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JK: o “muso” do verão 2006

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Tomislav R. Femenick

Pronto, o verão brasileiro já tem o seu “muso” versão 2006: o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Com sua imensa capacidade de criar modismo, a Globo estreou a sua nova minissérie, o que ocasionou lançamentos e relançamentos de livros, fez com que peças de indumentária masculina da época voltam à moda e estradas e o desenvolvimento voltam a ser temas dos políticos.

Conheci Juscelino quando eu tinha quinze anos de idade. Eu era repórter do Jornal de Alagoas e fui escalado para entrevistar o então candidato a presidente da República. Mas o esquema de acesso ao político mineiro era muito rígido. Recorri a um caminho travesso: me filiei ao comitê local da Juventude Juscelino-Jango e fui incluído na comissão de recepção ao candidato. Assim, na primeira oportunidade entrevistei-o e levantei temas caros ao Nordeste de então (alguns ainda hoje atuais) e outros assuntos de interesse nacionais. Perguntei de seus planos sobre a seca e a agricultura irrigada, sobre a energia de Paulo Afonso, sobre estradas e previdência social. Suas respostas foram genéricas, o que demonstrava que não existia nenhum plano de governo específico para o Nordeste, pois tudo era parte do seu famoso Plano de Metas. Só deixou transparecer a determinação de fazer o crescimento da economia. Fato curioso é que na mesma oportunidade, finda a entrevista, conheci duas outras figuras da história nacional. Conheci Filinto Müller, o temível chefe da polícia política de Getúlio Vargas durante o Estado Novo, e o coronel João Bezerra, o homem que comandou o cerco à grota de Angicos, quando Lampião foi morto. O primeiro fazia parte da comitiva do candidato, o segundo foi trazido para ser apresentado a ele.

Mas voltemos ao tempo presente. Neste início de ano a Rede Globo resolver ressuscitar a figura simpática e carismática de Juscelino Kubitschek, o presidente que construiu Brasília, acelerou o processo de industrialização do país, implantou a indústria automobilística, construiu estradas (construiu e não tapou buracos). Segundo Paul Singer, meu ex-professor no mestrado da PUC de São Paulo, no governo de JK “a produção industrial cresceu 80% (em preços constantes), com as percentagens mais altas registradas pelas indústrias de aço (cem por cento), indústrias mecânicas (125%), indústrias elétricas e de comunicação (380%) e as industrias de equipamentos de transportes (600%). De 1957 a 1961, a taxa de crescimento real foi de 7% ao ano”. Grande presidente, cujo lema de governo era “50 anos em 5”.

No XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação, realizado em setembro 2001 em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Mônica Almeida Kornis, da FGV do Rio de Janeiro, apresentou um trabalho em que analisa como a história brasileira da segunda metade do século XX tem sido apresentada pelas chamadas minisséries históricas da maior rede de televisão do país – entre elas Anos Dourados, Anos Rebeldes, Agosto, Incidente em Antares, Decadência e Hilda Furacão. Sua tese é que, indubitavelmente, a emissora dos Marinhos é um importante fator na construção da identidade nacional, quando inclui em sua programação ficcional e dá destaque à temática da nossa história recente. Como não assisto nem novela e nem minisséries (nos seus horários estou ministrando aulas ou lendo), fico com a opinião de Dona Mônica. Diz ela que a Globo reconstrói conjunturas políticas recentes nos limites de um tratamento típico do melodrama.

 Entendo que isso quer dizer que muita coisa fica de fora. Por exemplo: o governo de Juscelino Kubitschek se caracterizou por uma administração desenvolvimentista mas teve como pano de fundo as inquietações que a inflação, a crise econômica e a pobreza causavam. Será que a minissérie vai destacar, ou pelo menos mostrar, esse aspecto? Será que vai abordar o embate “populismo x nacionalismo” que caracterizou a campanha de sucessão de Juscelino? Sim, porque a campanha eleitoral de 1960 teve o jogo da paixão do nacionalismo, defendido pelo Marechal Henrique Teixeira Lott (apoiado por Juscelino) contra o populismo de Jânio, que ganhou o pleito com 48% dos votos totais – e maior votação até então: 5.636.623 votos.

Mas o que fez Juscelino se destacar no imaginário nacional como um político e um administrador público? Por que ele é o modelo de estadista idealizado por todos, de José Sarney a Lula, passando por Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso – além de José Serra, Garotinho e Ciro Gomes, os candidatos não eleitos nas últimas eleições presidenciais? Por que todos o têm como paradigma, como padrão do bom governante? Simples, sabia criar projetos para o país e os tornava em realidade, isso é, soube fazer sair do papel os planos de governo apregoados nas eleições. Além do mais, sabia aplicar toda a matreirice mineira para contornar as crises políticas.

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