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Hospital do Coração abre núcleo de pesquisa em São Paulo

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HOSPITAL - HCor quer ir além do conceito de que hospital bom é o que tem equipamentos modernosSão Paulo (AE) – O Hospital do Coração (HCor) inaugura neste sábado uma extensão de sua sede, no bairro do Paraíso, em São Paulo. No lugar de leitos e consultórios, o 11º e o 12º andar do prédio vão abrigar computadores, baias de escritório e prateleiras de livros do mais recente investimento da instituição: um centro de ensino e pesquisa.

Seguindo uma tendência internacional, capitaneada por países como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, hospitais privados brasileiros investem em produção científica, abrindo núcleos próprios e conveniando-se a importantes centros mundiais de saúde. “Antes, foi a era do tomógrafo e dos equipamentos. Hoje, hospital bom é o que gera conhecimento”, diz Otávio Berwanger, diretor do instituto do HCor, especializado em pesquisas clínicas – para o desenvolvimento de medicamentos e protocolos. “Com essa estrutura, vamos ter capacidade para coordenar projetos internacionais.”

Dois já estão em andamento, em parceria com uma universidade canadense – um sobre um anticoagulante para pacientes de UTI e outro sobre procedimentos para prevenir problemas cardíacos em cirurgias. Há três meses, a Beneficência Portuguesa também decidiu reunir pesquisas isoladas do corpo clínico estruturando seu próprio instituto, que deve ser inaugurado em abril. Atualmente, 12 estudos são realizados em convênio com entidades de dez países.

No primeiro semestre, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz abriu as portas de seu Instituto de Ciências, com orçamento de R$ 5 milhões para estudos em terapias celulares, capacidade individual de resposta a tratamentos e imunologia de tumores. Mais de 30 projetos estão em análise, inclusive testes de medicamentos em parceria com a indústria farmacêutica. “Com esse aporte inicial, esperamos alavancar parcerias que potencializem o investimento”, diz o diretor-superintendente, José Henrique do Prado Fay. Simpósios, reuniões científicas, cursos de educação continuada e até lato sensu fazem parte do programa.

Outras instituições tradicionais, como o Israelita Albert Einstein e o Sírio-Libanês, em São Paulo, e o Moinhos de Vento, em Porto Alegre, entraram no ramo há mais tempo. “O hospital não é mais o lugar onde você só vem para ser internado. Vai cuidar do paciente desde a prevenção até a internação”, afirma Roberto Padilha, do núcleo de estudos do Sírio. Com um orçamento de R$ 1 milhão, fora financiamentos de agências de fomento, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Instituto de Ensino e Pesquisa do Sírio existe formalmente desde 2003 e tem atualmente 41 protocolos em curso, além de grupos de pesquisa em neurociência, dor, trombose, células-tronco e cardiologia.

De um modo geral, os hospitais já têm algum tipo de pesquisa desenvolvido isoladamente em reuniões científicas ou pequenos grupos. Mas formalizar a estrutura abre portas para financiamentos e parcerias acadêmicas importantes. Foi esse movimento que cresceu nos últimos cinco anos. Alguns centros desenvolvem pesquisa de base, laboratorial, como o Albert Einstein. Mas a maioria se concentra em pesquisa clínica, que investiga a eficácia de medicamentos e protocolos médicos.

“Na curva de evolução da criação dos comitês de pesquisa, fica claro o investimento do setor privado nos últimos cinco anos”, diz a coordenadora da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), ligada ao Ministério da Saúde, Gyselle Tannous. Segundo ela, dos 565 comitês de ética e pesquisa existentes hoje no País, cerca de 50% foram criados por entidades particulares – a maioria a partir de 2002. “Investir em pesquisa leva à sistematização da rotina médica e, conseqüentemente, a melhores resultados”, afirma Ricardo Brentani, diretor-presidente da Fapesp e diretor-presidente do Hospital A.C. Camargo, o Hospital do Câncer, instituição pioneira na associação entre ensino e pesquisa e atendimento, referência na América Latina.

Uma pesquisa da Universidade de Alabama  com 4,3 mil hospitais divididos entre assistenciais, com algum tipo de ensino e pesquisa e outros com centros estruturados, revelou que a prescrição de medicamentos com benefício comprovado é entre 20% e 25% maior nos que investem em ciência.

Capital paulista perde 555 médicos em três anos

São Paulo (AE) – A cidade de São Paulo perdeu 555 médicos de seus postos de saúde nos últimos três anos – e até agora a prefeitura não conseguiu fazer uma reposição desses profissionais. Foi aberta uma contratação para cerca de 700 vagas, mas apenas 70 interessados se inscreveram. Atualmente a rede de postos tem 3.982 médicos trabalhando. O quadro de déficit foi apresentado na semana passada pela coordenadora de Atenção Básica da Secretaria Municipal da Saúde, Edjane Torreão, durante o evento “As Unidades de Assistência Médica e Ambulatorial – AMAS no Sistema Público de Saúde”, organizado pela Faculdade de Saúde Pública da USP.

O debate tratou de uma novidade que há dois anos foi acoplada aos postos de saúde, as AMAs, para o pronto-atendimento de casos simples, como dor de garganta, e desafogamento da porta de entrada dos prontos-socorros e dos próprios postos de saúde, que fazem o atendimento de rotina (pré-natal, por exemplo).

Segundo Edjane, no entanto, o déficit de médicos nos postos não teria prejudicado a população porque não houve redução do número de consultas ofertadas. “Conseguimos isso otimizando o trabalho”, afirmou. Mais tarde a Secretaria Municipal da Saúde informou que a otimização mencionada referia-se à cobrança do cumprimento da jornada de trabalho, entre outras medidas.

O representante das entidades médicas no Conselho Municipal de Saúde, José Erivalder de Oliveira, diz que o déficit crônico de médicos na cidade deve-se principalmente à ausência de um plano de carreira, além dos baixos salários, falta de segurança e de condições adequadas de trabalho nas unidades. “Temos discutido a necessidade de melhorar o financiamento da saúde em todas as esferas. A saída é um plano de cargos e salários, uma carreira de Estado, e condições de trabalho”. Segundo a secretaria, os salários-base variam hoje entre R$ 1.900 a 3.000, mas podem chegar a R$ 8.000 se o profissional cumprir plantões extras.

Durante o evento, especialistas apontaram falta de transparência no modelos das AMAs e riscos para o poder público. Hoje já há 51 dessas unidades instaladas na cidade. Para Maria Sylvia Di Pietro, professora titular de Direito Administrativo da USP, não é justificável a ausência de uma lei para respaldar os convênios feitos com entidades sem fins lucrativos que administram as AMAs e contratam seus funcionários. “Não há ordenamento jurídico, faltou transparência, fica uma coisa às ocultas”. Já o juiz federal Silvio Luis da Rocha, que também reclamou da falta de conhecimento do respaldo legal das AMAs, alertou que as entidades, para poder participar do modelo, deveriam também investir recursos próprios na saúde municipal.

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