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Hollande é favorito no 2º turno

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André Lachini – Agência Estado

São Paulo – Quarenta e cinco milhões de franceses se preparam para ir às urnas em 22 de abril para eleger o 24º presidente da França. O cenário e as pesquisas, entretanto, indicam que a disputa será decidida somente no segundo turno, em 6 de maio, entre Nicolas Sarkozy, 57 anos, da União por um Movimento Popular (UMP), de centro-direita, e François Hollande, também de 57 anos e do Partido Socialista (PS), de centro-esquerda.
Sarkozy, que lidera pesquisas no primeiro turno, se apega a um discurso mais voltado para o interior
Embora as pesquisas mais recentes indiquem que Sarkozy lidera a intenção de voto para o primeiro turno, dentro da margem de erro, ele poderá ser derrotado no segundo turno por Hollande. O candidato socialista deverá contar com o apoio do provável terceiro colocado, Jean-Luc Mélenchon, da Front de Gauche (Frente de Esquerda), uma coalizão de partidos que vão da extrema esquerda à esquerda, incluindo o outrora poderoso Partido Comunista Francês. Nas últimas semanas, a extrema esquerda avançou na intenção de voto do eleitorado, assustado mais com a crise do que com os ataques, reais ou imaginários, de extremistas islâmicos dentro da França.

A pesquisa do Instituto Ipsos-Logica, feita em 6 e 7 de abril, confirma o empate entre Sarkozy e Hollande. O levantamento indica que para o primeiro turno Sarkozy tem 29% das intenções de voto, enquanto François Hollande tem 28,5%. No caso de um iminente segundo turno – quando nenhum candidato tem mais de 50% dos votos – Hollande teria 55% dos votos, ante 45% de Sarkozy, segundo a pesquisa. Na reta final, Sarkozy tentará atrair mais votos da extrema direita, uma tática que os cientistas políticos dizem ter dado certo, e atacar o rival nas promessas econômicas.

“Todos os institutos de pesquisas dão uma vantagem de oito a nove pontos porcentuais para Hollande sobre Sarkozy no segundo turno. Por isso, Sarkozy tentará radicalizar o discurso para atrair os votos da extrema direita”, prevê o professor de Relações Internacionais Walter Hupsel, da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. As pesquisas mostram que essa tática tem dado certo nas últimas semanas. A candidata Marine Le Pen, da Frente Nacional (extrema direita) parou de subir nas pesquisas, caiu e estacionou ao redor de 15% das intenções de voto, sendo ultrapassada em várias sondagens por Mélenchon, que atraiu as massas com um discurso populista.

Se Jean-Luc Mélenchon não estiver no segundo turno, o candidato deverá “pedir votos para bater Sarkozy. Ele (Sarkozy) não é uma onda, é um tsunami. Quando ele deixar o poder, após o segundo mandato, não sobrará nada. É claro que nos convém mais uma política de esquerda” disse Eric Coquerel, conselheiro de Mélenchon, ao jornal Le Monde em 9 de abril. Mesmo assim, Coquerel destacou as diferenças entre os programas de governo da Frente de Esquerda e o PS francês.

“Sarkozy subiu nas pesquisas porque tirou votos da extrema direita. Ele adotou o discurso de quando foi ministro do Interior de Jacques Chirac, de dureza contra os imigrantes. Ele conquista o voto da França do interior, católica e imobilista. Ele tirou votos da extrema direita”, avalia Leonardo Trevisan, professor de Economia na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo.

Frente de extrema direita perde votos

As pesquisas indicam que a candidata Marine Le Pen, da Frente Nacional (extrema direita), que até fevereiro subia nas pesquisas e alcançou 17% das intenções de voto, quase ameaçando Sarkozy, perde eleitores para o presidente. Leonardo Trevisan diz que na França a eleição no segundo turno é “sempre plebiscitária. A França escolhe entre direita e esquerda. Ou, como ocorreu em 2002, entre direita e extrema direita”, diz ele, lembrando a reeleição de Jacques Chirac, então candidato da UMP, contra Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, derrotado naquele ano pela centro-direita.

Em fevereiro deste ano, a França ficou apavorada com uma série de ataques a tiros disparados pelo extremista Mohammed Merah, de 23 anos, matando três paraquedistas em Montauban e Toulouse e depois um rabino de 30 anos e três crianças francesas de religião judaica, num ataque a uma escola judaica em Toulouse. Todos os três paraquedistas mortos eram de origem árabe e franco-muçulmanos. Merah foi morto pela polícia com 22 tiros na madrugada de 24 de fevereiro, após 32 horas de cerco policial ao seu apartamento, em Toulouse. Porém, nos dias seguintes, a informação de que Merah era conhecido e monitorado pela polícia francesa (versões apontam que ele poderia ser agente duplo do serviço secreto francês e da Al-Qaeda), gerou questionamentos entre os franceses e Sarkozy deslanchou uma repressão contra radicais islamitas, prendendo pelo menos dez. Logo depois, o assunto sumiu dos jornais. “O caso Mohammed Merah influenciou pouco no processo.

Economia depende da crise europeia

São Paulo – Analistas em política internacional concordam que as promessas tanto do presidente Nicolas Sarkozy, da União por um Movimento Popular (UMP), quanto do seu rival François Hollande, do Partido Socialista (PS), dependerão em grande parte do que acontecerá no resto da Europa até 16 de maio, quando o presidente francês assumir. Tanto Sarkozy quanto Hollande prometeram cortar dezenas de bilhões de euros no orçamento do governo francês para equilibrá-lo ao longo dos próximos anos, além de aumentar impostos. No caso de Hollande, há um agravante: o socialista aventou a hipótese de discutir o pacto europeu de austeridade fiscal, que limita o déficit público de cada país a 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

No dia 5 de abril, Sarkozy fez um discurso agressivo contra o rival e disse que Hollande destruirá a economia francesa “em dois dias” se for eleito. Hollande rebateu e afirmou que as propostas de Sarkozy “não são realistas”. Durante os quatro anos do governo de Sarkozy, a dívida pública francesa cresceu 600 bilhões de euros, informou o jornal La Tribune. No ano passado a dívida pública francesa atingiu 85,8% do PIB, atualmente em  2,1 trilhões de euros. Em janeiro deste ano, confirmou-se o golpe mais temido pelos governos europeus desde o início da crise na região: a França perdeu sua classificação triplo A (a nota máxima) na escala da agência Standard & Poor’s.

“A situação francesa também depende da evolução da crise na Grécia e na Espanha. Agora a Espanha é a bola da vez. A Grécia, que deverá ter eleições parlamentares em 6 de maio, também precisará dar uma direção clara de para onde vai, se continuará na zona do euro ou volta ao dracma”, diz o professor Walter Hupsel, de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. “As medidas emergenciais vão depender da evolução da crise na Grécia e na Espanha. Se a crise evoluir lentamente, a França terá mais tempo para agir com medidas mais racionais”, diz Hupsel.

“Os dois discursos, de Sarkozy e de Hollande, são irreais. Sarkozy afirma que cortará  40 bilhões no orçamento. Isso passa na Assembleia Nacional (Parlamento)? Não passa. Hollande propõe taxar quem ganha mais de um milhão de euros por ano em 75%. Isso também não passa na Assembleia, é irreal”, diz Leonardo Trevisan, professor de Economia no curso de Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo. Trevisan também alerta, como Hupsel, que a situação francesa está muito ligada à da Grécia e, em menor medida, à da Espanha. “Cerca de 65% da dívida grega estão com bancos franceses. O que o próximo governo grego, que será formado após 6 de maio, dirá sobre o acordo da reestruturação da dívida grega?” questiona Trevisan. “Já houve o calote grego organizado. Agora pode haver o desorganizado. Os gregos foram espertos, porque marcaram suas eleições para 6 de maio”, observa o professor.

Hollande prometeu taxar os mais ricos e fazer vários cortes, o que eleva o total da conta para equilibrar o orçamento a 54 bilhões. Esse plano será adotado não imediatamente, mas ao longo de um possível mandato de cinco anos do socialista, caso seja eleito. O ponto em comum é que ambos prometeram reduzir o déficit público da França a 3% do PIB em 2013, que é o teto estabelecido pela União Europeia para os países do bloco. O desafio é grande: em 2011, o governo francês fechou o ano com um déficit orçamentário de 5,2% do PIB. A meta vale para todos, mas a crise atual comprova que poucos levaram a sério esse limite nos últimos anos. Para cumprir essa meta, Sarkozy promete cortes de 40 bilhões no orçamento e arrecadar 13,5 bilhões de euros em novos impostos, a partir de maio de 2012.

Para aumentar a arrecadação, Hollande quer taxar em 75% os franceses que ganham mais de  1 milhão por ano, e em 45% os que ganham mais de  150 mil por ano. “Não é possível ter salários nesse patamar”, criticou. “Eu soube que executivos de empresas listadas no CAC 40 tiveram aumentos consideráveis, de  2 milhões ao ano em média. Como podemos aceitar isso?” questionou o candidato, fazendo referência às maiores empresas listadas no CAC 40, principal índice da Bolsa de Valores parisiense.

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