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Honras a Noilde Ramalho

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Daladier Pessoa Cunha Lima – reitor da Farn 

Menina-moça, Noilde Ramalho guardava o sonho de estudar na Escola Doméstica de Natal, a exemplo de algumas de suas primas. Em 1936, aos 16 anos, o sonho começa a se fazer real. De trem, ela sai de Nova Cruz, a caminho do futuro. A “maria-fumaça” puxa os poucos vagões, faz barulho e solta faísca, com a queima da lenha para esquentar a caldeira. Em São José de Mipibu, a máquina entra em pane e os passageiros precisam pernoitar na cidade. No dia seguinte, dona Lucilla deixa Noilde na Escola e se prepara para voltar com presteza, pois um telegrama dava conta de grave doença em outra filha, Anyole, que morava em Recife. Além das emoções por ingressar em um outro mundo, onde tudo era diferente do seu dia a dia até então vivido, a nova aluna da ED sofreu com a certeza da irmã doente, sob a dúvida pela falta de mais notícias. Anyole, linda moça, esbelta, pele alva, olhos expressivos, aos 22 anos viu-se prostrada pela tuberculose pulmonar. Quis voltar para Nova Cruz, e assim foi feito; teve de viajar de trem, não nos vagões de passageiros, pelo receio de contágio, mas em vagão reservado aos correios, em um espaço onde se levavam as cartas e as encomendas. O tempo passava e Noilde era sempre ótima aluna; conseguiu nota final 9.2, que consta em seu diploma, assinado por Henrique Castriciano, Juvenal Lamartine, Monsenhor Alves Landin, Onofre Lopes, Manoel Varela de Albuquerque e Varela Santiago. A tristeza pela doença de Anyole, quando da sua chegada à Escola, aumentou na época da formatura, privando-a de qualquer festividade, pelo luto familiar em virtude da morte da irmã.

A partir de 1940, Noilde Ramalho passou a integrar o quadro de professores da Escola Doméstica e, pouco a pouco, mostrava sua vocação para a causa educacional. Em 1945, Dr. Varela Santiago, presidente da Liga de Ensino do RN, convida a jovem professora para assumir a Direção da Escola. Desde então, todos os presidentes da Liga tiveram o bom senso de mantê-la na função. Neste ano de 2010, Noilde Ramalho, sob as bênçãos de Deus, completa noventa anos de idade, no dia 19 de julho, em pleno vigor físico, bem como completa sete décadas de inexcedíveis serviços prestados à educação do Estado e do país, sendo sessenta e cinco anos na Direção da modelar escola. Esse fato talvez seja um recorde mundial, acrescido de que não é somente o fator tempo, mas, sobretudo, ressaltam os grandes êxitos alcançados, frutos do zelo, da competência, da obstinação e do amor presentes em todos os instantes da longa jornada.

Em 2004, quando a ED celebrou noventa anos, foi lançado o livro biográfico “Noilde Ramalho – Uma História de Amor à Educação”, de minha autoria. Neste livro de 554 páginas, constam a genealogia, a infância, reminiscências, confissões, viagens, homenagens, além de outros temas relacionados à vida dessa figura humana singular. Do belo prefácio escrito pelo insigne jurista Paulo Bonavides: “Noilde é o exemplo que o Rio Grande adota e que a opinião pública aprova. (…) a notável educadora não pertence apenas ao Rio Grande do Norte, mas ao Brasil”.

Além do trabalho histórico de continuar a obra criada por Henrique Castriciano, a Escola Doméstica, Noilde Ramalho ampliou sua ação educativa com a criação do colégio HC, em 1987, e da FARN, em 1999, que formam um complexo de ensino com cerca de sete mil alunos. Dessa faculdade, ela é a chanceler e grande incentivadora, ao lado do atual presidente da Liga de Ensino do RN, Dr. Manoel de Medeiros Brito. Elegante, simples, culta, altiva, sensível, mantém uma beleza que o tempo não consegue desfazer, pois nasce no íntimo da sua alma. O Cardeal Eugênio Sales escreveu: “Há pessoas, como Noilde Ramalho, que avançam em idade e em virtudes”. Incansável, mantém o trabalho diário, com o mesmo amor de sete décadas atrás. O escritor e jornalista Woden Madruga, em discurso no Tribunal de Contas do Estado, resumiu o sentimento de todos que conhecem essa admirável mulher: “Dona Noilde, a senhora é uma graça de Deus”.

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