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Impactos ambientais da covid-19

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Douglas McIntosh
Professor na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

A pandemia COVID-19 testou e continua testando a resiliência da humanidade e do planeta em que vivemos. As pessoas foram forçadas a lutar contra um inimigo invisível, que causou centenas de milhões de hospitalizações, mais de 5 milhões de mortes e que levou à produção de mais de 8,4 milhões de toneladas de resíduos plásticos em excesso.

A maior parte desse lixo foi gerada por hospitais que lutavam para salvar a vida de seus pacientes. E era composta por materiais, incluindo máscaras cirúrgicas, luvas descartáveis, componentes dos kits de teste COVID-19, seringas, material de embalagem, produtos de higiene, garrafas de água, pratos e talheres descartáveis e até escovas de dente.

Grande parte desse descarte foi enterrada em aterros. Uma pequena porção foi incinerada, e quase 25 mil toneladas foram lançadas nos oceanos do mundo, sendo mais de 12 mil toneladas na forma de microplásticos (fragmentos de menos de 5 milímetros).

Embora mais difícil de observar do que a contaminação visível de rios e praias com máscaras cirúrgicas ou garrafas plásticas, a poluição dos ambientes marinhos com microplásticos é considerada uma das crises ambientais mais críticas do século XXI. O tema foi abordado durante a XI Reunião Anual do ILSI Brasil (International Life Sciences Institute do Brasil). Essas partículas, aparentemente inofensivas, estão gradualmente, mas continuamente, se acumulando e persistindo nas águas superficiais dos oceanos. Há um debate importante sobre a ameaça potencial que representam para a saúde humana, animal e ambiental. Tem se tornado cada vez mais claro que estes poluentes estão entrando nas numerosas teias alimentares que sustentam a vida no planeta, e que podem retornar dos mares aos ambientes terrestres através do processo de aerossolização, resultando em contaminação atmosférica que pode viajar longas distâncias no vento.

Verificou-se que os microplásticos se associam fortemente a outros poluentes ambientais, como antibióticos e metais pesados. A colonização subsequente de microplásticos contaminados com antibióticos por bactérias resulta na formação de comunidades microbianas, conhecidas como biofilmes, que servem como “hot-spots” para a troca de material genético, incluindo genes associados à resistência a antibióticos, entre as diferentes espécies que habitam esses “condomínios” microbianos.

Essas comunidades de bactérias resistentes a antibióticos são rotineiramente ingeridas por animais marinhos, incluindo peixes e crustáceos, que podem ser consumidos por humanos, mamíferos marinhos e aves, resultando na disseminação dos genes de resistência antimicrobiana e contribuindo para a pandemia global de resistência antimicrobiana que se prevê que resulte em mais de 10 milhões de mortes anualmente até 2050.

A humanidade também contaminou o planeta com o vírus SARS-CoV-2 por meio de fezes produzidas por humanos infectados (sintomática e assintomaticamente). Felizmente, apesar de liberar grandes quantidades de partículas virais em praticamente todos os rios do planeta, até agora não houve nenhuma evidência convincente da transmissão fecal-oral do vírus entre humanos ou para outras espécies animais. Em contraste, vários países relataram casos de visons de criação, durante 2020, infectados diretamente por humanos, por via respiratória, e, posteriormente, foram mostrados como uma fonte de novas infecções humanas.

O estudo do SARS-Cov-2 e COVID-19 representou um desafio para cientistas que lidam com pacientes infectados, para cientistas que buscam a origem do vírus e/ou procuram exemplos de infecção em animais direta ou indiretamente por humanos e para os cientistas que procuraram revelar os impactos óbvios e ocultos da resposta humana à pandemia no planeta. No entanto, embora seja possível estudar cada um desses aspectos isoladamente, é claro que, para entender completamente como essa pandemia aconteceu e o que seus impactos significarão para o planeta a longo prazo, a humanidade deve abordar esse fenômeno usando o conceito de uma Saúde Única, em que a saúde humana, animal e ambiental podem e devem ser vistas como representantes de componentes indivisíveis do mesmo sistema interconectado que chamamos de Terra.

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