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Investimentos estrangeiros perdem força no RN

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Andrielle Mendes
Repórter

O Rio Grande do Norte perdeu espaço na geração de emprego, nas exportações, na produção industrial e também na captação de investimentos estrangeiros de pessoas físicas – aquelas que investem acima de R$ 150 mil, segundo o Ministério de Trabalho e Emprego (MTE). O estado, que já foi líder na atração de pequenos investidores estrangeiros dentro do Brasil, foi ultrapassado por São Paulo e Ceará, caindo para a terceira posição, no último ano. Hoje, está bem atrás do segundo colocado. A falta de investimento em infraestrutura, mais uma vez, é apontada como vilã. Na avaliação da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (Adit Brasil), o estado precisa se mexer, se quiser  frear a desaceleração. Apesar do crescimento do PIB nacional ter ficado abaixo do esperado, o Brasil vive um bom momento. Com a crise, se tornou um dos poucos países seguros para se investir. Caberá ao estado aproveitar esta chance.
O português Domingos Sanches conheceu o RN durante uma viagem de férias. Mudou para o Estado, montou um restaurante e diz que o trânsito e a segurança já não são como antes
RN brilha menos aos olhos estrangeiros

 O Rio Grande do Norte registrou queda nos investimentos estrangeiros ‘pessoa física’ nos últimos três anos, seguindo na contramão do país e da região e protagonizando um cenário “preocupante”, de perda de competitividade, de acordo com analistas. De acordo com levantamento recente do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego, enquanto o valor subiu 40,9% no Brasil e 8,6% no Nordeste, no RN, recuou 6,8%, entre 2009 e 2011. O estado – que chegou a ser o maior alvo dos investidores em 2007 – perdeu a liderança para São Paulo, mas também a segunda colocação, desbancado pelo Ceará, que só no ano passado avançou 56% na captação de recursos. Enquanto isso, o RN  cresceu 0,7% no período.

Para Felipe Cavalcante, presidente do conselho de administração da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil  (ADIT Brasil), os dados medem a competitividade de um estado frente aos demais.  O RN, por exemplo, fechou 2007 como o principal destino dos investidores estrangeiros pessoa física. Naquele ano, o estado recebeu R$ 50 milhões, praticamente o dobro do que recebeu em 2006. A quantia representava 1/4 do que foi aplicado em todo o país. Segundo resolução mais recente do MTE,  investidores estrangeiros pessoa física são aqueles que investem pelo menos R$ 150 mil no país.

Para Evilásio Crisanto, diretor da ECM Imóveis – imobiliária que tem clientes estrangeiros na carteira – o cenário é preocupante. Falta de infraestrutura e de apoio pesaram, segundo ele, na hora de escolher onde aportar o capital. Pesquisa realizada pelo grupo inglês The Economist e publicada na revista Veja já havia apontado o RN como um dos piores ambientes de negócios no país. O estado ficou abaixo da média nacional em todas as categorias avaliadas. Na categoria infraestrutura, obteve nota zero, junto a outros nove estados. Além disso, ficou entre os sete piores em incentivos para investimentos e políticas para (atração de) capital estrangeiro. “O que o RN fez para atrair um grande empreendimento? Como o estado quer receber investimento, se não dá contrapartida?”, questiona Evilásio.

Na avaliação de Sílvio Bezerra, vice-presidente da ADIT Brasil, o RN paga o preço de não ter infraestrutura adequada. “Prefiro, entretanto, acreditar que as coisas vão melhorar”, diz.

Para Felipe Cavalcante, da ADIT Brasil, os estados precisam se mexer se quiserem aproveitar o bom momento vivido pelo país. Segundo o Banco Central, o estoque total de investimentos estrangeiros diretos aplicados no Brasil atingiu US$ 660,5 bilhões no ano passado, o que representa R$ 1,1 trilhão de reais. O valor ainda é considerado pequeno, se comparado a tudo o que é investido no mundo, diz Felipe.

A equipe de reportagem entrou em contato com o governo do Ceará para saber o que motivou o incremento, mas não obteve resposta até o fechamento da edição. O Ministério do Trabalho e Emprego também foi procurado mas não forneceu dados referentes a anos anteriores nem porta-voz para comentar os números.

Apesar da queda, apetite existe

A cidade de São Paulo foi a quarta que mais recebeu investimentos estrangeiros em 2011 em todo o mundo, segundo estudo divulgado na última semana. A capital paulista avançou três posições no ranking em relação ao ano passado, segundo o estudo “Observatório dos Investimentos Internacionais” – realizado pela consultoria KPMG e pela agência de investimentos francesa Paris-Ile de France Capital Économique, conforme publicou a BBC Brasil.

O levantamento considerou 22 grandes cidades internacionais. São Paulo ultrapassou Paris, Moscou e Pequim e só está atrás de Londres, Xangai e Hong Kong, que mantém os três primeiros lugares do ranking. Ainda segundo a BBC Brasil, o aumento no número de investimentos estrangeiros em São Paulo foi de quase 55% no ano passado em relação a 2010 e de 160% em relação a 2009.   No RN, apesar da queda, quem investe não se arrepende e quer apostar mais.

A boliviana Fabiana Lopez, 39, mudou-se para Natal há 21 anos, acompanhando a mãe, do Paraná, e o padrasto, do Espírito Santo. Há 1 ano e sete meses, ela abriu um negócio em Natal: a cafeteria Vanila Café. O padastro encontrou no estado um lugar tranquilo para morar, após a aposentadoria. Fabiana, um mercado promissor. “Não tinha cafeteria de rua”, afirma. Em menos de dois anos, o bairro ganhou três. Fabiana investiu meio milhão de reais no negócio e não se arrepende da escolha. “O estado está crescendo. As pessoas estão investindo cada vez mais. Não só os pequenos, mas os grandes também”.

O sueco Ola Birgersson chegou ao Rio Grande do Norte em 2002. Com as economias (algo em torno de R$ 1 milhão) construiu um resort, o Blue Dreams. Em 2006, abriu uma incorporadora: a Villa Brasil. Nos últimos anos, construiu três condomínios, o último ainda não foi concluído. Birgersson investiu R$ 5,5 milhões no estado até o momento. O RN avançou nos últimos dez anos, mas ainda há muito a fazer, diz o empresário sueco. “Há muitos erros para corrigir, mas estamos no caminho certo”, pondera. Ele elogia o apoio  de Canguaretama, onde investe, e critica a falta de apoio do governo do estado. “É muita enrolação”.

Domingos Sanches  conheceu o Rio Grande do Norte durante uma viagem de férias. O português, que conhece todas as capitais do Nordeste, ficou fascinado pelo litoral potiguar. Antes de arrumar as malas, Domingos voltou mais duas vezes para ter certeza de que era uma boa escolha. E era. O empresário trouxe a mulher, os dois filhos e o seu negócio. Abriu, em 2006, o restaurante Santa Maria e já pensa em mudar para um espaço maior. Investiu, na época, R$ 120 mil. Clima agradável, paisagem bonita, e cidade tranquila o atraíram. Há cinco anos, a cidade não era tão confusa. Mas tudo tem mudado muito rápido. O empresário já reclama do trânsito e da violência.

O alemão Pascal Brandalise, diretor e administrador da Albra, optou por investir no segmento imobiliário, um dos preferidos entre os estrangeiros. Trouxe a empresa para o estado há cinco anos. Desde então, já lançou 480 unidades habitacionais em dez empreendimentos – alguns ainda em fase de construção. Pascal já investiu muito no estado, como ele mesmo diz, embora não lembre quanto. O alemão que nunca veio ao Brasil em férias escolheu o destino após pesquisas de mercado. Os números não mentiram. “O mercado natalense é muito bom”.

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