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Intriga carnavalesca

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Valério Mesquita – Escritor

Natal boêmia dos anos cinqüenta. Natal lírica que se reunia toda no Grande Ponto. A história é desse tempo. Era carnaval no reinado do inesquecível Severino Galvão, amigo de Luis de Barros e Roberto Freire. O compositor Dosinho lançava os seus últimos sucessos carnavalescos. E a animação tomava conta da capital que exportava folia. Tanto assim, que os jornais anunciaram a visita do Rei Momo, primeiro e único Severino Galvão, à capital do Oeste – Mossoró, levando toda a sua corte. Não podia haver notícia melhor para o estreitamento das relações entre Natal e Mossoró, pois andavam tensas por causa das estórias que os maledicentes inventavam com os mossoroenses.

Tudo pronto, transporte providenciado, discurso afiado do monarca nos trinques, parte a caravana real com confete e serpentina. Mas, em todo reino que se preza, sempre há um  vilão à espreita que desmancha prazer e ameaça a coroa. O folião de longo curso Roberto Bezerra Freire resolve bagunçar o coreto e a viagem. Irreverente e brincalhão o engenheiro natalense enviou telegramas urgentes a Mossoró para o prefeito e o delegado de polícia alertando que “O Rei Momo que está chegando aí é um impostor”. “Inclusive”, prossegue o teor telegráfico, “ele vai insultar Mossoró urinando Praça Rodolfo Fernandes”. Continua: “Trata-se individuo perigoso e todo cuidado é pouco. Saudações Roberto Freire”. Ora, o mossoroense habituado, desde a resistência a Lampião, a reagir a provocação, entrou em estado de alerta para não dizer de “sítio”. A chegada que se prenunciava triunfante foi tensa e hostil com todo o destacamento local formado para repelir os embusteiros. Detido o ônibus real do soberano Severino Galvão, ante a sua incontida perplexidade, não precisa dizer que  a rainha e os súditos permaneceram prisioneiros no coletivo enquanto o rei momo era conduzido à delegacia para dar explicações sobre a inditosa viagem e o telegrama delator. Só depois de muita negociação diplomática foram liberados. Não havia Telern ainda e o discurso real foi transformado em desculpas intermináveis ante o lamentável incidente que abalou as ligações entre os dois povos.

02) Zé de Papo sempre se distinguiu como uma figura curiosa e querida de Macaíba. Dentre os ofícios que exerceu posso lembrar o de carnavalesco (feiticeiro da tribo de índios do bloco de Zé Batata), músico, garçom, boêmio, gostava de caçar e jogar futebol no velho campo do cemitério de Macaíba, pelo time do Rio Branco. Na atividade esportiva, um fato é lembrado ainda com muito humor. Os calções dos clubes de futebol daquele tempo eram ordinários e não possuíam sunga. Zé de Papo parecia possuir um testículo caído que sempre se apresentava ao público sem que ele o percebesse. Nas manobras bruscas, perna levantada, surgia surpreendente o ovo de papo saudando a galera. “Bota pra dentro Zé! Bota pra dentro!”, gritava a torcida. Ele pensava que era a bola e respondia para o público que não fazia gol porque ninguém lhe dava oportunidade.

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