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Indecisão do eleitor

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Ivan Maciel de Andrade – Advogado

Confesso que não me mantenho muito bem informado sobre o jogo político. E ainda mais: não tenho qualquer vocação de futurologista, uma atividade que teve o seu auge nos idos de 60 e 70 com a figura desacreditada de Herman Khan do Hudson Institute de Nova Iorque (uma espécie de Dr. Strangelove do filme de Stanley Kubrick). Por isso, sinto-me à vontade para dizer o que penso a respeito da sucessão presidencial sem a pretensão de ser especialista na matéria.

Uma pergunta que me faço: como se situa o eleitor diante da opção que terá de fazer entre Lula e Geraldo Alckmin? De um lado, o eleitor percebe – ninguém se engane – que ocorreram fatos graves de deslavada corrupção no governo Lula. Mas isso não vem sendo decisivo para desgastar a imagem do Presidente. Existe a estabilidade econômica, o discurso de Lula é envolvente e carismático (pelo menos, para a maioria do eleitorado que não é tão exigente em suas avaliações intelectuais) e há, por fim, o Bolsa-Família, que é uma máquina eficiente de produção de votos.

 Da corrupção no governo Lula não se pode duvidar: afinal de contas, foi cassado o ministro-chefe da Casa Civil; houve a sumária exclusão de diversos ocupantes de cargos de direção superior do governo; procedeu-se ao expurgo dos tradicionais (quase míticos) quadros dirigentes do PT; o principal artífice (Duda Mendonça) da imagem de Lula na eleição de que ele saiu vencedor está às voltas com a polícia e a Justiça; inúmeros e importantes parlamentares petistas respondem pela prática do caixa dois e do mensalão perante a Comissão de Ética e as CPIs da Câmara dos Deputados. Todos sabem que o caixa dois e o mensalão, para dizer o mínimo, têm relações espúrias com os cofres públicos. Ainda que não inteiramente comprovadas, essas relações são de total e flagrante evidência. Além disso, há fatos de extrema gravidade envolvendo o ministro Palocci – ícone do governo – e também um familiar muito próximo do presidente da República.

Ninguém venha me dizer que está exultante com a corrupção do governo Lula. Tudo isso é tão ruim para o país, tão negativo para as nossas instituições políticas, que custa a crer que alguém se regozije com essa imensa sujeira. A desmoralização do PT não compensa todo esse estrago.

Lógico que esses escândalos vão ser amplamente explorados durante a próxima campanha eleitoral. Resta saber: por mais que sejam divulgadas, as falcatruas derrotarão Lula, como a oposição espera? Até agora, Lula ostenta total indiferença às acusações. Sua estratégia é uma só: usa o Bolsa-Família,  procura vender a imagem de Palocci como providencial e posa de “estadista”. Por sinal, muitos se perguntam por que ele faria jus a esse título. Em razão de suas viagens internacionais (com escassos ganhos econômicos e diplomáticos)? O título não passa de empulhação, mas pode render votos. E para o Lula atual essa é a única e obsessiva motivação.

 Admitindo que o eleitor resolva descartar Lula, em quem pode confiar? Geraldo Alckmin inspira suficiente confiança de que a corrupção será eficientemente contida e reprimida; de que haverá a adoção de medidas eficazes para a redução das desigualdades socioeconômicas; de que ocorrerão mudanças na política econômica para dar ênfase ao processo de crescimento? Ou um possível governo do PSDB representará apenas uma versão tucana do governo Lula?                             

 A sensação que tenho é de que se o exercício do voto fosse facultativo, haveria uma enorme abstenção. O eleitor se indaga: vale a pena mudar? Se Lula for reeleito, ou ele não repetirá os grandes erros que enodoaram a sua primeira administração e poderá fazer um bom governo ou, do contrário, ele ficará tão perdido que é possível até mesmo sofrer um “impeachment”.

 Há um aspecto relevante: a derrota de Lula representaria uma condenação à falta de ética de seu governo. E conteria um apelo do eleitorado por mais dignidade e escrúpulo no exercício da função pública. Os políticos, por mais surdos, não deixariam de ouvir um grito tão estridente.

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