Repórter
Pode-se dizer que a música está presente em cada centímetro da casa de Isadora: desde a sala, a cozinha e em especial o seu quarto. A natalense coleciona discos, livros e imagens de artistas nos quais se inspira. O amor pelo piano começou cedo, aos seis anos de idade, por influência da mãe, Fernanda Ferreira, também pianista. Além da mãe, as notas musicais estão presentes no sangue de toda a família: o pai, Daniel, toca fagote e já estudou guitarra, além do irmão mais velho, Dimitri, flautista. Nas partituras que iriam escrever o roteiro da vida de Isadora, a música não tinha como entrar por um ouvido e sair pelo outro.
“Eu comecei aos seis anos de idade pela forte influência da minha mãe, que tocou desde pequena também. E eu sempre acompanhava e via que o piano era um instrumento interessante. A partir daí comecei a me interessar e foi um caminho sem volta, uma paixão à primeira vista”, conta para a Tribuna do Norte.
Ainda cedo, na infância, Isadora passou a fazer cursos e ter aulas para ganhar ainda mais ritmo e ampliar seu leque de conhecimento sobre o piano, instrumento considerado difícil e que requer bastante estudo, disciplina e concentração na busca das notas e harmonias corretas. Numa rápida conversa com a pianista, é possível notar que, apesar da pouca idade, a jovem já domina conceitos específicos e complexos do instrumento de cordas percussivas.
Recentemente, Isadora participou do Concurso de Piano Souza Lima 2018, em São Paulo/SP, um dos mais renomados do país. Executando as obras “Arabeske”, do compositor alemão Robert Schumann, e o “Prelúdio da Suíte Inglesa em lá menor”, do também alemão Johann Sebastian Bach, “Isa”, como é carinhosamente chamada pelos pais, ficou em primeiro lugar na categoria de 12 a 14 anos. Vale salientar que esta não foi a primeira vez que a natalense subiu no lugar mais alto do pódio: em 2016, venceu o Concurso Nacional de Piano, promovido pela Universidade de São Paulo.
Não é nenhum exagero dizer que o instrumento escolhido por Isadora não é dos mais populares nem dos mais praticados, seja por adultos ou adolescentes. Sendo um ponto fora da curva entre amigos e colegas de escola, Isadora conta que gosta muito de ir aos eventos e recitais de piano justamente para estreitar laços com pessoas da área, visto que, em Natal, segundo ela, dialoga e troca experiências apenas com pessoas adultas.
Enquanto vai galgando espaço em concertos nacionais visando mostrar o seu trabalho, Isadora também não esquece as raízes locais. Neste ano, ela teve um projeto aprovado pela Lei Djalma Maranhão, intitulado “Oriano e Isadora”, que tem o objetivo de homenagear o pianista paraense radicado em Natal, Oriano de Almeida (1921-2004). Tido como um dos maiores artistas de sua geração, a ideia é resgatar e, principalmente, manter viva a memória do pianista potiguar. O projeto, que será executado ao longo de 2019, terá três momentos: aulas de piano para aperfeiçoar ainda mais a técnica com os professores Guilherme Rodrigues (EMUFRN) e Marisa Lacorte (UMESP), um curta-metragem dirigido pelo potiguar Carito Cavalcanti e um recital para fechar o projeto com chave de ouro. Em todas as fases, o repertório e o trabalho de Oriano estará em evidência, unindo o saudosismo do passado com o talento do presente e, quiçá, do futuro.
Apesar da pouca idade, Isadora já conta que está decidida do caminho que quer seguir: pretende estudar música e fazer carreira. Aliado a isso, há outro fator para a certeza de Isadora: a baixa presença de mulheres pianistas no Brasil e no mundo.
“Para mim é uma carreira muito inspiradora porque isso me faz pensar em todo esse processo que eu tive e todo o processo dos pianistas brasileiros. A bandeira feminina não vem sendo explorada aqui no Brasil, sempre teve uma presença mais masculina. Queria poder quebrar um pouco disso”, comenta, citando três das suas grandes inspirações, como a fluminense Magdalena Tagliaferro e as paulistas Antonieta Rudge e Guiomar Novaes,