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Infernizando a ortografia

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Yuno Silva
Repórter

O acordo ortográfico da língua portuguesa, aos poucos, vem se incorporando ao cotidiano do idioma. A intenção de linguistas e filólogos é unificar a grafia do português utilizado no Brasil, em Portugal, países da África como Moçambique e Angola, e da Ásia como Timor Leste e a província de Macau na China. Dentre as mudanças propostas, o uso do hífen ganhou novas regras. Mas, afinal, qual a origem desse sinal da pontuação utilizado em larga escala no português e no francês?
Gentili argumenta importância do hífen na língua portuguesa
A pergunta, que à princípio parece simples, demorou dois anos para ser respondida pelo escritor José Carlos Gentili. Presidente da Academia de Letras de Brasília e membro da Academia de Ciências de Lisboa, Gentili pesquisou arquivos e documentos antigos – no Brasil e exterior – para chegar a um resultado satisfatório. Como resultado, publicou o livro “A infernização do hífen”.

O tema, abordado de forma pioneira, ganhou interesse do autor após questionar os filólogos João Malaca Casteleiro (Portugal) e Evanildo Cavalcante Bechara (Brasil), responsáveis pelas tratativas do acordo ortográfico iniciadas em 1990 e que ainda estão em implantação, sobre a origem, o uso e a real necessidade de se alterar as regras para o uso do hífen. “Quando percebi que pouco se sabia sobre esse sinal da  pontuação, resolvi pesquisar”, disse o acadêmico, que contabiliza mais de 30 obras publicadas no currículo – entre títulos de poesia, ensaios, romances e pesquisas.

“A infernização do hífen” foi lançado em novembro de 2015 em Lisboa. O autor já apresentou a pesquisa em Brasília, em breve vai lançar no Rio de Janeiro e até o fim do ano deverá autografar a obra em Natal. “Há algum tempo me divido entre Brasília, Natal e o sul da Bahia”, disse durante entrevista exclusiva ao VIVER.

Gentili destacou, de forma simplificada, três regras básicas para o hífen: a translineação (quando se precisa, no fim de uma linha, separar a palavra em duas partes); a mesóclise (inserção do pronome oblíquo átono no meio do verbo – exemplo: convidar-te-ia); e palavras compostas.

“O hífen surgiu com a revolucionária invenção de Gutenberg (tecnologia de impressão de documentos com tipos móveis), no século 15. Em sua famosa Bíblia, quando palavras precisavam ser divididas no fim de uma linha, ele preencheu o espaço com um sinal parecido com o igual (=). Só que matemáticos, incomodados com a possibilidade de gerar confusão nos leitores, pediram para Gutenberg utilizar outra forma de pontuação. O gráfico tirou um traço e assim surgiu o hífen”, resume.

O livro “A infernização do hífen” é um calhamaço de 616 páginas, que remontam toda a ‘biografia’ do hífen: com direito a cópias de documentos, inclusive de páginas da Bíblia de Gutenberg, histórico do idioma português oficializado por Don Diniz I no século 13, referências bibliográficas e textos analíticos.

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