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Andei folheando a Revista Comemorativa do Bi-Centenário da Paróquia e Centenário do Município de Pau dos Ferros (1756-1856-1956), na edição fac-similar que o Sebo Vermelho lança na amanhã de hoje (a partir das 9 horas). A edição original é de dezembro de 1956, impressa na gráfica do Centro de Imprensa, rua Dr. Barata, 216, na velha Ribeira. A mesma que imprimia o jornal A Ordem, de Ulisses de Gois e de Otto Guerra. Gostei das paradas que fiz nas 190 páginas onde estão textos preciosos. Descobre-se, por exemplo, que o redator chefe da revista é José Fernandes Dantas, à época promotor público da Comarca, que fez brilhante carreira no Ministério Público e que o levou á cadeira de Ministro do Superior Tribunal de Justiça.
O Juiz de Direito era o natalense Altanir Fernandes Borges, que foi também craque de futebol (Santa Cruz Futebol Clube). O prefeito, José Fernandes Dantas, médico, nascido em Currais Novos, e que fez carreira politica no Oeste. O vice, José Guedes do Rego, e o governador do Estado, Dinarte Mariz. O Arcebispo de Natal, D. Marcolino Dantas, que tinha como bispo auxiliar D. Eugênio de Araújo Sales. O bispo de Mossoró era D. Eliseu Simões e o de Caicó, D. José Adelino Dantas, que escreve na revista. Todos devidamente fotografados.
Dos artigos e crônicas que fui lendo nessa primeira passagem (a segunda farei neste final de semana nas Queimados) uns cinco me chamaram a atenção e me prenderam na leitura. O texto do desembargador Licurgo Nunes, “Retrospectos”, que conta a história do povoamento daqueles municípios da “tromba do elefante”; o artigo de José Dantas, “A eleição das pedras”, que remonta à politica praticada nos meados do século 19 e não difere muito do que vê nos dias atuais; o discurso de Dom José Adelino Dantas, na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, saudando o patrono de sua cadeira, Cônego Leão Fernandes, nascido em Pau dos Ferros. Fecham esse primeiro quinteto Sanderson Negreiros e Epitácio Andrade.
Foi uma surpresa, confesso (surpresa agradável) encontrar os dois na revista do centenário de Pau dos Ferros. Sanderson, à época da publicação, andava pelos 16 anos de idade, e já era um espanto na literatura natalenses. Acabara de publicar o seu primeiro livro de poemas, O Ritmo da Busca. Nascido em Ceará-Mirim, tem raízes fincadas na região oeste: os Deodato Nascimento e os Fernandes Negreiros. Título da crônica de Sanderson (ele assina José Sanderson Negreiros.) “A destinação de uma cidade”. Começa assim:
“Todos fatos e memórias do mundo dependem do tempo universal em que desenrolaram. Toda comemoração prescinde de uma lei humana ou social e subjetiva: valem pelo que construíram com intensidade para o póstero.
O mármore mais forte não terá a substância íntima de perpetuar-se para solicitação dilacerada e sensível das gentes, se não sustentar uma argila poderosa e imortal. Por isso, venho secundar o canto total de todos aqueles que celebram as festas bicentenárias de Pau dos Ferros. Ligado pelas raízes a esse chão, originado do sangue generoso dessa cidade, – pois minha família teve-a por berço – reclamo, sem denúncia maior, ante o coro solene das festas e a continuidade celebrada por seu povo, o meu testemunho, feito justamente numa hora poderosa e útil.”
Evocação
“Evocação Sentimental” é o título da crônica assinada por Epitácio Andrade, advogado, promotor público, nascido em Pau dos Ferros, mas criado em Natal e que fazia parte da mesma geração de Ticiano Duarte, Roberto Furtado, Clovis Mota, do poeta Gilberto Avelino, dos que gostavam de literatura. Boêmios, também. Epitácio morreu em 9 de agosto de 1991, aos 57 anos de idade. A sua dicção poética está evidente na crônica que escreveu para celebrar o centenário de Pau dos Ferros. Transcrevo alguns trechos. Começa assim:
– Nasci em Pau dos Ferros, faz vinte e dois anos. Abstraí-me da terra e do povo, por dilatado espaço de tempo, na luta pela vida. Há dois anos atrás, como que num atendimento sentimental ao chamado telúrico, fui à Pau dos Ferros. Eu era, então, um estranho dentro dos muros da cidade mãe. As suas ruas, as casas, o povo nada me sugeriam. Mas a força vital que se desprendia daquela terra; a energia canicular daquelas plagas adustas tinham qualquer coisa de familiar, de fraternal. E eu me deixei ficar na cidade amiga, alheio aos homens e ao movimento ruidoso da vinda, sentindo as vibrações emocionais daquele reencontro patético, porém cheio de melancólica poesia.
– A identificação com a terra é fenômeno natural. A alma do homem como que cria asas e parece querer voar, como está no canto de Carlitos. Não há forças que atuem em sentido contrário. É uma espécie de libertação da alma que infunde apenas o desejo lasso de seu abraçar com a terra cantando aquelas canções bíblicas, canções que não poderiam ser cantadas em terras estranha…
– A casa onde nasci tinha u’a mensagem para o meu coração. E eu escutei-a como aqueles levantinos piedosos escutam a oração da tarde.”
Do turismo
Do economista José Ferreira Melo (Zeca), superintendente do Sebrae-RN sobre a nomeação do ex-deputado Henrique Eduardo para o Ministério do Turismo:
– O setor tem tudo para crescer. Saudamos com entusiasmo a chegada do ex-deputado Henrique Alves ao Ministério do Turismo. O Turismo é, talvez, o segmento econômico mais importante do Rio Grande do Norte. Imensa oportunidade de desenvolvermos projetos para o setor”.
Ética e Filosofia
O Departamento de Filosofia do Centro de Ciências, Letras e Artes da UFRN anuncia para o começo de maio (de 4 a 8) o II Colóquio de Ética e Filosofia Política. Tema: “A religião em questão”.
Chuva
Segundo dia seguido sem pingo de chuva no Rio Grande do Norte atestado pela Emparn. As previsões da meteorologia para o final da semana não são animadoras. Abril dói.
De Dorian
A exposição do artista plástico Dorian Gray, inaugurada quinta-feira na Galeria Conviv’art, da UFRN, ficará aberta ao publico até o dia 15 de maio. Das 9 às 17 horas, da segunda a sexta-feira.
