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História: O dia em que a “turma do morro” se enganou

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Para os dois clubes do RN que vão participar da Copa do Brasil 2008 – ABC e Baraúnas, a divulgação da tabela feita pela CBF trouxe duas novidades: o ABC pela primeira vez jogando contra o Madureira AC numa competição oficial, e o Baraúnas também pela primeira vez cruzando com o Crisciúma/SC, quer valendo pontos ou amistosamente.

Se Madureira x ABC é um jogo inédito em competição oficial, amistosamente já se enfrentaram mais de uma vez jogando no quase centenário estádio “Juvenal Lamartine”. Foi justamente na fase dos seguidos amistosos envolvendo pequenos clubes do Rio de Janeiro (na época ainda estado da Guanabara), que o torcedor natalense ficou mantendo contato quase permanente não somente com o Madureira AC, mas também outros clubes considerados pequenos do RJ, como  Bonsucesso, São Cristóvão e Olaria. Rara era o final ou começo  de  temporada do futebol brasileiro em que um  clube carioca não se apresentava no estadinho do Tirol.

Sistematicamente, fechavam contrato para duas partidas, sendo uma  no sábado à noite e as despedidas no domingo. Quando havia datas disponíveis no roteiro do visitante  e acontecia resultado surpreendente (geralmente, goleada) inventavam uma  revanche como pretexto para um terceiro jogo. Geralmente, o clube visitante reduzia pela metade a cota da partida. Passando em Natal pela primeira vez, o Madureira lotou o “Juvenal Lamartine” na estréia contra o ABC, e manteve o mesmo público nas despedidas de Natal, quando enfrentou o América FC. Curiosamente, os dois eternos rivais formavam parceria para que as temporadas pudessem ser concretizadas. Dificilmente aceitavam vir a Natal apenas para uma partida. As temporadas no rumo do Norte/Nordeste eram feitas por via marítima, os vôos eram raros e onerosos.

Foi no jogo ABC x Madureira que aconteceu um fato curiosíssimo. O time carioca havia reservado para a estréia o uniforme número um, que era de camisas brancas com frisos finos tricolores na manga, calção também branco. Seu adversário – o ABC, tinha apenas um padrão de camisa, que era toda branca, variando apenas a cor do calção. Para não ser deselegante com o visitante, até porque o clube promotor é quem tinha a obrigação de trocar o uniforme (hoje, ocorre o contrário), a solução foi utilizar as camisas da seleção de futebol do RN, tricolores com listras verticais.  

Nos anos 40 nem se sonhava ainda em radinho de pilha, de modo que, no alto do morro do Tirol que dá para o “Juvenal Lamartine” o torcedor dificilmente identificava uniforme e, muito menos, o jogador. Com as equipes prontas para a partida, o torcedor à distância tinha a certeza de que o time de camisa branca era o ABC, e o tricolor o Madureira. A primeira grande gaffe ocorreu na entrada dos times em campo, já que os torcedores resolveram saudar o time de branco com fogos de artifício.

Só, que, o espoucar dos foguetões foi para o Madureira. Pior foi na hora dos gols, já que a cada bola nas redes a torcida vibrava e soltava dois ou três foguetões. Como o Madureira ganhou por 9×1, ninguém conseguiu entender como o Madureira de repente ganhava tantos torcedores no alto do morro. Foram nove gols e nove “tiroteios” que  repercutiam por todo o bairro de Mãe Luíza saudando o balançar das redes contrárias. Só alguns minutos após o término da partida é que os torcedores abecedistas que estavam no morro, ao descerem foram informados de  que o placar de 9×1 tinha sido favorável ao Madureira, para frustração da galera.

O ABC sofria a mais contundente derrota no “JL” desde a inauguração do estadinho, em 1928. Para os mais velhos relembrarem, o ABC da goleada contou com Costa, Dedito e Gageiro, Harry, Zeleão e Carrapicho, Petronilo, Albano, Tidão, Jorginho e Geninho, jogando também Pageú, Albano, Morais e Tico. O técnico era Vicente Farache.

Quando chegaram a Natal os primeiros radinhos de pilha da marca “Spica” já não se usava mais ver futebol do alto do morro. A testemunha ocular desse jogo foi o hoje professor e advogado aposentado,  Aluízio Menezes, na época dando seus primeiros passos como torcedor no “JL” e, mais tarde, um  dos mais famosos narradores esportivos do rádio potiguar até o final dos anos sessenta.  

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