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Inflação na Argentina é bomba-relógio

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Buenos Aires – Na Argentina, a inflação não é um problema a mais. Trata-se de um trauma nacional. Motivos existem de sobra, já que o país passou pelas duas maiores hiperinflações da história da América do Sul. O recorde foi em 1989, quando, no final do governo do ex-presidente Raúl Alfonsín, chegou a 4.923,6%. O presidente Néstor Kirchner sabe que a inflação – e a perspectiva de seu crescimento – irrita intensamente o eleitorado argentino, muito mais do que os escândalos de corrupção e a disparada da criminalidade. Para complicar, a cada aumento de um ponto percentual da inflação, o número de pobres cresce em 200 mil pessoas.

Desta forma, ao longo do último ano e meio, Kirchner não hesitou em aplicar um polêmico congelamento de preços a dezenas de setores da economia argentina.  Além de brecar os aumentos por pressões e ameaças aos empresários, Kirchner tenta mostrar uma inflação menor à real. Ele é acusado de maquiar os índices de inflação, para que esta não tenho um efeito psicológico negativo no eleitorado (ou, pelo menos, um efeito negativo menor).

Para conseguir um índice mais “light”, ordenou a remoção categórica de altos funcionários do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) que se opunham às diretrizes do governo de levar em conta uma metodologia diferente para medir a inflação. Os funcionários do Indec fiéis a seus chefes despedidos realizaram nos últimos dias diversos protestos contra Kirchner.

Os críticos do presidente indicam que a medida foi uma demonstração explícita de populismo. No entanto, o analista econômico Carlos Leyba recorda que a mudança de metodologia também foi praticada por expoentes do neoliberalismo como Margareth Thatcher, “que em onze anos de mandato modificou 23 vezes a definição de desemprego”.

Outros analistas indicam que Kirchner está optando pelo que considera um mal menor, ou seja, uma estatística pouco verossímil em vez de admitir uma inflação mais alta. Com a estratégia de maquiar a inflação, Kirchner simultaneamente também reduz o volume do pagamento dos bônus da dívida pública que teriam que ser reajustados de acordo com a inflação.

Com uma inflação oficial menor, o governo precisa desembolsar menos dólares aos credores. A inflação “oficial” de 2006 foi de 9,8%. Mas, economistas prestigiados como o ex-presidente do Banco Central, Javier González Fraga, consideram que a inflação do ano passado foi de 15%. “O governo fez trapaça”, sustenta. Outros economistas definem o índice oficial como “realismo mágico”. Para 2007, o governo calcula uma inflação oficial menor à de 2006, que estaria ao redor de 9%.

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