelenses atingem áreas cristãs, fora do alvo preferencial  que são os xiitas, a tendência é que cresça o ódio a Israel e o apoio à resistência  em outros grupos religiosos que compõem o Líbano, o que fortalece politicamente  o Hezbollah.

 A proposta de paz apresentada pelo primeiro-ministro Siniora na Conferência  de Roma fala no desarmamento do grupo xiita somente após o fim do conflito,  a devolução de território por parte de Israel, a libertação de prisioneiros  libaneses e a entrega do mapa das minas na região sul. Se isso de fato acontecer,  políticos como Edo apostam que o Hezbollah cantará vitória, pois terá terminado  o conflito com suas armas nas mãos.

“O grupo dirá que foi o ganhador de qualquer  jeito. É assim no mundo árabe. Muitos acreditarão, inclusive entre as pessoas  que não gostam do Hezbollah. E, em certa medida, faz sentido. Nunca nenhuma  força árabe agüentou tanto tempo um ataque israelense”, diz Goraieb, o editorialista  do L’Orient Le Jour.

O que é o Hezbollar

Diferente de outros grupos que fazem terrorismo político por dinheiro, ou exércitos constituídos de profissionais pagos para defender os interesses de uma nação, a milícia de resistência Hezbollah, ao contrário, é integralmente formada de jovens, órfãos de pais que perderam a vida nos ataques de Israel em 1982 e 1986, que dá sentido à expressão “Partido de Deus”, ou seja, uma conseqüência natural. O Hezbollah é formado inteiramente por libaneses, não há presença de sírios e/ou iranianos em sua estrutura como muitos afirmam.

nConstitui-se em um dos principais movimentos de combate à presença israelense no Oriente Médio e possui como objetivo declarado a luta contra o estado sionista de Israel, o deslocamento integral do Estado de Israel e expulsão da população israelita para outras regiões do planeta.

Desenvolve também uma série de atividades em cinco áreas: ajuda a familiares de “mártires”, saúde (possui uma rede de hospitais em todo o Líbano), educação religiosa(xiita – possui uma rede de escolas), reconstrução e agricultura.

nO Hezbollah conta com cinco hospitais, 43 clínicas e duas escolas de enfermagem. Segundo a ONU, ao menos 220 mil pessoas em 130 cidades libanesas se tratam nesses locais. O Hezbollah possui 12 escolas com sete mil alunos e setecentos professores e centros culturais franceses auxiliam no aperfeiçoamento do corpo docente. Tudo isso com apoio financeiro do Irã, a muitos anos atrás o Hezbollah vem conseguindo com sucesso a se tornar independente financeiramente.

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