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Iraque aguarda execução de Saddam

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ÍNDIA - Crianças portam cartazes desejando vida longa a SaddamBagdá (AE-AP) – O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein poderia ter sido executado já na noite passada ou neste sábado pela manhã, segundo diferentes autoridades iraquianas. Existe também a possibilidade de que a sentença de morte seja cumprida na semana que vem, após o término do feriado de Eid al-Adha, que começa hoje. A incerteza sobre a data deve-se a variadas versões divulgadas ao longo desta sexta-feira.

O ápice das especulações deu-se durante a tarde, quando o chefe da equipe de advogados de defesa do ex-ditador informou que os Estados Unidos transferiram a custódia de Saddam para os iraquianos. Segundo analistas, esse é um indício de que o enforcamento é iminente. “Os americanos nos notificaram que entregaram Saddam para as autoridades do Iraque”, disse Khalil al-Dulaimi.

Os EUA negaram a informação. O porta-voz do Departamento de Estado Americano, Tom Casey, disse que “ele (Saddam) ainda está sob custódia dos EUA”. A Casa Branca não se manifestou. “Esse é um tema dos iraquianos, somos apenas observadores do processo”, disse o porta-voz Scott Stanzel. Mais cedo, o ex-ministro da Justiça do Catar, Najib al-Naimi, que contribuiu com a defesa do ex-ditador, disse à TV Al Jazeera que os americanos ordenaram que advogados de Saddam recolhessem seus pertences. “É uma indicação de que ele provavelmente será executado amanhã (sábado)”, observou. Badee Izzat Aref , outro advogado da equipe que defendeu Saddam, informou que o ex-ditador recebeu, na quinta-feira, a visita de dois de seus três meio-irmãos.

Segundo uma fonte do Ministério da Defesa do Iraque que presenciou o encontro, Saddam entregou seu testamento a um dos irmãos. Na última terça-feira, o Tribunal de Apelações do Iraque ratificou a sentença, proferida em novembro, que condenou à morte Saddam, seu meio-irmão Barzan al-Tikriti e o ex-juiz Awad al-Bandar. Os três foram considerados culpados pela morte de 148 xiitas em 1982.

Outro advogado que participou da defesa de Saddam Hussein afirmou à TV CNN que o ex-ditador aceitou seu destino. “Ele estava até sorrindo. Acho que ele estará sorrindo quando for executado”, disse Najib al-Nuaimi.

Preocupados com a reação que a morte de Saddam pode provocar na população iraquiana, os EUA já avisaram que estão preparados para uma eventual nova onda de violência. “As forças americanas estão obviamente em alto estado de alerta por causa do ambiente em que trabalham e por conta da situação de segurança do momento”, disse Bryan Whitman, porta-voz do Departamento de Defesa.

No mundo árabe, não há grande manifestações de protesto contra o veredicto, mas em ações isoladas, muitos seguidores de Saddam foram às ruas de países islâmicos denunciar o que consideram uma intromissão dos Estados Unidos na vida dos iraquianos. Em Nova Deli, na Índia, um grupo religioso foi às ruas pedir vida longa para Saddam, a quem consideram o líder da luta contra o Ocidente. 

Lula se pronuncia contra execução do ex ditador

Brasília (AE) – O governo Luiz Inácio Lula da Silva manifestou-se ontem contrariamente à condenação à morte do ex-presidente do Iraque Saddan Hussein, confirmada no último dia 26 pela Corte Suprema de Apelação do país. Por meio de nota divulgada pelo Itamaraty, o governo destacou que não há dúvidas sobre a brutalidade da administração ditatorial de Hussein, que se estendeu de 1979 a 2003.

Indiretamente, o texto alertou que a aplicação da pena capital não contribuirá para o entendimento entre as forças políticas do Iraque – condição tida pelo Itamaraty como essencial para a pacificação do país – e reforçou a posição crítica do governo Lula às decisões unilaterais dos Estados Unidos. “Por princípio, o Brasil é contrário à pena de morte, vedada pela Constituição Federal. Em várias ocasiões, o governo brasileiro teve a oportunidade de demonstrar essa posição em votações nos órgãos de direitos humanos das Nações Unidas. Ademais, não crê que a execução da sentença venha a contribuir para a pacificação do Iraque”, afirmou o texto.

“Neste momento particularmente difícil por que passa o Iraque, qualquer solução para a conjuntura de conflito e violência deve emanar do diálogo e do entendimento entre as forças políticas do país, bem como buscar a preservação da soberania e da integridade territorial iraquianas”, receitou, em clara oposição à presença da coalizão militar liderada pelos Estados Unidos, passados 45 meses da invasão do Iraque.

Na nota, o governo brasileiro não chegou a referir-se à pressa na execução. Preferiu ater-se aos valores contrários a tal condenação – banida do Código Penal brasileiro desde 1890 – e indicar a contrariedade do Brasil em relação às decisões tomadas por Washington na sua guerra contra o terrorismo internacional.

 O texto ressaltou que o “governo brasileiro esforçou-se até o último momento para encontrar solução pacífica para a questão iraquiana”. Mencionou ainda que o presidente Lula chegou a tratar com vários líderes mundiais sobre as alternativas para evitar o conflito armado, iniciado em março de 2003, e o seu prolongamento. Entre os interlocutores estavam o secretário-geral das ONU, Kofi Anann, e o Papa João Paulo II.

Regime de terror com execuções e torturas

São Paulo (AE) – Saddam Hussein passou a maior parte de seus 69 anos acalentando o sonho de tornar-se o maior líder do mundo árabe desde Nabucodonosor – o rei da Babilônia que, em 598 a.C., invadiu a Israel bíblica e escravizou os judeus. Jamais chegou perto disso. Sem o carisma de um Gamal Abdel Nasser, o líder egípcio (1954-1970) que impulsionou o nacionalismo árabe que varreu a região nas décadas de 60 e 70, e sem uma causa como a que ajudou a moldar o palestino Yasser Arafat como líder de massas, o máximo que Saddam conseguiu foi inscrever seu nome na história como o ditador árabe mais truculento de seu tempo.

Criou no Iraque um aparato repressivo sofisticado, que foi aperfeiçoando ao longo dos 23 anos em que permaneceu no poder. Ele buscou inspiração na organização e nos métodos da NKVD, a polícia política criada nos anos 30 pelo ditador soviético Josef Stalin.

Na época mais dura do regime, após a Guerra do Golfo, a repressão empregava 10% da população. Cerca de 500 mil pessoas atuavam em 12 órgãos diferentes, distribuídos pela máquina estatal, Forças Armadas e Partido Baath. Todos eram encarregados de vigiar uns aos outros. Só na segurança pessoal do ditador eram 32 mil agentes. Outros 2 milhões de iraquianos faziam parte de uma rede de informantes remunerados, com metas de delações a cumprir.

Saddam já demonstrava essa obsessão de vigiar de perto os adversários 15 anos antes de tomar o poder, em 1964, quando foi nomeado chefe dos órgãos de inteligência do Baath. Nessa época, ele já era um militante profissional e tinha como padrinho político um dos líderes do partido, Ahmad Hasan al-Bakr, primo distante que assumiria o poder, em 1968, num golpe. Sua ascensão no governo foi rápida. A nova era começou oficialmente em 16 de julho de 1979, quando Saddam comandou uma reunião de emergência do gabinete que ele próprio havia convocado. Nela, denunciou a descoberta de um complô envolvendo parte da liderança do partido, com apoio da Síria, para derrubar o governo. A lista trazia 60 “traidores”, incluindo cinco ministros. Guardas retiraram do auditório, algemados, cada um dos citados. A platéia, atônita, levou alguns minutos antes de perceber que um golpe havia ocorrido.

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