Rafael Plaisant
Deutsche Welle
Eindhoven – Quase uma semana após a queda do Boeing 777 da Malaysia Airlines na Ucrânia, os primeiros corpos das vítimas chegaram ontem à Holanda e foram recebidos pelo rei Willem-Alexander, pela rainha Máxima Zorreguieta e pelo primeiro-ministro Mark Rutte. Um minuto de silêncio foi feito em todo o país para homenagear os mortos. Dois aviões, trazendo 40 caixões a bordo, decolaram pela manhã de Carcóvia, na Ucrânia, e pousaram em Eindhoven. Mais de 1.300 pessoas, entre políticos, parentes das vítimas e representantes dos países dos passageiros do voo MH17, esperavam as aeronaves, que foram recebidas com honras militares.
Trens e ônibus pararam por um minuto no país inteiro, assim como funcionários de lojas e supermercados. O espaço aéreo holandês ficou fechado por 15 minutos. Por esse período, nenhum avião decolou ou pousou no aeroporto de Schiphol, de onde o Boeing 777 partiu com destino a Kuala Lumpur na última quinta-feira. Em seguida, sinos de igrejas em toda a Holanda tocaram quando as aeronaves que traziam os corpos tocaram a pista de pouso. Bandeiras dos 11 países que perderam cidadãos no desastre foram hasteadas no aeroporto.
#SAIBAMAIS#Soldados transportaram os caixões das aeronaves para os carros fúnebres, que, em carreata e observador por dezenas de milhares de pessoas ao longo do trajeto, seguiram para a base militar em Hilversum. O processo de identificação dos corpos, que contará com 75 legistas, pode durar meses.
A bordo do voo MH17, que foi abatido quando sobrevoava a área controlada por separatistas na Ucrânia, estavam 298 pessoas, entre elas 193 holandeses, 43 malaios, 28 australianos, além de dez britânicos e cidadãos de outras nacionalidades.
Até sexta-feira, todos os corpos recuperados devem ser trazidos para Holanda, segundo o governo holandês. Ainda não se sabe exatamente quantos mortos estão no local da tragédia. Na terça-feira, um trem com cinco vagões refrigerados chegou à Carcóvia com 200 corpos.
“Ainda é possível que muitos corpos estejam lá, a céu aberto no verão europeu, sujeitos a interferências e a estragos causados pelo calor e animais”, afirmou o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott.
Observadores internacionais afirmam que diversos restos mortais foram deixados no local do acidente. O governo ucraniano propôs que países que perderam cidadãos no acidente enviem policiais para proteger o local da tragédia e evitar manipulações.
O chanceler holandês, Frans Timmermans, e a chanceler australiana, Julie Bishop, viajarão juntos para a Ucrânia na quinta-feira para negociar a volta dos corpos e a investigação sobre o acidente. Autoridades holandesas estão conduzindo as investigações, que conta com a participação de outros países, como a Rússia.
Caixas-pretas
Após a intensa pressão internacional, os rebeldes na Ucrânia entregaram as caixas-pretas do avião para autoridades malaias. Elas foram enviadas na quarta-feira para o Reino Unido, onde serão analisadas. Especialistas holandeses já afirmaram que não encontraram evidências de que elas foram manipuladas. Os primeiros resultados devem ser divulgados na próxima semana. Mas a análise completa do material pode levar semanas.
A agência de investigação de acidentes aéreos do Reino Unido, que vai analisar o conteúdo das caixas-pretas, já iniciou o download das informações. O processo deve levar 24 horas para cada uma das caixas.
Conflito na Ucrânia pode levar Europa à estagnação
São Paulo (AE) – Um aprofundamento da crise na Ucrânia poderia interromper o processo de recuperação da economia europeia em 2015, segundo o professor especialista em conjuntura econômica internacional da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Paulo Feldmann. Para ele, esse risco existe, mas é baixo. “Uma crise de maiores proporções na Ucrânia afetaria o fornecimento de gás natural à Europa. Isso poderia fazer com que o crescimento econômico europeu, estimado em cerca de 1,5% no próximo ano, recuasse a zero”, disse Feldmann ao Broadcast. “Creio que haverá sensatez entre as parte envolvidas para evitar que isso aconteça.”
Em sua avaliação, os presidentes Vladimir Putin (Rússia) e Barack Obama (EUA), além das autoridades europeias, manterão o diálogo e encontrarão um meio de apaziguar a situação. “Mesmo com as sanções à Rússia, não creio que a crise se intensificará. Isso seria pior para todas as partes. Putin está tentando se mostrar um grande estadista e um aprofundamento desse conflito só prejudicaria sua imagem”, conclui Feldmann.