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Instituto revigorado

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Ramon Ribeiro
Repórter

Tido como casa da memória, devido ao acervo centenário sobre a história potiguar, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte tem aos poucos mostrado não estar preso a servir apenas como local de pesquisa. Reaberto em junho deste ano, após conclusão das obras de restauro e reforma do prédio, o órgão tem construído uma agenda de atividades culturais que passam por exposições museográficas e de artes visuais, palestras, lançamentos de livros e ocupações artísticas em parceria com prefeituras interessadas.

Relíquias em exposição: vestes e objetos de personalidades históricas, como Frei Miguelinho

Relíquias em exposição: vestes e objetos de personalidades históricas, como Frei Miguelinho

Em outubro, a sala Dorian Gray Caldas, voltada para exposições temporárias, estará ocupada com a retrospectiva inédita “Newton Navarro: o movimento do traço perfeito”, que retrata cinco décadas de trabalho do artista potiguar. A mostra reúne 20 pinturas de Navarro, todas pertencentes a coleção do escritório Holanda Advogados Associados. Segundo o presidente do IHGRN, Ormuz Simonetti, essa é a primeira retrospectiva sobre o artista após sua morte em 1992. “Estamos mostrando obras de um acervo particular que nunca foi levado à público. Será possível ver temas recorrentes de Navarro, como os vaqueiros, a cultura popular, o circo, os cangaceiros”, diz.

Embora já esteja aberta para visitação, a vernissage será no dia 19 de outubro, a partir das 18h. Na ocasião também será lançado um novo número da Revista do IHGRN, que ganha projeto editorial e gráfico remodelado. A edição, de número 95, é em comemoração aos 150 anos do escritor, jurista e pesquisador Manoel Dantas (1867-1924) – um dos fundadores do instituto. A publicação reúne textos inéditos e resgates. Dentre os destaques, há artigos sobre a participação política feminina no RN, de Maria do Nascimento Bezerra, olhares sobre a história dos massacres de Cunhaú e Uruaçu, de Olavo de Medeiros Filho, além de um texto fac-símile publicado pelo próprio Manoel Dantas há 100 anos atrás sobre Frei Miguelinho.

Quem assume como editor da revista é o jornalista Gustavo Sobral. “Estamos assumindo a revista para dar novo ânimo, com projeto gráfico que explora fotografias e documentos do próprio acervo do instituto, que estão sendo descobertas com o trabalho de catalogação”, comenta o editor, que buscará apoios para em 2018 retomar a periodicidade de quatro edições por ano. “A Revista do IHGRN começou a ser publicada em 1903, com o objetivo de registrar e divulgar a pesquisa produzida sobre o RN. Em 2017, por questões financeiras, foram lançadas apenas duas edições, a fac-símile sobre Frei Miguelinho, no primeiro semestre, e agora esta. Mas para o ano que vem, queremos avançar com ela”. A revista custa R$ 30 – a edição de colecionador sobre Frei Miguelinho custa R$ 50 – e o valor arrecadado é usado para ajudar na manutenção do instituto.

Exposição de Ângela Almeida surgiu a partir do acervo. Gustavo Sobral está a frente da catalogação

Exposição de Ângela Almeida surgiu a partir do acervo. Gustavo Sobral está a frente da catalogação

Ainda em outubro, outras ações estão previstas para acontecer, como palestra “A História Constitucional do RN”, ministrada pelo jurista e pesquisador Paulo Marques Souto. A atividade faz parte do projeto Quinta Cultural, que tem movimentado semanalmente o IHGRN. Para novembro vão  ser promovidas as palestras “Câmara Cascudo e o símbolo jurídico do pelourinho”, com Vicente Serejo, e “Atol das Rocas”, com Zélia Brito. Ainda em novembro acontece uma nova ocupação no instituto, desta vez sobre o município de Macaíba.

Segundo Ormuz, as ações mostram a preocupação em abrir o IHGRN para a população, no sentido de trazer as pessoas para dentro do instituto. “Depois que conseguimos arrumar a casa, agora estamos a abrindo para um maior público, dinamizando o espaço. Mas sempre com o objetivo em mente de promover a cultura do Estado”, afirma. Gustavo Sobral, que também assume agora como diretor de Biblioteca, Arquivo e Museu, ressalta: “Estamos atentos ao que os museus modernos estão fazendo. Dentro das condições, estamos buscando tornar o instituto cada vez mais atrativo”.

Sobral cita como exemplo a nova disposição interna. A sala da direção virou a galeria Dorian Gray. A sala de museu ganhou uma montagem mais informativa, com peças raras do acervo, como medalhas, desenhos de Moura Rabelo sobre figuras do Império, mobiliário antigo, como a escrivaninha de Pedro Velho, itens religiosos, como a batina do primeiro bispo do RN (Joaquim Antônio de Almeida), o primeiro telefone da cidade, uma cópia da carta escrita à mão por Lampião endereçada ao prefeito  Rodolfo Fernandes, de Mossoró, dentre outras peças. É na sala do museu que também foi montada a exposição “Fingimento das Palavras”, de Ângela Almeida, em que ela utiliza as vitrines dos armários como espaço expositivo para fotografias ficcionais.

“Em três meses já notamos um aumento de visitantes no instituto. Em julho foram 210 visitantes e no último mês já tivemos 360. Isso só falando das visitas avulsas, sem contar as escolas. Temos visto muitos turistas de outros estados e de fora do país. Quando a pessoa vem com interesse de pesquisa, o cadastramos para manter contato”, comenta Sobral.

Acervo físico
Com mais de 50 mil itens no acervo, cujo conteúdo remonta a pelo menos três séculos de história do RN, o IHGRN está no momento trabalhando na catalogação das peças, livros, documentos, fotografias e demais itens. Devido a esse trabalho, o acervo está indisponível para consulta pública.

“São muitas peças. É preciso limpar. Alguns documentos são frágeis de manusear. Então esse trabalho de catalogação leva tempo. Mas em dezembro acredito que já devemos ter uma parte aberta para pesquisa”, conta Ormuz. A catalogação está sendo feita por uma equipe de sete pessoas, dentre bolsistas da UFRN, profissionais do próprio instituto e voluntários.

Digitalização já pode ser acessada
O trabalho ainda está no início, mas Gustavo conta que muitas novidades já foram descobertas. “Encontramos muitos documentos e livros raros. Material importante que podem suscitar novas pesquisas. Como uma coleção fotográfica sobre a cidade, que desconhecíamos”, diz.

Estas fotos estão sendo digitalizadas sob a coordenação da professora Iris Alvares, numa parceria do Labim/UFRN com o IHGRN. Parte do que já foi encontrado, como as correspondências do Governo Municipal e das Câmaras Municipais, as revistas do IHGRN de 1903 até 1951, já pode ser acessado por meio do site.

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