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José Roberto: “O RN está em posição privilegiada”

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Concessionária de energia elétrica do Rio Grande do Norte, a Cosern orgulha ao exibir ganhos de qualidade e de lucro crescentes nos últimos 10 anos, idade que tem a sua privatização. Atualmente comandada por acionistas, entre os quais o maior é o grupo Neoenergia (84,4%), a companhia assegura o fornecimento de energia para o estado mesmo com o crescimento potiguar estando bem acima das médias do Nordeste e do país. Nesta entrevista exclusiva à TRIBUNA DO NORTE, o diretor-presidente da empresa, José Roberto Bezerra, fala sobre como as melhorias da Cosern nos últimos anos atingem o consumidor e quais as perspectivas do mercado de energia elétrica apontam para aumento da tarifa.

Como estão as perspectivas da empresa para este ano e para os próximos cinco anos?
A empresa se preparou muito bem. Nos últimos anos, ela tanto investiu na melhoria da qualidade técnica como comprou energia muito bem. O mix de energia da Cosern, além de ser barato, garante energia para o RN pelos próximos anos sem nenhum problema de escassez. Então nós temos possibilidade, no estado, de atrair investimentos, indústrias, porque temos disponibilidade de energia. Se há industrial que precise se instalar no Brasil e que esteja olhando o valor da energia e a disponibilidade de energia, o RN pode dizer que essa empresa pode ser atraída. A perspectiva para a Cosern de atendimento ao mercado atual e do mercado com expansão é totalmente favorável.

Mesmo considerando as mais otimistas das perspectivas de crescimento da demanda?
Sim. No quadro de maior crescimento que projetamos, ele é atendido sem problemas com a carteira de fornecedores que a Cosern tem.

E que quadro é esse?
Temos projeções que mostram crescimento significativo no RN em torno de 6% a 7% ao ano. Isso seria totalmente viável. Já vemos isso nos anos anteriores. O RN tem apresentado nos últimos anos crescimento no consumo de energia que superam a média do Nordeste e do Brasil. Entre 2002 e 2007, enquanto a energia injetada no Brasil cresceu 31,8% e a do Nordeste 36,9%, a do RN cresceu 50,9%. Então, esse crescimento é viável e nós estamos preparados para isso.

Esse aumento do RN acima da média acontece por quê?
Justamente pelo crescimento maior que o estado do Rio Grande do Norte apresenta. Nosso PIB está crescendo mais. O estado tem, ano a ano, galgado, frente aos demais estados do Nordeste, uma posição de mais relevância. Primeiro tem a garantia da energia, que é mais um atrativo para os investimentos. Eles chegam, geram emprego e renda e cria-se o chamado círculo virtuoso.

Em 1997, a Cosern deixou de ser uma estatal. Como o senhor avalia esses 11 anos de privatização?
A Cosern teve um grande desenvolvimento, principalmente na sua área tecnológica. A empresa investiu muito nesse período e esses investimentos foram muito direcionados para a melhoria do sistema elétrico. Nós tivemos um crescimento muito forte em todas as áreas. Isso refletiu na qualidade. A qualidade do fornecimento de energia hoje oferecido pela Cosern é muito superior à que tínhamos anteriormente, motivado, principalmente, por esses investimentos.

O que muda quando comparamos uma gestão privada e uma gestão pública? Quais o senhor acha que são os principais pontos que fazem a diferença, nesses dois tipos de gestão, em uma empresa como a Cosern?
São visões diferentes. Em uma empresa não privada, como era a Cosern, podemos dizer que o dono era o Governo do Estado, como acionista majoritário. Naturalmente o governo tem outros compromissos que não aqueles única e exclusivamente ligados à atividade-fim da empresa. A Cosern, hoje, pode se dedicar, posso dizer, com exclusividade, à sua atividade-fim, que é distribuir energia no RN, olhando para aspectos como qualidade, atendimento, preço do produto, confiabilidade. Tudo aquilo que o consumidor espera desse serviço, o serviço público essencial que é o fornecimento de energia elétrica. Olhando um pouco para trás, a visão que o governo tinha era de também enxergar que a empresa poderia se dedicar a outras atividades que não fossem exclusivamente atividade de distribuição, como, por exemplo, a empresa atender, em determinada circunstâncias, a interesses do grupo político a que pertence o governo estadual. Essa é a grande diferença: a ingerência que existia anteriormente, pela própria natureza do proprietário, que era o Governo do Estado. Hoje, a Cosern uma empresa privada que fica à margem dessas questões.

E qual a diferença desses dois tipos de gestão e desses 10 anos de privatização para o consumidor?
Com base nas avaliações que são feitas periodicamente, tanto pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) como pela Abrade (Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica), que anualmente faz pesquisa para pontuar como andam as empresas neste quesito, verifica-se que o consumidor hoje tem uma visão diferente do que é a atividade da Cosern e no que diz respeito à confiabilidade pelo serviço, pela boa imagem que a empresa hoje tem. Enfim, a percepção do consumidor é que a empresa melhorou muito, que a Cosern tem uma boa pontuação em relação ao que era anteriormente. E isso não é opinião, é o resultado das pesquisas feitas junto aos consumidores.

Na semana passada, houve um reajuste de energia que teve percentual negativo, com média de -5,8%. Porém, o percentual que a Aneel tinha proposto antes representava uma queda média ainda maior, de -9,3%. O que houve?
A legislação estabelece, no caso específico da Cosern, que a cada cinco anos haja esse processo de revisão tarifária, que deve levar as tarifas para um ponto de equilíbrio, tanto no equilíbrio econômico da concessão quanto nos aspectos da possibilidade da empresa prestar um bom serviço. Tudo isso é colocado pela Aneel em números, em relatórios, em análises, em fiscalizações, que são colocados dentro de um modelo que, por sua vez, aponta a tarifa adequada para aquela área de concessão. A diferença que houve entre o número preliminar, apontado pela Aneel, e o que finalmente foi publicado, foi justamente por todo o processo que ainda estava em apuração, do que foi extraído pela Aneel na audiência pública, pela análise feita pela Aneel dos relatórios que ainda estavam sendo processados. Feita a verificação de tudo isso, chegou-se à conclusão que o reajuste da Cosern para o ano de 2008 seria, sim, um reajuste negativo, mas que refletiria um índice menor do que o apontado anteriormente.

De qualquer forma, a Cosern se mantém como uma das concessionárias que têm as menores tarifas do Brasil. Mas a própria Aneel diz que poderia ser menor se não houvesse o peso do repasse para garantir a segurança energética do país. Como é a relação das concessionárias com essa responsabilidade de manter também esse sistema emergencial?
Isso tudo está dentro da legislação que rege o setor que rege o setor elétrico. Todos os custos que são inerentes aos serviços de uma distribuidora são contemplados pela Aneel para definir a tarifa. Hoje, a necessidade por energia dos diversos setores consumidores do país aponta para um incremento na quantidade de energia. O crescimento do Brasil na faixa de 5% leva a uma necessidade da oferta de energia em torno de 10% acima do crescimento. Nesse ambiente todo, precisamos de energia de diversas fontes. A matriz energética brasileira hoje é bastante diversificada. Temos aí uma grande predominância da energia hidráulica. Temos uma pequena monta de energia de fonte térmica, de termelétrica, e menor ainda de bioenergia, de eólica. O valor que é pago pelas empresas distribuidoras ao adquirir essas energias é colocado na composição dos custos, a energia que provém de empreendimentos térmicos, por ser mais caro, pesa na tarifa. Não é especificamente o caso da Cosern. Todas as empresas concessionárias do país pagam por essa diversificação: hidráulica, térmica, biomassa, eólica.

Considerando que, aparentemente, a tendência é que a energia seja algo cada vez mais valorizado, o senhor acredita que isso vai pesar cada vez mais na tarifa?
A matriz energética brasileira está mudando muito rapidamente. Porque o mercado está sendo cada vez mais exigente em termos de quantidade de energia. E as fontes de atendimento dessa nova demanda, hoje, já exigem a participação da térmica. Como ela é mais cara, pode-se dizer que o preço da energia elétrica no Brasil será crescente. Os novos empreendimentos que entram, sejam eles térmicos, ou até hidráulicos – que têm preços mais baixos -, por serem novos, por exigirem transporte dessa energia em longas distâncias, como é o caso das usinas do Rio Madeira, vão fazer as energia ser mais cara.

Haveria alguma forma de se conseguir compensar esses custos com outros investimentos, como Termoaçu e energia eólica?
Independente da posição onde esteja esse empreendimento, e até da fonte utilizada para gerar, a energia será mais cara. O custo da energia elétrica no país e no mundo é crescente. Quando nós olhamos, por exemplo, a energia térmica proveniente de combustíveis fósseis, estamos vendo a explosão do preço do petróleo, acima de US$ 100 o barril há muito tempo. Uma energia que já é naturalmente mais cara torna-se mais cara ainda por causa do custo do petróleo. Tem a energia hidráulica, que, por natureza, no caso do Brasil, é mais barata. Mas é como falei há pouco: esses empreendimentos hidráulicos de grande porte estão cada vez mais distantes e têm um custo alto de transmissão.

E a eólica?
Temos no estado um empreendimento de grande porte, em Rio do Fogo, que é da Iberdrola, um dos sócios da Cosern, mas que não é do mesmo grupo. Ela não precisa de petróleo, não tem que pagar royalties pelo uso da água. É movida pelo vento, que está aí, de graça. Mas hoje ainda é uma energia cara. Apesar de limpa, não agressiva, é a mais cara. Ao longo dos anos o custo dela está caindo rapidamente de valor devido à escala maior que adquiriu no mundo, mas mesmo assim é muito cara. Há uma tendência de continuar esse barateamento, mas a energia eólica tem outra peculiaridade: como ela depende do vento, não é contínua. Mesmo aqui no RN, o melhor lugar do país para produção de eólica, o vento não sopra 100% do tempo. E a energia, por essa característica de ser produzida e consumida no momento, se não tiver vento, não tem energia. Se uma indústria depender 100% de energia eólica terá uma dificuldade operacional muito grande. A energia eólica é importante, mas tem que ser sempre complementar. É preciso ter empreendimentos com energia hidráulica, térmica, atômica.

Em relação a outra fonte de energia que temos no RN, a Termoaçu, considerando que a Cosern vai ser um dos compradores, qual será a importância da energia dessa usina para os consumidores?
A Termoaçu, essa sim tem participação direta do grupo Neoenergia, na sociedade com a Petrobras. São 20% da Neoenergia e 80% da Petrobras. Nessa tarifa que comentamos há pouco que há uma redução, ela já inclui a energia que virá da Termoaçu. Mesmo a Termoaçu sendo um empreendimento térmico, mesmo tendo um valor por kiloWatt/hora mais caro do que nós já compramos da energia antiga, dos empreendimentos já depreciados que fazem parte da Chesf, por exemplo, mesmo assim ela não fez o consumidor do RN pagar mais caro, porque  o preço dela ainda é bastante competitivo. A Termoaçu foi projetado há alguns anos e a realidade energética daquela época permitiu isso, até porque ela também terá geração de vapor, que será usado pela Petrobras.

Então essa é a vantagem para o RN em ter a Cosern comprando energia da Termoaçu?
Hoje o RN tem uma vantagem competitiva muito grande no que diz respeito à disponibilidade de energia porque na composição do que a Cosern tem no seu mix de compra, o valor do mix no RN nos permite dizer que é um dos mais baratos do Brasil e, com segurança, o mais barato do Nordeste.

Mas, mesmo com todos esses investimentos em novas térmicas e outras fontes, o fantasma do apagão ainda ronda o país e o Nordeste. Já li previsões que falam em novos racionamentos entre 2009 e 2012. Esse risco é real?
Os empreendimentos que vão afastar esse risco estão sendo iniciados. Essa energia em grandes volumes, ao entrarem, daqui a cinco, seis anos, vão afastar esse fantasma do chamado apagão. Hoje, porque ele fica sempre sobre nossas cabeças? Pela característica do nosso sistema atualmente. Ele ainda é iminentemente hidráulico, que só vem da geração que depende de vazão de rio. E os rios, para terem vazão adequada, têm que ter água armazenada e, para isso, precisamos de chuva. No Brasil, o incremento da oferta de energia tem sido, ao longo dos anos, menor do que o crescimento do mercado. Nós passamos a ter uma característica diferente em termos da capacidade de geração. A água armazenada no período de chuvas servia para gerar nos próximos dois, três anos, hoje só dá para um ano, porque não aumentamos a quantidade de geração e a necessidade de consumo aumentou. Assim, o risco do racionamento fica presente, o valor da energia nesse caso fica altíssimo. Até nós termos todos esses empreendimentos que estão sendo construídos em operação, temos que depender muito de São Pedro. Se não tivéssemos tido, agora em 2008, essa quantidade de chuva nos principais reservatórios, estaríamos em uma situação muito complicada em termos de disponibilidade de energia. Não no RN, mas no sistema do país como um todo, que é interligado.

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