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Jovem, nordestino e desempregado

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Do Estadão Conteúdo

O agravamento da crise econômica intensificou o nível de desemprego no Brasil, principalmente entre os mais jovens. Levantamento elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea) aponta que um entre quatro brasileiros com menos de 25 anos está desempregado. O estudo também mostra que, no universo das pessoas atingidas pelo desemprego, a situação é mais grave no Nordeste, entre mulheres e jovens, entre pessoas com ensino médio incompleto e moradores das regiões metropolitanas. Esse grupo também é composto principalmente por pessoas que não são chefes de família. As informações foram divulgadas na última sexta-feira, dia 10.
Após atingir um pico de 44% no terceiro trimestre de 2012, os jovens ocupados eram apenas 37% no primeiro trimestre de 2016
O detalhamento feito pelo Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea aponta que o porcentual dos brasileiros entre 14 e 24 anos que não possuem emprego subiu de 20,89% no 4º trimestre de 2015 para 26,36% no 1º trimestre deste ano. “Após atingir um pico de 44% no terceiro trimestre de 2012, os jovens ocupados eram apenas 37% no primeiro trimestre de 2016”, aponta a Carta de Conjuntura do Ipea referente ao mês de junho.

Entre as pessoas com 25 a 59 anos, a taxa de desemprego cresceu menos, de 6,69% para 7,91%. O mesmo ocorreu no grupo formado por pessoas com mais de 59 anos, cuja taxa de desemprego oscilou de 2,52% para 3,29% no mesmo período analisado.

Regiões

Na comparação por regiões, a taxa de desemprego no Nordeste continua sendo a mais elevada do País. O indicador subiu de 10 45% no quarto trimestre do ano passado para 12,80% no primeiro trimestre deste ano. Na região Sul, onde a taxa de desemprego é a mais baixa do País, o indicador oscilou de 5,69% para 7,35%. A taxa geral do Brasil variou de 8,96% para 10,90% no mesmo período de comparação.

A taxa de desemprego também atinge mais as mulheres (12,75%) do que os homens (9,48%), mais aqueles que não são chefes de família (15%) do que aqueles que são (6,07%) e mais quem mora nas regiões metropolitanas (11,93%) do que quem mora fora delas (10,13%). Na divisão por escolaridade, aqueles que possuem o ensino médio incompleto são os que mais sofrem, com 14,95% de taxa de desemprego. Quem possui o superior completo enfrenta o ambiente menos adverso, com uma taxa de desemprego de 7,64%.

A pesquisa mostra que todos os grupos analisados registraram aumento do desemprego na comparação entre o primeiro trimestre de 2016 e o quarto trimestre do ano passado. O mesmo acontece na comparação com o primeiro trimestre de 2015, quando a taxa nacional estava em 7,94%.

“Desde o último trimestre de 2015, os dados da PNADC indicam que o aumento do desemprego foi causado majoritariamente pela queda da população ocupada, tendo sido reduzida a contribuição do aumento da população economicamente ativa (PEA)”, aponta o estudo do Ipea, em referência à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. “Por outro lado, o aumento do desemprego não tem sido ainda mais intenso, pois muitos trabalhadores têm tomado a iniciativa de se tornarem trabalhadores por conta própria”, complementa a Carta de Conjuntura.

O documento ressalta que a situação de desemprego do País continuou a se deteriorar no início do segundo trimestre. Tanto que a taxa de desemprego, que terminou o primeiro trimestre em 10,90%, subiu para 11,2% no trimestre móvel que inclui o mês de abril.

Rendimento

Com o aumento do desemprego, a renda média do trabalhador ficou praticamente estável, em contraste a uma taxa de inflação que oscila ao redor de 10% ao ano. “A média dos rendimentos no primeiro trimestre ficou em R$ 1.974,00, apenas R$ 5 maior que a média do último trimestre de 2015, porém bastante abaixo dos R$ 2.040,00 observados no início de 2015 e final de 2014”, aponta o documento. No trimestre encerrado em abril, o rendimento médio já havia caído mais um pouco, para R$ 1.962,00.

Os dados da PNADC, ressalta o Ipea, mostram que a redução nos salários reais foi pior em setores que exigem menor qualificação. No grupo de pessoas que recebem menos que o mínimo os rendimentos reais caíram aproximadamente 10% nos últimos 12 meses. “Já o rendimento real do decil superior da distribuição de renda caiu 6,7% no último ano”, compara o Ipea, ao analisar os dados do primeiro trimestre deste ano.

‘O Brasil vai começar a criar empregos no 2º semestre’

O desemprego vai deixar de aumentar em julho e, a partir do segundo semestre, o Brasil deve registrar de novo a criação de postos do trabalho. Quem faz a previsão é o ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira, que nesta semana esteve em Genebra nas reuniões anuais da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, ele garantiu que “direitos não serão revogados, mas aprimorados” e que vai chamar todas os sindicatos para desenhar novas leis trabalhistas para o País a partir de julho. Nogueira foi alvo de protestos por parte da CUT e sindicatos estrangeiros, ao discursar na sede da ONU. Com cartazes escritos em inglês e francês, os sindicalistas acusavam o ministro e o governo de “não serem legítimos”. Mas ele insiste que vai se oferecer a visitar a CUT para “criar diálogo”. Veja os principais trechos da entrevista:

A mudança de governo no Brasil representa uma mudança da posição do País na OIT?
O Brasil tem uma sequência de posicionamento sobre os mais diversos temas tratados aqui na OIT. O Brasil não muda o seu posicionamento. Não há nenhuma novidade. Mantemos nosso posicionamento estratégico, garantindo sua soberania e mostrando ao mundo que é exemplo na aplicação da legislação para garantir o trabalho decente. Nenhum outro país tem tantas convenções da OIT referendadas como o Brasil.

Existe alguma chance de alguma dessas convenções serem revistas agora, com direitos retirados?
Direito você não revoga. Direito você aprimora.

São 11 milhões de desempregados no Brasil. Quando a curva pode começar a mudar e quanto tempo  esperar até voltar a uma taxa menor?
Assim como outros problemas do mundo, o Brasil também enfrenta o desemprego. Mas o Brasil não se acomoda diante de uma taxa de desemprego tão alta. Não é a mais alta do mundo. Mas queremos reverter essa curva e as medidas que se tomam é um conjunto. Entre elas temos de estabelecer um ambiente de confiança entre os investidores e essa confiança temos condições de mostrar. No Brasil, há fidelidade nos seus acordos. A economia retoma seu crescimento e, com isso, a tendência do desemprego chega no marco zero. Eu acredito que teremos isso no mês de julho. No primeiro trimestre do segundo semestre, vamos dar a primeira marcha para a retomada da empregabilidade no Brasil. Vamos começar a recriar postos de trabalho no Brasil.

Precisa haver mudança em leis para acelerar aa criação de empregos?
Não é a lei o impeditivo. Temos confiança de que os próprios trabalhadores têm a visão de que a lei precisa ser aprimorada para que outras atividades que surgiram a partir da década de 80 e que não estão na lei trabalhista elaborada na década de 40, possam ser tratadas. Algumas profissões não existem mais e precisa haver uma readequação. Não há por que manter na lei contrato para datilógrafos. A elaboração da lei vai partir dos trabalhadores. Serão protagonistas e não serão surpreendidos. São eles quem conhecem sua realidade. Nós somos o Ministério do Trabalho, não da Indústria e Comércio. E por isso vamos promover políticas públicas de proteção ao trabalhador, de proteção ao emprego.

Quando é que os trabalhadores e sindicatos vão começar a trabalhar nessas novas propostas?
Eu estou visitando todas as centrais sindicais. São centrais importantes e precisam estar na mesa para construir essa legislação.

Esse trabalho de elaboração de uma nova legislação começa quando?
Na segunda quinzena de julho. Nós já temos uma comissão formada por trabalhadores, empregadores e governo. Vamos aprimorar a comissão, dar autonomia e pedir metas e prazos.

Há tempo de apresentar essas propostas ao Congresso em 2016?
Algumas medidas já deveriam ter ocorrido. O próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou um grupo de trabalho e dá para aproveitar muita coisa dali. A presidente Dilma Rousseff também estava preocupada com essas questões, justamente para retomar a empregabilidade. A grande queda ocorreu justamente no exercício de seu mandato. Deve ter ideias extraordinárias que possam ser usadas. No Brasil, podemos ter divergência ideológica. Mas tenho condição de sentar com todos. Eu não os tenho como inimigos. Mas, como brasileiros bem intencionados e que, no ponto de vista deles, estão buscando o melhor para o Brasil. Precisamos de um modelo de legislação que reduza o conflito entre o trabalho e o capital.

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