quinta-feira, 28 de março, 2024
27.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

Idec pede proibição de hormônios

- Publicidade -

TEMOR - Produto usado para aumentar produção de leite pode causar mal à saúde humanaSão Paulo (AE) – O Idec, uma das principais entidades de defesa do consumidor, enviou cartas ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na semana passada pedindo que o hormônio do leite seja proibido no país. O produto é aplicado nas vacas para aumentar a produção de leite. Segundo o Idec, há indícios de que pode causar danos à saúde humana. Ainda não existe, porém, nada conclusivo a respeito.

O produto em questão é a somatotropina bovina recombinante (rBST, na sigla em inglês), uma espécie de anabolizante dado às vacas para aumentar em 20% a produção de leite. A versão biológica desse hormônio é produzido naturalmente pelos próprios animais, mas em quantidades pequenas.

Na correspondência enviada ao governo, o Idec cita um estudo publicado em maio deste ano pela revista médica “The Journal of Reproductive Medicine”, que afirma que mulheres que comem produtos derivados do leite regularmente têm cinco vezes mais chances de ter filhos gêmeos. Suspeita-se que o potencial aumentado seja provocado pelo hormônio do leite.

O produto faz com que a vaca produza mais IGF, um hormônio que estimula a lactação e a ovulação. As mulheres que participaram do estudo em questão também tinham mais IGF no organismo.

Ainda de acordo com o Idec, o fato de as vacas produzirem mais leite leva a um aumento do risco de mastite (inflamação das mamas), o que exigiria tratamentos com antibiótico. Isso pode fazer com que resíduos da droga fiquem no leite que será consumido. O Idec destaca que ainda não se conhecem claramente os efeitos do hormônio do leite sobre a saúde humana.

“Há dúvidas em todo o mundo a respeito dos efeitos sobre a saúde das vacas e sobre a saúde das pessoas. Diante de tantos questionamentos, o ideal seria que não utilizássemos esse produto”, afirma o sanitarista e consultor técnico do Idec Sezifredo Paz.

Com a mesma preocupação, a Câmara dos Deputados, por meio da Comissão de Meio Ambiente, pretende realizar uma audiência pública ainda neste ano sobre a suposta ameaça do produto à saúde humana.

Os questionamentos são semelhantes aos que existem em relação aos organismos geneticamente modificados. No entanto, em uma década de consumo no mundo, não existe registro de malefício dos transgênicos à saúde humana.

Coincidentemente, o hormônio do leite foi desenvolvido pela multinacional americana Monsanto, a gigante dos transgênicos. No Brasil, é comercializado pela Elanco e pela Schering-Plough. O hormônio surgiu de um organismo geneticamente modificado, mas não é, em si, um produto transgênico. Por isso, no País, não precisa passar pela aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

As duas empresas que vendem o hormônio no Brasil dizem que ele não provoca danos à saúde humana porque as mudanças ocorrem apenas no organismo da vaca, e o leite se mantém inalterado. O Ministério da Agricultura, que renovou neste ano a licença de comercialização do hormônio, concorda.

Funcionários do ministério dizem que, até o momento, não receberam nenhum estudo conclusivo contra o produto, o que bastaria para que ele deixasse de ser vendido no Brasil. “Se houvesse dúvidas quanto à eficácia e à segurança, não teríamos renovado o registro”, afirmou um dos funcionários.

Nos Estados Unidos, estima-se que 30% do gado leiteiro seja tratado com o hormônio do leite. A Elanco e a Schering-Plough não divulgaram dados sobre a quantidade de doses vendidas no Brasil. A Leite Brasil, entidade que reúne os produtores, também não tem estimativas.

“A maioria dos produtores não usa. Não tem havido um uso muito extensivo. Mas não é pelo fato de que poderia fazer mal. É pelo fato de que é caro”, afirma o presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez. “Ele é utilizado principalmente pelos grandes produtores de leite. Para os pequenos e médios, não é viável economicamente.”

O presidente do Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite, João Walter Dürr, também diz que não há “evidências conclusivas”. “Existem muitas coisas mais importantes com que deveríamos nos preocupar. Uma delas é a questão sanitária. Precisamos nos preocupar mais com a higiene do produto no País.” De acordo com Dürr, um simpósio nacional sobre qualidade do leite será realizado na semana que vem, em Goiânia. “A somatotropina não estará em discussão.”

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas