Desenvolver um equipamento de baixo custo capaz de auxiliar o diagnóstico da dislexia. Esse é o objetivo do grupo de pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), da Universidade Federal do Rio Grande (UFRN).
O problema que atinge de 5% a 10% da população mundial em idade escolar é de difícil avaliação, porque afeta partes diferentes do cérebro e tem características diversas em cada paciente. A análise deve, portanto, ser realizada por uma equipe multiprofissional formada por neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos.
Pensando na importância de um diagnóstico precoce e correto, o professor do Departamento de Engenharia Biomédica Danilo Alves Pinto Nagem começou a estudar a questão no ano de 2011. A equipe coordenada pelo professor Nagem é formada pelas fonoaudiólogas Sheila Andreoli Balen e Michele Soltosky Peres e pelo mestrando em Engenharia Mecânica Alessandro Marinho de Albuquerque.
O foco do grupo é desenvolver um equipamento de fácil manipulação que vai custar 90% menos do que os utilizados atualmente. “Queremos ajudar a diagnosticar o maior número possível de pessoas que sofrem com a dislexia. O primeiro passo para massificar o exame é baratear o custo”, enfatiza Nagem.
Enquanto os métodos atuais ficam na faixa de U$ 50 mil, o que está sendo desenvolvido pela equipe deve custar dez vezes menos: em torno de U$ 5 mil. O sistema vai monitorar principalmente a posição do olho durante a leitura de textos, já que disléxicos possuem um padrão de movimentação ocular diferenciado.
O mestrando Alessandro Marinho está finalizando, o desenvolvimento do software que irá avaliar a posição do rosto, do olho e da íris durante o exame. O programa vai ser finalizado no mês de junho. “Com a conclusão do software, podemos começar a realizar testes que serão avaliados pelas fonoaudiólogas e por outros profissionais de saúde”, diz.
Como a dislexia envolve os sistemas auditivo e visual, o equipamento deve incluir microfones para gravar a leitura de textos. “Esses dois sistemas se integram. Há disléxicos visuais, fonológicos e mistos, por isso precisamos analisar várias vertentes”, esclarece a fonoaudióloga Michele Soltosky.
Com a finalização do programa, o foco será na estruturação de um hardware simples e barato. O coordenador Nagem explica que pretende desenvolver um sistema que possa ser utilizado com qualquer câmera, o que vai garantir o baixo custo do projeto. “A ideia é que o aparelho possa ser colocado dentro de uma van para sair pelas escolas fazendo testes com alunos e auxiliando o diagnóstico da dislexia”, afirma.
A equipe ressalta que o aparelho vai facilitar o diagnóstico da dislexia fornecendo dados que deverão ser analisados por profissionais da área de saúde. “É uma forma de auxiliar a detecção do problema, mas, por se tratar de uma doença complexa, o equipamento não pode ser utilizado isoladamente”, adverte Nagem.
A previsão de é que o sistema de triagem esteja pronto para utilização em até dois anos. “É uma iniciativa muito importante. Qualquer pessoa que tenha dislexia precisa saber que é capaz. Ela apenas tem uma dificuldade que pode ser tratada”, enfatiza a fonoaudióloga Sheila Balen.