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Dácio Galvão [ [email protected] ]

Idealizar cidades não é possibilidade remota. A vida contemporânea ativa o olhar no passado arqueológico mais longínquo. Sensibiliza o presente e projeta inclusive o futuro. Na Turquia, em Capadócia, as cidades subterrâneas as casas-cavernas que não limitaram espécies primitivas abrigam habitantes na modernidade. Geram divisas circulação de capital sendo forte fonte de vendas para interessantes pacotes turísticos. Noutra ponta o aquecimento high-tech. Cidades-casas absorvendo automatização de iluminação temperatura sonorização câmera de segurança irrigação televisão água energia… Tudo controlado à distância. Numa origem: a necessidade. Na outra: o consumo pelo consumo.

 E aí tudo se desmancha no ar. A roda do capital tem que girar. Construir uma cidade é podermos dizer, num aporte de Décio Pignatari, em seu livro “Semiótica da Arte e Arquitetura”, conceituando paradigmas (casas, digo eu) e sintagmas (cidades, idem) é articular “cor, textura alta e baixa definição (geometria e topologia) formal e informal, transparências e opacidades, ou translucidez, combinações de passagem (uma linha pontilhada, por exemplo)”.

Esses modos essas vias esses atalhos se desenvolvem do tecido social se manifestando humanamente num emaranhado geracional e vão propagando, “…vão qualificando as articulações básicas vão propiciando pele, carne, ossos, nervos, sensibilidade e inteligência ao sistema…”. A atitude do homem diante do desafio-vida de acolher a si de se abrigar transitar em momentos diferenciados da sua história civilizatória variando regimes de sobrevivências o leva a construir. Navegar em sistemas díspares (do nômade caçador e coletor ao científico neoliberal) e edificar a moradia socialmente. Na primeira colocação nas casas-cavernas:a necessidade o pensamento. Na última posição, contemporânea: “…de modo a constituírem a escritura do ambiente urbano que do pensamento, da imaginação ou da prancheta saltam para realidade espacial e histórica, reciclando-se incessantemente de retorno à prancheta, à imaginação, ao pensamento.” 

É o arremate de Pignatari. Decerto, reconstituir uma cidade é também legitimá-la através dos seus signos codificados paisagisticamente. Arquiteturas fotografias desenhos croquis plantas textos documentais ou literários. E é diante do álbum-livro “Natal Foto-Gráfico do Passado ao Presente 1609-2004”, de João Maurício Fernandes de Miranda, numa pesquisa de fôlego confrontando o passado e o presente de bens tangíveis e intangíveis que vamos nos deparar com o legado de intervenções destruições e construções de Natal. Estribado no acervo fotográfico do escritor Manuel Dantas autor da conferência futurista “NATAL DAQUI A CINCOENTA ANOS”, em 1909, João Maurício, com sensibilidade, utilizou metodologia simples e direta. Montou sua pesquisa na ênfase fotográfica documentando o que pode. Faz anotações e observa a dinâmica de modificações do que foi e o que permanece na malha urbana. Alterado ou inalterado. Total ou parcialmente. Abre generoso espaço reconhecendo a intelectualidade múltipla de Manuel Dantas.

Focos foram distribuídos em vinte e oito capítulos. Praças: André de Albuquerque, das Laranjeiras, 7 de Setembro, Pedro Velho. Largo: do Rosário. Ruas: Dr. Barata, Princesa Isabel, João Pessoa, Ferrreira Chaves, Almino Afonso, Seridó, da Palha, do Comércio, Chile, Potengi, Frei Miguelinho.  Avenidas: Tavares de Lira, Deodoro, Junqueira Aires, Nilo Peçanha, Câmara Cascudo. Beco da Quarentena. Oitizeiro e Canal do Baldo. Ponta do Morcego. Praias: da Montagem e Do Meio. Bairros: Alecrim, Limpa, Santos Reis. Rio: o Potengi. O último capítulo é dedicado a “Arquitetos e planos”: Antônio Polidrelli criador dos planos dos bairros de Tirol e Petrópolis em 1901 e trabalhou o Master Plan da cidade de Natal até 1904. Herculano Ramos (1854-1928) projetou e executou o Teatro Alberto Maranhão. Miguel Micussi (1872-1926) italiano, fez o projeto da Prefeitura Municipal de Natal. Giacomo Palumbo (1891-1966) grego nascido em Tebas, nacionalizado italiano projetou em Natal o Plano Geral de Sistematização Urbana conhecido como “Plano Palumbo”.

Escritório Saturnino de Brito realizou o Plano Geral de Obras compreendendo o Grande Hotel. Moacy Gomes da Costa autor do projeto da Faculdade de Odontologia da UFRN, a sede do DER/RN, Ginásio Poliesportivo Nélio Dias na Zona Norte de Natal. Daniel Geraldo Gomes de Hollanda autor do projeto da sede da Associação Comercial do Rio Grande do Norte. As legendas das fotografias trazem notas explicativas prospecções históricas toponímicas. E até filológicas como no caso da Ponta do Morcego. Créditos de fotos impressas: Bruno Bougard, João Galvão, Francisco Alves, Iran Seabra, Jaeci, Esdras Nobre, Jayme Seixas, Moraes Neto, João Maria Alves, Jorge Mário… De textos referenciados: Lauro Pinto, Câmara Cascudo, Cláudio Galvão, Meira Pires, Omar O’Grady, Manuel Dantas… Consta ainda a maquete de restauração e adaptação do prédio da Capitania dos Portos e a “Justificativa” para o projeto da Capitania das Artes elaborada por Miranda. Curiosa é uma fotografia cedida pelo arquiteto Daniel Holanda registrando o engenheiro Gentil Ferreira de Souza, de terno e gravata e o construtor Joaquim Victor de Holanda ambos acocorados fazendo teste de resistência de solo, em 1937.

Os cartões postais assumem importante papel de memória se destacando a coleção do Dr. Valério Cavalcanti. É possível flagrar subliminarmente lampiões hidroaviões trajes de época água transportada em lombos de jumentos cavalo selado luminárias sinalizações semafóricas verticais e horizontais. Não fica ao largo a boca de cena do Teatro Carlos Gomes que em 1957 passou a se chamar Teatro Alberto Maranhão. Foi pintada pelo arquiteto Erculano Ramos ufanizando personagens de óperas do patrono. A abrangência de quatro séculos significa um espaço-tempo significativo. Não nos parece ter sido intenção de Maurício esgotar o assunto. Foi fazendo o lhe foi possível. Passados vinte e cinco anos depois da primeira edição amplia e revisa o processo de urbanização da cidade gerando material farto que interessa ao estudo multidisciplinar. Na realidade a história se faz aqui nesse álbum-livro de imagens e imagens que falam provocam iconizam o povo potiguar.

O autor agradece as narrativas do pai João Virgilio de Miranda, Ao Dr. Helio Galvão pela disponibilidade das informações de seu arquivo e D. Ivete Palumbo por cessão de fotos e dados biográficos do seu pai Giacomo Palumbo e ao acesso reprodutivo dos postais de Cavalcanti. Paginando até o final a sensação é que os prédios as casas os acessos de mobilidade estariam para o corpo assim como esse abriga a alma. Ou seja, aqui ou na Capadócia são imprescindíveis em circunstâncias dispares testemunhos materiais de um  povo que habitae inventa uma cidade. Um dado território cidade-natal. Cidade-tutano vísceras artérias cidade-sensória. É ver e ler a remessa de campos e espaços. É Natal.

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