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Imortalizando a ginga com tapioca

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Tádzio França
repórter do FDS

A ginga com tapioca já ultrapassou as fronteiras da praia da Redinha, onde nasceu há cerca de 60 anos. É a prova de sua popularidade entre os paladares natalenses. Só falta um reconhecimento oficial da importância desse sabor. Uma petição criada há pouco tempo na Internet está convocando os apreciadores da iguaria a promover o prato a Patrimônio Imaterial do RN. Mas, com ou sem abaixo-assinado, a ginga com tapioca já foi eleita como petisco praieiro favorito no paladar de muitos potiguares e turistas.
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A comerciante e cozinheira Ivanize Barbosa seria uma personagem essencial no registro (correspondente ao “tombamento” material) da ginga com tapioca como patrimônio imaterial: os pais dela criaram e disseminaram a iguaria, meio século atrás. “Essa história do patrimônio imaterial não é de hoje, já ouvi muito. Eu espero que aconteça, pois seria mais do que justo”, afirma ela, ressaltando que na semana passada recebeu uma equipe de jornalistas de São Paulo para fazer matéria sobre o prato que é “a cara” de Natal, uma das cidades sede da Copa do Mundo.

Ivanize fala com propriedade sobre a iguaria. O pai Geraldo e a mãe Dalila tiveram a ideia de criar um prato a partir daqueles peixinhos minúsculos que os demais comerciantes da área ignoravam. A ginga é um tipo de sardinha, chamada de ‘azul’ ou ‘manteiga’. A receita dos pais de Ivanize é simples e genial: temperar os peixinhos com sal, fritá-los numa mistura de óleo de soja com azeite de dendê, espetá-los num palitinho e rechear a tapioca (em goma de mandioca e coco) com eles. A combinação agradou em cheio e, alguns anos depois, tomou conta da Redinha e de todos que frequentavam a praia de lá.

Hoje tem ginga com tapioca nas duas margens do rio Potengi. Ivanize afirma que nem todas têm a qualidade original da Redinha. “Já comi ginga num shopping. Uma tapioca com três sardinhas a R$15. Achei até graça. Muita gente faz, mas não tem a qualidade da nossa, que é feita na hora, no dendê, com o peixe fesquinho…”, diz. No Box 3, que Ivanize divide com a filha Sandra no Mercado da Redinha, uma porção sai a R$5, recheada de seis a oito gingas, em média. A cozinheira ressalta que o bar vem recebendo ainda mais turistas desde que foi destacado na revista Veja Natal. O “tombamento” da ginga seria um tempero a mais nessa popularidade.

Ginga no Benditas
No ‘outro lado do rio’, a ginga com tapioca se destaca entre vários cardápios diferentes. No boteco descolado Benditas, Petrópolis, a Terça do Mar é o dia da ginga. A iguaria se destaca entre outros petiscos do mar. Uma porção sai a R$7. “Lançamos essa terça há quatro meses, e é um sucesso. Colocamos pratos que não estão no cardápio diário. A ginga é um dos mais pedidos, e muita gente vem só pra comer isso”, afirma a proprietária Márcia Barcellos.

Um bistrô com ginga aos sábados
O Jardins Café Gourmet, em Petrópolis, dedica um sábado por mês à ginga com tapioca. “É o dia mais aguardado da nossa programação. Quando termina, as pessoas já perguntam quando é a próxima. Comer ginga com tapioca perto de casa é ainda mais gostoso”, diz a proprietária Maria Tereza Cavalcanti. O prato sai a R$6, numa porção com dez gingas. Para acompanhar, uma cerveja bem gelada, de preferência. “Há também a questão da lei seca. Não dá pra ir à Redinha e não beber uma cerveja pra acompanhar”, ressalta. O próximo sábado da ginga será no próximo dia 26 de abril.

Ginga de chef
O chef Daniel Cavalcanti, do Cascudo Bistrô, homenageou o símbolo da Redinha com uma versão gourmet do prato: o gingão com tapioca troca os peixinhos por uma posta de peixe branco alto, frita na farinha de mandioca, servida com a tapioca junto com uma salada e macaxeira cremosa frita. Passou de petiscos a prato principal. “É o prato emblemático de Natal, e a minha versão teve uma ótima aceitação entre a clientela do bistrô”, comenta. O gingão do chef Daniel também figura no livro “Temperos do Brasil”, da escritora Cecília Gianetti, que reuniu receitas regionais de 19 estados do Brasil. O RN foi representado por este prato.

Tapiocaria da Vó em Ponta Negra
De Redinha à Ponta Negra: a ginga virou carro-chefe no restaurante Tapioca da Vó, cardápio mais tradicional da Vila de Ponta Negra. “Meus amigos sempre agradecem por estar economizando a gasolina da ida à Redinha”, brinca o proprietário Joka Lima. O prato da vila é um pouco diferente do original: a tapioca é toda recheada com cerca de dez gingas, sem o espetinho. “A nossa tapioca também é maior que a da Redinha”, ressalta Joka. Ele destaca que só trabalha com sardinha azul fornecida diretamente pelos pescadores de arrastão de Ponta Negra. O preço é igual ao da Redinha, R$5. Outra diferença, é que a maioria da clientela prefere acompanhar o prato com café, e não com a tradicional cerveja da praia. “A ginga aqui é um prato para jantar”, completa.

Canto do Mangue tem
Uma das gingas com tapioca mais famosas de Natal fora da Redinha está no Canto do Mangue. A Barraca do Pernambuco, do comerciante Edson Machado, é point para quem está à margem esquerda do Potengi. O prato sai com oito peixes no espeto, fritos no dendê. O seu Pernambuco conta que conhece a receita desde a década de 60, e não teve problema em trabalhar com ele: “Sempre fui acostumado a servir tudo com tapioca”, disse.

Histórica
Hélio Oliveira, diretor do departamento de patrimônio cultural do Município, acredita que o tombamento/registro da ginga como patrimônio imaterial tem muito potencial à nível local. “A justificativa histórica precisa ser muito embasada. O processo pode partir de qualquer cidadão interessado, mas é algo lento, exige muito estudo e paciência”, conclui.


ONDE COMER

*Bar da Sandra e Ivanize Box 3, Mercado da Redinha. Tel.: 8849-3794/9915-2409.
*Benditas Buteco, Petrópolis. Tel.: 3346-3117.
*Jardins Café Gourmet, Petrópolis. Tel.: 2020-4709/9413-3300.
*Tapiocaria da Vó, Vila de Ponta Negra. Tel.: 8722-7570.
*Cascudo Bistrô, Praça das Flores, Petrópolis. Tel.: 3202-1005.


O QUE

Petição publicada recentemente na internet sugere o registro de ‘bem imaterial’ para a iguaria típica do RN. A receita criada por pescadores da Redinha é simples e saborosa: temperar os peixinhos (espécie de sardinha tipo ‘manteiga’ ou ‘azul’) com sal, fritá-los numa mistura de óleo de soja com um pouco de azeite de dendê, espetá-los num palitinho e rechear a tapioca (em goma de mandioca e coco)

Clique aqui e assine a petição pública

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