segunda-feira, 13 de maio, 2024
31.1 C
Natal
segunda-feira, 13 de maio, 2024

Incidentes de viagem

- Publicidade -

Ivan Maciel de Andrade – Advogado

Andávamos por uma rua de Barcelona de especial interesse turístico. O movimento era tão grande que caminhávamos devagar e, de vez em quando, não conseguíamos evitar os encontrões. Num trecho mais congestionado, fui inesperadamente testemunha de um assalto: um rapaz que se destacava pela altura e pelo porte atlético arrancou a bolsa de uma mulher com aspecto de inglesa e saiu correndo, com a maior facilidade, em meio à multidão. Observei que ele foi imediatamente perseguido por uma jovem, meio baixinha e esguia, mas que demonstrava uma disposição e um ímpeto de campeã olímpica de velocidade. Fiquei com receio de que a moça conseguisse alcançar o assaltante e fosse vítima de alguma grave violência, tal a desproporção física entre perseguido e perseguidora. Mas notei que, à medida que corria, a moça gritava algo que eu não conseguia entender. Logo em seguida, dois rapazes com aparência e roupa comuns juntaram-se à moça na perseguição. Tentei acompanhar, à distância, o desfecho da cena. No entanto, perdi de vista perseguido e perseguidores. Só muito adiante é que, para minha surpresa, vi o assaltante imobilizado, de rosto no chão, sendo algemado pela moça, ajudada pelos dois rapazes que participaram da perseguição. Pouco depois, chegou um carro da polícia e recolheu o assaltante.

Quando tudo se acalmou e os curiosos se dispersaram, aproximei-me da moça, me identifiquei  e puxei conversa. Disse-lhe que ficara admirado com sua eficiência. Perguntei-lhe se a atividade policial, agora que ela devia ter pouco mais de vinte anos, era um “bico”, enquanto fazia universidade, ou se pretendia nela permanecer. Ela confirmou que era universitária, estudante de direito. Mas, possivelmente, depois de formada, continuaria na polícia. Lá havia oportunidades de especialização. Quis saber, então, se ela ganhava bem. Disse-me que a remuneração era satisfatória e poderia tornar-se muito boa após a conclusão do curso universitário. E quanto ao resultado do trabalho policial de rua que ela fazia? Não poderia ser melhor, disse satisfeita, rindo.  

Esse episódio lembrou-me, por associação de idéias, um outro, passado em Évora, Portugal. Eu estava com um grupo de brasileiros numa van alugada quando, numa “rótula”, no meio da cidade, fomos parados por um carro do trânsito. Os policiais portugueses alegavam que tínhamos feito a manobra de contorno “erroneamente” e exigiam que voltássemos para fazê-la da forma como ensinavam que deveria ser feita. Pedimos que nos multasse e nos liberasse. Argumentamos com o congestionamento do trânsito, com a necessidade de chegar em Lisboa ainda dia claro para nos orientarmos melhor na localização do hotel e, por último, que já tínhamos aprendido como fazer o contorno: não cometeríamos novamente a infração. Eles se mostravam intransigentes: tinham mesmo cara de retardados mentais. A certa altura, conversando entre nós, pesamos o fato de que, na posição em que nos encontrávamos, podíamos acessar rapidamente a estrada para Lisboa. Fingimos, então, atender à imposição dos policiais, e enfiamos o pé no acelerador. O suspense que se criou foi se seríamos seguidos ou, talvez, parados em alguma barreira, nas proximidades de Lisboa. Nada disso aconteceu. Na realidade, os policiais tinham agido de forma boçal e abusiva.

 Isso me remete a um episódio ocorrido em Paris. Numa loja de brinquedos, uma jovem muito bonita reclamava que o brinquedo que comprara, há alguns dias, para o filho, estava com defeito. O vendedor resistia. Ela se exaltava cada vez mais. Em suas reclamações, abaixava-se para ligar e desligar o carrinho de brinquedo. Nisso aparecia um par de pernas e coxas que deixou a loja em polvorosa. Toda a clientela masculina passou a torcer para que a discussão prosseguisse. E dava razão à moça, o que a levou, por diversas vezes, a se abaixar para repetir a operação que comprovaria o alegado defeito. Quando o gerente resolveu interferir para autorizar a troca do brinquedo, quase era vaiado. Notei, em alguns, momentânea disposição para o linchamento.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas