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História narrada por presidentes

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Oficialmente o encontro de alguns dos ex-presidentes abecedistas para um almoço serviu como embrião para criação do Conselho Consultivo do clube, uma inovação do novo estatuto alvinegro, mas a questão burocrática acabou se transformando num grande bate-papo, onde os dirigentes lembraram momentos das suas gestões e recordaram de alguns fatos pitorescos. Bira Rocha, presidente da junta governativa que respondia pelo clube no início da década de 70 quando o ABC realizou a maior temporada de um clube brasileiro na Europa, em 1973 foi interlocutor de casos curiosos.

“Tem muita história para contar. Daria para escrever um livro. Passamos por tudo, inclusive por situação política complicada em países naquele momento”, recorda Bira. “Assim que a nossa delegação chegou ao Líbano, onde teríamos um jogo em Beirute, estourou um conflito que ficou conhecido como a Guerra dos Sete Dias naquela região que é muito complicada em termos políticos. Mas a situação se acalmou no dia seguinte e fomos para o campo, que tinha pouquíssimas pessoas, porém para nossa surpresa quando entramos no gramado tinha lá uma bandeira do ABC. Procuramos saber do que se tratava e era um libanês que havia residido em Natal, se tornou torcedor do ABC e que, mais trade, regressou ao seu país”, destaca. A partida em questão ocorreu no dia 4 de novembro de 1973: ABC 1 x 1 Seleção do Líbano, gol de Jorge Demolidor.

O longo período fora do Brasil, segundo o ex-presidente da junta governativa, também trouxe alguns problemas para diretoria em Natal, principalmente com as mulheres e outros familiares dos jogadores, que chegavam a formar fila na porta da sede para receber algumas notícias dos membros da delegação. “Naquela época tudo era bastante complicado. Não exista telefone, internet e esses aparelhos modernos de comunicação. Os atletas só conseguiam falar com Natal uma vez por semana e mesmo assim através de um aparelho de telex. Era muito complicado administrar essa situação”, confessa Bira Rocha.

Quando provocado a responder o momento de maior alegria proporcionado pelo seu amor ao ABC, ele não esconde que foi a conquista do tetracampeonato potiguar (1970, 1971, 1972 e 1973). “Foi um momento difícil e que marcou muito a nossa administração, nem o acesso para série B marcou tanto a minha vida de torcedor”, destaca.

Já Rui Barbosa lembra que sempre foi muito complicado fazer movimentar uma máquina como o ABC, que move milhares de corações apaixonados. Ele contou que quando assumiu o comando do clube, o Alvinegro vinha de uma grave crise e tinha no elenco apenas três jogadores. Sabia que tinha de realizar um trabalho de reconstrução da equipe, topou o desafio e conseguiu montar um dos melhores grupos de todos os tempos.

“Quando assumiu a presidência no ABC, o América estava para ser pentacampeão, então me deparei com o clube apenas com três atletas e o terreno da Vila Olímpica sem ter sequer uma cerca. Lembro que minha primeira providência foi realizar uma reunião com a imprensa e solicitar que eles elegessem a seleção do último campeonato. Do que foi apresentado, apenas dois atletas não coincidiam com a lista de reforços que fiz para trazer para o ABC. Minha visão naquela época era a seguinte, reforçar o nosso time e desfalcar os adversários. Então tirei Marinho e Silva, do América; Dedé de Dora e Curió, do Potyguar/CN; Djalminha do Alecrim, já contávamos com Joel, Noronha e Sérgio Coutinho, trouxe um goleiro Carioca que foi revelação do campeonato pernambucano e montei a maior artilharia do futebol do Rio Grande do Norte. Com esse time conseguimos interromper a jornada vitoriosa do nosso rival”, conta Rui, que defende a tese de que um clube para entrar numa competição não precisa estar contratando tanto como nos dias atuais. “Na minha época entravamos nas disputas com os times formados e não precisávamos mudar tanto de treinador”, salienta.

Dos onze presidentes ainda vivos, marcaram presença no encontro Bira Rocha, José Nilson de Sá, Rui Barbosa, Paiva Torres, José Wilson, Judas Tadeu e Rubens Guilherme, entre os faltosos foram relacionados Severo Camargo, Eudo Laranjeiras, Edson Teixeira e Leonardo Arruda, que justificaram o não comparecimento e apoiaram a ação por parte da atual diretoria do clube, colocando-se à disposição para futuras reuniões.

José Nilson se mostra surpreso com progresso

O mais antigo presidente da história do ABC ainda vivo é José Nilson de Sá, que apesar de ter sido o responsável pela compra do terreno onde se encontra o complexo esportivo Vicente Farache, ressaltou que apesar de ser um visionário não conseguia imaginar naquela época que seu clube chegasse aos dias atuais com a estrutura que possui atualmente. Com 87 anos, mas aparentando uma saúde de ferro, o dirigente diz que vai pouco aos estádios atualmente e que prefere acompanhar os jogos do ABC pela televisão (quando é transmitido) ou pelo rádio, ao lado da esposa — “ela consegue torcer mais pelo ABC do que eu”, frisa. O motivo disso, segundo o próprio José Nilson, é que ele deixou de entender de futebol.

“Hoje as coisas são muito complicadas, tem muito número dentro do futebol. É um tal de 4-4-2, para cá, 3-5-2, para lá e eu fico perdidinho quando vou ao estádio. Não dá mais para identificar quem faz o que. Para ser bem sincero, atualmente só sei quem é o goleiro. Acredito que nos dias atuais estão sobrando número e faltando qualidade”, critica.

Mesmo assim o ex-presidente faz questão de destacar que ao contrário do futebol dentro de campo, o que não muda é a sua paixão pelo clube. “As décadas já passaram, mas a paixão por este clube não tem fim. Foram muitas as alegrias, são muitas as alegrias pelo nosso ABC”, confessa. Paixão essa surgida na década de 30, quando ainda era garoto e morava em Mossoró. “Nessa época existia um time de futebol na cidade chamado Ipiranga, que tinha a camisa preta e branca, eu sempre gostei dessas cores. Minha família toda torcia pelo Ipiranga e quando chegava jornais na cidade e eu tinha a oportunidade de ler a parte de esportes, via que o ABC era preto e branco, assim como o Botafogo do Rio de Janeiro e passei a torcer por esses dois clubes. Essa tradição só não vingou em São Paulo, onde gostava do Palestra Itália, que agora se transformou no Palmeiras” destaca.

Devido as dificuldades enfrentadas pelos clubes potiguares, José Nilson que indicou a compra do terreno da Vila Olímpica e que para tornar o imóvel viável teve de mandar soterrar uma cratera que existia no local, praticamente foi quem colocou o primeiro tijolo do atual complexo esportivo. “Não imaginava que o ABC fosse crescer tanto”.

Já Bira Rocha admite que sempre vislumbrou um ABC grande e disse que o clube sempre perseguiu a construção de um estádio. “Nós chegamos a ter um estádio com arquibancada e tudo no terreno onde se encontra o CCAB, em Petrópolis. Mas tivemos de nos desfazer do imóvel, depois perseguimos o mesmo sonho em Morro Branco, não deu, mas ele voltou e se tornou realidade em Ponta Negra”, salienta. “Sabia que cedo ou tarde o nosso clube conseguiria montar sua casa própria e se estruturar para ser grande. Sempre nos organizamos neste sentido até que apareceu a figura de Judas Tadeu, um empreendedor, e com muita determinação conseguiu transformar o nosso sonho em realidade”.

Paiva Torres, atual vice-presidente de marketing e comunicação do clube, faz questão de ressaltar que todos os presidentes tiveram papel determinante para a construção do patrimônio abecedista, alertando que sem distinção todos os nomes possuem muita história para contar e experiências que não podem ser desprezadas. “Reunir pessoas que deixaram um legado imensurável para o clube e lembrar as alegrias que vivemos merece ser destacado. Nós, no ABC, sabemos o valor dessas pessoas que construíram um ABC forte, vitorioso, com uma marca respeitada no mundo”, comenta. “Nessa minha volta ao ABC, minha maior preocupação é fazer que os torcedores tenham ligação de afeto com o clube em si, não apenas como o futebol”, destaca.

José Wilson, que comandou o clube no início da década de 90, se preocupou em sanear as contas, tornar o ABC viável para o próximo administrador que, no caso, foi Leonardo Arruda. Entre alegrias e tristezas a história vai sendo escrita e José Wilson acredita que o passo fundamental para o clube permanecer ativo por mais cem anos já foi dado. “O futebol brasileiro de hoje exige um clube que tenha estrutura, quem não seguir essa cartilha está fadado a sumir, deixar de existir. O ABC conseguiu se modernizar e tem tudo para prosperar”, argumenta.

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