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Influência dos libaneses no RN

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LIBANESES - Descendentes que moram em Natal falam da paixão pelo Brasil

“A paixão por esse país é porque é a maior colônia libanesa no mundo”. Essa foi a explicação de Elias Gosson, descendente de libaneses que mora em Natal, para o carinho que os seus familiares têm pelo Brasil. São sete milhões de libaneses que fizeram aqui a sua nova pátria, fugindo de guerras ou a convite. Em Natal a colônia libanesa tem pouco mais de 1.000 descendentes. Todos têm histórias que remontam ao início do desenvolvimento econômico da cidade, com exemplos expressivos de contribuição ao comércio e outros setores produtivos.

A primeira geração de imigrantes libaneses desembarcou atendendo um convite feito pelo próprio imperador Dom Pedro II, que visitou o Oriente nas últimas décadas do século XIX. Nas duas viagens que fez ao país, Dom Pedro II trouxe em seu navio trabalhadores do Líbano para que viessem morar na colônia portuguesa. Uma outra leva de imigrantes libaneses chegou aqui fugindo da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).

Hassan Aby Zayan e Assad Mohamed Salha, que recebeu aqui o apelido de Júlio, chegaram sem família e trabalharam como mascates vendendo os mais diversos tipos de produtos no lombo de mulas pelo interior do RN. Com o tempo conseguiram juntar algum dinheiro e fundaram as duas primeiras lojas de departamento da cidade: “A Formosa Syria” e “Casa Duas Américas”, ambas na Avenida Rio Branco. A primeira vez que os natalenses viram manequins expostos em vitrines, com mostras de vestuários, foi na Formosa Syria..

Já estabelecidos, Hassan Aby Zayan e Assad Mohamed Salha trouxeram do Líbano mulher e filhos. As famílias convidaram outros conterrâneos, que se casaram entre si e deram origem à colônia libanesa em Natal.

Os filhos de Hassan, mais tarde, participaram da sociedade que abriu o “Hotel Monte Líbano”, comprado por um grupo de investidores nacionais e transformado, no início da década de 80, no “Hotel Ducal”.  Já os filhos de Assad abriram uma fábrica de óleo de mamona em Parnamirim.

Foi Rachid Hassan Lauar o primeiro Cônsul libanês no Brasil e Habib Chalita o fundador do Sindicato de Hotéis, Bares e Similares no Estado. Sua filha, Soraya Kater Chalita Abou Chakra, conta que foram seus familiares que trouxeram para o RN o gás de cozinha em botijão, as primeiras empresas aéreas, chamadas Linhas Aéreas Paulista (LAP) e Alitália, instalaram a primeira revenda da Renault e o primeiro moinho, o Mobrasa, onde hoje funciona o Grande Moinho Potiguar.

Os primeiros libaneses a imigrarem para o Brasil não tinham instrução. Fugiam do desemprego e da miséria, pois “não existia trabalho no Líbano”, conforme explica Semi Abou Chakra.  Os filhos, netos e bisnetos adquiriram diplomas universitários em várias áreas, o que não os impediu de seguirem o ramo do comércio. “Está no sangue do árabe”, exclama Semi, engenheiro civil marido de Soraya, ambos na área do comércio.

Hoje, estão em Natal as famílias libanesas Lawar, Chalita, Abou Chacra, Salha,  Massud, Gosson, Dieb, Atiê, Aby Zayan, Jameledine, Husseine, Farkat, Serquis, Sucar, Aby Faraj, Assi, Hamad, Cury e suas derivações.

Uma história permeada de guerras

A história dos libaneses é permeada de guerras e pela presença de dominadores estrangeiros. As diferenças religiosas também geraram conflitos sangrentos no Líbano. A guerra atual é, na verdade, uma continuação de outras guerras. O motivo, por trás de todas elas, é a criação do Estado de Israel em 1948, após a Segunda Guerra Mundial.

A expulsão do povo palestino do seu território para dar lugar às famílias judaicas resultou no êxodo das famílias árabes para países vizinhos, como o Líbano. Os israelenses, no entanto, por muitas vezes desrespeitaram a delimitação da ONU, que fixou as fronteiras do país, e invadiu território árabe, resultando em mais confrontos. A partir de 1978, Israel passou a atacar o sul do Líbano.

Na década de 70, em parte pela presença das atividades políticas dos palestinos e parte às tensões internas e à crise social do país, o Líbano foi palco de uma das mais longas e crueis guerras civis já vistas no século XX. Durante 25 anos, o país foi destruído por facções de drusos, cristãos maronitas e muçulmanos.

Em 1982, o país foi invadido pelos israelenses. A ofensiva era para desmantelar bases da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e inviabilizar os esforços diplomáticos de Yasser Arafat, o líder palestino, junto a opinião pública internacional por um acordo de paz. O Hezbollah (Partido de Deus, em árabe) surgiu nesta época como um movimento de resistência armada à invasão israelense. O Hezbollah, com ligações no ramo xiita do Islamismo, conta com o apoio do Irã e também da Síria.

Mesmo apóis retirada de Israel do sul do Líbano, em fins da década de 90, O Hezbollah manteve sua organização militar e conquistou lugar na política nacional libanesa como um movimento de resistência.  Em 27 do mês passado, o Hezbollah seqüestrou dois soldados israelenses, causando a ira dos judeus, que revidaram com bombardeios ao sul do Líbano. Cidades foram destruídas e o povo libanez, novamente, teve que se refugiar no norte do país, que está prestes a ser também atacado.

Um povo que cultua a família

A vida em outro país modificou em alguns aspectos a cultura libanesa herdada pelos descendentes de imigrantes. No entanto, nem a assimilação de outros costumes e o espírito aventureiro, que proporciona a abertura para mudanças, conseguiram mudar algumas das tradições mais arraigadas desse povo do Oriente Médio.

Um exemplo é o costume de cultuar a família que, para os árabes, é o que há de mais precioso. Talvez por isso sejam tão amistosos e receptivos, abrindo suas portas para os que necessitam de abrigo, como foi o caso dos libaneses que por aqui chegavam ou daqueles que hoje procuram refúgio em meio à guerra.

A impressão que se tem é de que, de alguma forma, os libaneses que moram em Natal são todos ligados por laços familiares. Adaptada à nova realidade, a tradição de se casarem com outros descendentes parece ter durado por mais algumas gerações depois dos primeiros que aportaram no Brasil. Contudo, sem a rigidez dos ancestrais que arranjavam os casamentos dos seus filhos. “Meu marido já estava prometido”, diz Soraya Kater Chalita Abou Chakra, esposa de Semi Abou Chakra, refrisando que, mesmo assim, o casamento foi possível, sem muita relutância. “Meu pai explicou que aqui no Brasil não era assim”, diz.

O costume de se reunirem para confraternizações ainda é bastante forte, o que facilitou que descendentes de libaneses se encontrasse e constituíssem casamento entre eles ainda hoje, sem que isso fosse uma exigência.

Ser chamado de “Turco” não parece aborrecer as últimas gerações, mas ainda não agrada os mais velhos. Os turcos dominaram o Líbano – e também todo o Oriente Médio – a partir do século XI, depois que o sultão Selim I incorporou ao Império Otomano o território libanês.

Chamar um libanês de turco é considerada uma ofensa, algo como dizer que eles são grosseiros. “Eles (os turcos) eram bárbaros. Não gostamos de ser comparados”, explica Leila Lauar, descendente de libaneses. Uma das características marcantes dos povos do Oriente Médio, no entanto, parece ter desaparecido após o contato com os brasileiros: o de colocar a religião acima de tudo. No Líbano, o relacionamento entre as famílias, os partidos políticos e as regiões onde moram dependem desse fator. “Cada sobrenome é característico de uma cidade e uma religião”, explica Soraya Kater Chalita.

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