Merval Pereira
O mais angustiante é que a exploração econômica da Amazônia baseada na nossa biodiversidade é um grande projeto nacional que poderia ser levado adiante para reforçar nossa soberania na região, que tanto preocupa os militares.
Os projetos para a Amazônia sempre foram paralisados pela disputa política, mesmo no governo Lula, quando a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, propôs o programa nacional da Amazônia Sustentável, citado pelo ex-presidente do Inpe Ricardo Galvão como uma boa proposta no caminho do desenvolvimento da região.
A disputa entre Marina e o então ministro do Planejamento Estratégico, Mangabeira Unger, acabou inviabilizando o projeto. O ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, queria usar o Fundo Amazônia para indenizar proprietários rurais em unidades de conservação, para fazer a regularização fundiária. Os críticos o acusam de favorecer os grileiros em áreas protegidas.
Pois o então ministro Mangabeira Unger, do Planejamento Estratégico, quando assumiu o Programa da Amazônia Sustentável (PAS), teve a mesma proposta. Aliás, o fato de Lula ter dado a Mangabeira o projeto para a Amazônia foi a gota d’água para a saída da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, assim como, anteriormente, o então deputado federal Fernando Gabeira havia deixado o PT devido a divergências, especialmente pela política ambientalista.
Em recentes entrevistas à “Central GloboNews”, dois dos maiores cientistas brasileiros, Ricardo Galvão e Carlos Nobre, forneceram dados para uma industrialização da Amazônia com proteção ao meio ambiente. Galvão disse não ter dúvidas de que a leniência do governo estimula o desmatamento.
Carlos Nobre lamentou que nós, brasileiros, não nos enxerguemos como o país da maior biodiversidade do planeta. O potencial econômico da biodiversidade, segundo ele, é muito superior ao da pecuária e ao dos grãos. O exemplo do açaí é imediatamente lembrado, pois, segundo Nobre, ele já gera mais de um bilhão de dólares para a Amazônia, e na economia mundial, muito mais. O açaí está sendo industrializado no Vale do Silício, na Califórnia. Para Carlos Nobre, “falta industrializar a biodiversidade”.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, com sua retórica estimulante, poderia estar hoje em Davos anunciando novos projetos industriais na Amazônia, em vez de ter que defender o governo brasileiro diante de uma plateia de investidores internacionais que cada vez dão mais importância ao meio ambiente.
A indicação do vice-presidente Hamilton Mourão para coordenar um conselho interministerial de desenvolvimento da Amazônia é um passo importante, assim como a criação da Força Nacional Ambiental, mas o governo não tem uma coordenação que permitisse que Paulo Guedes, em Davos, anunciasse essas medidas como sinais de que o governo brasileiro está preocupado com a questão ambiental.