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Hipnose

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Rubens Lemos Filho
A imagem que hipnotiza é a redundante perfeição de Pelé,  majestade e  preparo de guerreiro ao ataque. Pintado, o quadro jamais sairia tão fiel. A multidão de súditos ( plateia dobrando os cotovelos pela arquibancada), espera a arrancada de uma pantera humana rumo ao gol adversário. 
Pelé estava  pleno aos 25 anos. Bicampeão mundial pelo Brasil. Bicampeão pelo Santos. Era 1966, Copa do Mundo que parece ferida sem cicatriz na alma brasileira(eliminação na primeira fase), o Rei  sublime na fixação do corpo à grama. Braços equilibrados como asas a permitindo o voar baixo, pé de apoio pronto ao chute ou ao passe, canhota agasalhando a bola como que a protegê-la de inimigos poderosos. 
A fotografia de Pelé mostra a face do homem transfigurando-se em fera na tarde inglesa da estreia da seleção contra a Bulgária, vitória de 2×0, dois gols de falta, um Dele e outro do que havia sido Mané Garrincha, àquela altura espectro do passado recente na cronologia, longe da figura derrotada pelo vício e pela crueldade de quem lhe entupiu de  remédios para ele jogar e encher os cofres do Botafogo. 
O Goddison Park, em Liverpool, recebeu, exatos, 47.308 pagantes. Modesta assistência para cortejar o Rei da Bola e a sua compleição irretocável, seu pique de caçador querendo a rede balançando de amor e fúria. Em Liverpool, terra dos Beatles, Pelé cantou no primeiro jogo. 
Tomou uma pancada do meio-campista Jechev, que lhe custaria a ausência no jogo seguinte contra a Hungria(derrota de 1×3) e uma participação decorativa de tanto apanhar contra Portugal de Eusébio, que os patrícios petulantes ousaram compará-lo ao menino de Três Corações(MG). Outro revés de 3×1. 
“É de carne e osso! É um fantasma negro! É preciso tocá-lo para saber se existe mesmo! É a perfeição da raça humana! “na arquibancada bem pertinho do campo, homens, mulheres, meninos e meninas tentavam decifrar o espetacular em festival de exclamações. A energia de Pelé, só conhece e testemunha quem por ele passou perto. 
O drible em curva invadindo a área, a cabeçada acima da altitude boliviana, o petardo quando se esperava o toque sutil, a classe quando o goleiro aguardava, resignado, a bomba atômica em chuteiras. Pelé foi o maior e a fotografia comprova. Sim, nunca, desde as Caravelas, alguém foi tão imponente. 
A seriedade valia contra a Bulgária ou o Votaporunguense do interior paulista. Pelé e Pagão, Pelé e Coutinho, Pelé e Toninho, duplas em que o segundo sempre será coadjuvante radioso. Conformados e fascinados. Os três estão no céu.  
Certa vez, contra o Bangu, o zagueiro Mário Tito aplicou um beliscão no braço da sumidade. Pelé sorriu como se tivesse recebido um ramalhete de flores. Após levar 6×1 no Maracanã, Mário Tito pôs-se a berrar: “É doutro mundo, esse Crioulo não é da terra”. Certíssimo. Pelé é extraterreno, de carne é Edson Arantes, que lhe empresta o corpo.
Pelé anormal, Pelé profissional, Pelé colossal, Pelé imarcável, Pelé insaciável pelo gol. A aparente cena do jamais-crime aponta para um Pelé sozinho, dominando a gorducha na meia-esquerda até correr em linha reta, costurando zagueiros sem piedade. 
É a premonição da sequência misteriosa. Das  profundezas de  Pelé, imitado, copiado, invejado, igual a ninguém. Superior a si mesmo na arquitetura de jogadas, uma mais bela que a outra. A fotografia expõe traços de estátua, de desenho delicado em contradição ao furor a saltar do papel aos olhos assustados de maravilhosa sensação. 
Pelé eterno, Pelé momento. Pelé sentimento. Nos livros, filmes, tratados, dossiês, enciclopédias, coletâneas, saltos, cabeçadas, cobranças de falta e pênalti, fintas seriais, Pelé se multiplica na fantasia de quem não o assistiu ao vivo. 
Pelé se fecha no próprio enigma. Pelé se revela mito no instante infinito da fotografia de Liverpool. E que o mundo parasse ali, na performance do dono do futebol. Michelângelo cuidaria da escultura. Os Beatles, da canção: The Beautiful King. 
ABC 
Por obedecer às normas sanitárias de prevenção ao Covid-19, o ABC larga atrasado para o restante da temporada.
 
América 
A Comissão Técnica, compenetrada, largou na frente e o resultado pode ser visto no desenrolar das competições. 
 
Crime 
O assassinato do torcedor do América ao comemorar o aniversário do clube em Parnamirim não pode cair no roteiro da banalidade das apurações policiais. Cruel a foto do rapaz morto do jeito que nasceu: em posição fetal. Baleado na cabeça. 
 
Eliminatórias 
Com o adiamento das Eliminatórias para outubro, o Brasil ganha um mês sem apanhar. 
 
Wright 
No dia 17 de julho de 1989, com arbitragem de José Roberto Wright, o ABC conquistava a segunda fase do segundo turno do Campeonato Estadual empatando o clássico com o América em 0x0. Público de 8.042 pagantes no Machadão, que deixou de ser Castelão este ano por sanção da prefeita Wilma Maia ao projeto do vereador Marcílio Carrilho. 
 
Times 
ABC: Abelha; Vilson Cavalo, Estevam, André e Nonato; Alciney, Alencar e João Carlos; Zinho, Batata(Escurinho) e Django. Técnico: Didi Duarte. 
América do técnico Ferdinando Teixeira: Eugênio; Alfinete, Medeiros, De Leon e Soares; Baltasar(Oliveira), Índio, Demair e Baíca; Casquinha e Edmilson. 
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