Diógenes da Cunha Lima
[ Escritor, advogado e presidente da ANL ]
Não me considero um intelectual, mas convivo, permanentemente, com eles. É convivência difícil, mas, ao mesmo tempo, agradável e enriquecedora.
É certo dizer que os intelectuais são as antenas da raça, antecipadores do futuro, libertários, usuários das mídias, reveladores das mazelas sociais. Por isso, são incômodos a regimes autoritários. Indesejados, reprimidos. Só se sentem à vontade na democracia, no estado de direito, onde se respeita a liberdade de opinião e de escolha.
É quase impossível fazer um conceito exato porque pensadores são, naturalmente, dessemelhantes. Entretanto, sua caracterização é feita desde os mais antigos filósofos gregos. A vida intelectual difere da outra – por falta de palavra precisa – dita vegetativa.
Certas virtudes e poderes dos intelectuais são notados. São pessoas criativas, cerebrais, as mais das vezes, ensimesmadas, teóricas, pouco afeitas à prática do dia a dia, que duvidam e questionam as “verdades” estabelecidas. Alguns ineptos se julgam mesmo criaturas superiores ao comum dos mortais.
Com toda certeza, o maior dos intelectuais potiguares, Luiz da Câmara Cascudo, era homem humilde e valorizador dos humildes, da sabedoria do povo, da cultura popular.
Com os intelectuais aprendo a harmonia das coisas superiores. Adoto as suas inquietações de espírito, tenho a curiosidade como motora da aquisição do conhecimento.
É possível notar que os intelectuais são extremados nas suas predileções. Consideram geniais os seus ídolos literários e artísticos. Identificam-nos como moralmente irrepreensíveis.
Os pseudointelectuais são seres aborrecidos. Aprendem a repetir frases de efeito, citam autores fora do contexto, têm ar enfatuado, fazem pose de quem está fumando um cachimbo virtual. Falsamente comiserados, assumem fisionomia penalizada com o ser e estar dos pobres.
Joãozinho Trinta foi dançarino e campeão das melhores escolas de samba do Rio de Janeiro. Distinguiu-as com as exibições monumentais, riquezas de formas, cores e histórias. Tornou-se célebre a sua frase: “O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual”.
Nos dias de hoje, parece que a vida intelectual está diminuída em todo o planeta. Até a França, de inegável liderança cultural, está convulsionada com manifestações de protesto, greves, tristezas. A inteligência e a cultura fragilizadas. Pierre Vermeren, professor de história contemporânia da Universidade de Paris, constata a decadência intelectual “no País de Montaigne, Pascal, Micheret, Claude Levi-Strauss, Raymond Aron”. O país parece esquecer a sua grandeza, deplora. Cultua-se “personalidades tóxicas”, sexualidade, agressões e violência. Já não se faz reflexão sobre o senso da nossa breve existência terrestre.
Nestes tempos ásperos, a humanidade carece, mais e mais, de intelectuais. São difíceis, mas imprescindíveis.