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Investimento x Disciplina

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A chinesa Wu Minxia tinha muitos motivos – não apenas alegres – para chorar com o ouro olímpico no peito, em Londres. Campeã no trampolim de 3m dos saltos ornamentais, ela ouviu dos pais a revelação de segredos cuidadosamente guardados há um ano. A família havia escondido as mortes dos avôs e o câncer de mama da mãe para não prejudicar a preparação da atleta de 26 anos, que morava em um centro de treinamento desde os 16. Nem com exemplos como esse de sua rígida disciplina esportiva a China se manteve no topo do quadro de medalhas nos Jogos de 2012.

Alavancado por 16 ouros na natação (quatro deles conquistados com as braçadas de Michael Phelps, agora consagrado como o maior vencedor da história das Olimpíadas), o time dos Estados Unidos voltou de Londres com 46 títulos, 29 segundas colocações e 29 terceiras. O desempenho foi suficiente para levar os norte-americanos ao primeiro lugar no quadro de medalhas, à frente dos até então ascendentes chineses, que subiram 38 vezes no lugar mais alto do pódio, além de terem conquistado 27 medalhas de prata e 22 de bronze. Há quatro anos, quando competiu em casa, a China alcançou uma impressionante vantagem sobre os Estados Unidos no quadro de medalhas, com 51 ouros contra 36 do país que costumava dominar o cenário esportivo internacional. O bom rendimento olímpico serviu como publicidade para a república socialista asiática (como fazia a extinta União Soviética na Guerra Fria), que tem a maior população mundial (com mais de 1,3 bilhão de habitantes) e comanda uma das grandes potências comerciais do planeta. O Yahoo!, multinacional norte-americana de internet, sugere que o governo asiático parabenize somente seus campeões olímpicos, ignorando os medalhistas de prata e de bronze, como forma de estimular a vitória geral nos Jogos. Outros veículos ainda levantaram suspeitas de doping em relação à nadadora chinesa Ye Shiwen, que virou sensação ao estabelecer novo recorde mundial nos 400m medley e olímpico nos 200m medley com só 16 anos de idade. Em nove participações em Jogos, já são 473 pódios comemorados. Como comparação: o Brasil competiu 22 vezes e tem 108 medalhas no total. Para os Estados Unidos, no entanto, também era uma questão de honra voltar a desbancar a China. O país mais vitorioso em Olimpíadas foi aos campos, arenas, tatames, ringues, pistas e piscinas londrinas disposto a mostrar que continua em alta em tempos de crise econômica – também como ocorria durante a época de rivalidade com a URSS. Conseguiu. Alguns analistas norte-americanos aproveitaram o retorno ao topo, assegurado com investimentos em modalidades com muitas medalhas em disputa e na associação do esporte com educação, para atentar ao sentimento de rejeição que o nacionalismo do país habitualmente despertava em outras nações.

Brasil de contrastes

Brasil chegou às Olimpíadas de Londres-2012 com atletas favoritos à conquista de medalhas em suas modalidades, mas deixou a capital britânica com esportistas azarões sob os principiais holofotes. Como Cesar Cielo, Fabiana Murer, Leandro Guilheiro e a Seleção masculina de futebol não conseguiram corresponder às expectativas, coube principalmente a Sarah Menezes, Arthur Zanetti, Thiago Pereira e o pugilista Esquiva Falcão surpreenderem a torcida brasileira e se consagrarem como principais nomes nacionais nos Jogos. O Brasil encerrou sua participação nos Jogos de Londres com 17 medalhas, três de ouro, cinco de prata e nove de bronze, na 22ª colocação do quadro de medalhas. Em Pequim-2008, o país ficou em 23º, ao subir ao pódio 15 vezes, três na primeira colocação, quatro na segunda e oito na terceira.

Sem críticas

Se para o COB o desempenho nos Jogos de Londres ficou acima das expectativas, ele foi aquém da projeção do Ministério do Esporte. Ainda assim, Aldo Rebelo, titular da pasta, evitou criticar a entidade. Antes do evento, o COB estabeleceu a modesta meta de repetir as 15 medalhas conquistadas em Pequim, apesar da evolução esperada como sede da próxima edição. O Ministério do Esporte, por sua vez, esperava contar com, pelo menos, 20 pódios na Inglaterra. No quadriênio 2009-2012, já com os devidos descontos, o COB diz ter recebido R$ 331,3 milhões pela Lei Agnelo/Piva para destinar ao esporte de alto rendimento. O investimento público total durante o ciclo, no entanto, gira em torno de R$ 2 bilhões. Principal financiador do esporte olímpico brasileiro, o titular do Ministério do Esporte contemporizou, apesar da evolução discreta em relação ao evento chinês. “A análise passa por cotejar o desempenho com os investimentos e tudo isso vai ser feito. Mas não queremos começar pelo julgamento”, disse Aldo Rebelo.

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