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Jovens estressados

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Isaac Ribeiro
repórter

Quem pensa que ser jovem é só curtição, vida boa… tudo na paz, pode mudar de conceito ao conferir os números de um estudo recém-divulgado que mapeia o nível de estresse da população a partir da idade. A surpresa foram os níveis de  tensão entre os jovens. E quanto mais novo, mais estressado!

De acordo com a pesquisa, 37% dos jovens na faixa entre 24 e 37 (Geração Y) anos são altamente ou moderadamente estressados. O pessoal com até 23 anos (Geração Z) apresenta um índice de 36%. Em seguida vem a galera mais madura, entre 38 e 49 anos, com 31% de estressados.
Para o psicólogo Klaus Morais o choque entre as gerações de pais e filhos está ocorrendo mais cedo devido ao acesso à informação, gerando mais conflitos e estresse
O Enem  aparece como principal vilão da chamada Geração Z, os novinhos; enquanto a geração Y — os mais estressados — já estão inseridos no mercado de trabalho e buscando estabilidade financeira, profissional e sentimental… ufa!

Na geração dos ainda mais maduros, digamos, com idade entre 50 e 69 anos, os chamados Baby Boomers, o estresse é mais baixo, 22% apenas.

O estudo foi encomendado pela SulAmérica Saúde e os resultados obtidos a partir de 43.641 questionários, distribuídos entre clientes do grupo, entre 2010 e 1023, em 13 capitais. Foram ouvidos 40% de mulheres e 60% de homens.

Mas o estresse entre os jovens não aparece em destaque apenas no estudo acima. Outras entidades internacionais também investigaram o caso. A Associação Americana de Psicologia coloca a Geração Y mais ansiosa e estressada que as outras; e as causas seriam trabalho (76%), dinheiro (63%) e relações pessoais (59%). Já os tais Baby Boomers se estressam mais com problemas de saúde consigo e com os familiares. 

Mas o estresse também pode ter seu lado positivo. A psicóloga Jemima Morais Veras ressalta a importância de saber domá-lo e usá-lo em benefício próprio. “O problema não é se estressar. Precisamos lidar com o estresse. Dentro de um nível aceitável ele é importante na nossa vida, pois nos impulsiona a ir em busca dos nossos sonhos. Nos livra dos perigos, porque ficamos mais atentos. A questão é cuidar para não perder o controle e ser dominado por ele.”

Cobrança por “futuro promissor” estressa jovens
O estresse é tido como um fenômeno bem comum no mundo atual. É considerado uma resposta do organismo quando precisa se adaptar a uma situação de pressão cujo indivíduo não está realmente preparado. Sinais recorrentes como esquecimento, desgaste mental, cansaço e irritação podem evoluir para doenças crônicas como a asma, ou ainda problemas dermatológicos, alérgicos ou imunológicos, e ainda gastrites, depressão e, sobretudo, doenças cardiovasculates.

A pressão sobre os jovens, principalmente para pensarem em um futuro promissor, os empurra para todas essas reações físicas e psicológicas. Sem contar as múltiplas atividades deles: postar nas redes sociais, ouvir música, assistir a filmes, paquerar, responder emails, postar nos inúmeros grupos, e ainda fazer trabalhos escolares ou acadêmicos, e a aceitação nas atividades sociais, da, digamos, vida real.

“É a geração que nasceu conectada, com um conceito inato de flexibilidade e mudança. Muitas vezes chegam à universidade ou primeiro emprego esperando encontrar um ambiente flexível e se deparam com estruturas mais rígidas e formais, o que também contribui para o alto nível de estresse”, comentou Gentil Alves, superintendente de Gestão de Saúde Populacional da SulAmerica, realizadora da pesquisa.

Choque de gerações
O psicológico Klaus Morais, especializado em questões da juventude, comenta que a tal geração Z, até os 23 anos de idade, estão numa transição para a vida adulta, onde tudo é transformação e treinamento para esse próximo passo. E o Enem acaba sendo um marco, o primeiro enfrentamento para o início da maturidade, assim como a carteira de motorista. A profusão hormonal deixa a sensibilidade desse jovem extrema. “Nessa fase, está se transformando em adulto e a quantidade de hormônio que circula no organismo é imensa. Então, o sujeito fica sensível ao amor, ao ódio, à raiva, à angústia… Além de socialmente ele não estar preparado para lidar com essa pressão, fisiologicamente por conta dessa transformação, qualquer toque, qualquer erro, desacertos com relação ao futuro causa uma ansiedade extrema e o sujeito se torna estressado”, analisa o psicólogo.

Ele também chama a atenção para a velocidade da informação nos dias de hoje —com acesso livre a internet e às redes sociais — com reflexo direto no conflito de gerações.  De acordo com ele, apesar de sempre terem havido, as alternâncias de conservadorismo e liberalismo são mais rápidas atualmente.

“Esses saltos sociais  aconteciam de dez em dez anos. Hoje, pela velocidade da informação, acontece de cinco em cinco, de três em três, e cada vez mais rapidamente. Quando eu vejo um adolescente ou um cara de 23 anos, e percebo o estresse que isso causa é porque o relativismo do que é certo e do que é errado ficou muito volátil. É muito rápido.”        

GERAÇÕES ANALISADAS
Confira as características de cada uma e com que se estressa

GERAÇÃO Z (até 23 anos)
Tendência a ser mais silenciosa e virtual. A geração é retratada. É retratada como tendo menos interação social, além de menor expressividade na comunicação verbal. Pessoas dessa geração tendem a dar menos importância aos objetivos profissionais, assim como se mantêm relativamente alheias à vida.

GERAÇÃO Y (de 24 a 37 anos)
Considerada a geração do milênio, é vista como a da internet, apresentando grandes avanços tecnológicos. Geração tida como individualista e muito competitiva, que participa mais nas ações que as atraem. Pessoas desse grupo priorizam a ética e a responsabilidade e têm sede por inovação.

GERAÇÃO X (de 38 a 49 anos)
Geração da tranquilidade, estabilidade e equilíbrio. Tem conhecimento embasado e profundo sobre os temas, além de um pensamento mais racional. Essas pessoas costumam apresentar mais dificuldade com linguagem visual.

BABY BOOMER (de 50 a 68 anos)
Filhos do pós-guerra, inventores da era da ‘paz e amor’. Eles tendem a manter relações de amor e ódio com os superiores e agem geralmente em consenso. Geração que valoriza o emprego fico e estável e prefere ser reconhecida pela sua experiência à sua capacidade de inovação.

O ESTRESSE EM CADA GERAÇÃO
35,9% – Geração Z
37,1% – Geração Y
31,6% – Geração X
22,0% – Baby Boomers

Bate-papo – Jemima Morais Veras
Psicóloga

“É preciso se organizar, dividir bem o tempo”

— Por que os jovens andam tão estressados hoje em dia?
Acredito que há uma expectativa da mídia, da  sociedade e em cada família para que os jovens obtenham determinadas conquistas. Isso é importante porque mantém um certo nível de estresse que os obriga a cumprir com seus compromissos e lhes dá um sentido de responsabilidade. Principalmente com tantas coisas atrativas para se fazer: Zbox, PlayStation, Nitendo Wii, Netflix, Facebook, WhatsApp, Instagram… É muita coisa. Possivelmente, essas maravilhas seriam atrativas em qualquer época. Vamos admitir que são incríveis por isso, é tão difícil deixar de lado. Então, com tantas opções para entreter e tantas compromissos, surgem os conflitos familiares e internos. É a luta entre os prazeres de hoje e os sacrifícios para o futuro. Como vivem um momento onde o foco é o agora, fica difícil se concentrar em atividades, muitas vezes descontextualizadas, voltadas para o amanhã.

— O Enem aparece como grande fator estressante da juventude. O quão estressante esse processo é realmente estressante para os jovens? Por quê?
Certamente, nesse mundo de grande competitividade, não é fácil se estabelecer profissionalmente sem uma boa qualificação, por isso é preciso investir logo cedo. Acontece que isso, muitas vezes, é feito com muita pressão. Os jovens precisam de tranquilidade, de orientação, de acolhimento e de vínculos afetivos bem estabelecidos para que possam fazer suas escolhas, se concentrar em suas atividades, ouvir sugestões e consequentemente se sentir seguros.

— O que mais tem estressado os jovens nos dias de hoje?
Nos dias de hoje, os jovens estão bem estressados, mas é sempre bom prestar atenção a alguns fatores: como está o clima da casa? Ele está recebendo a atenção necessária? Está satisfeito com ele mesmo? Como está sua perspectiva de vida? Será que não está sentindo medo? Será que não está fazendo muita coisa? Será que precisa de alguma ocupação? Está ficando muito tempo no computador ou mexendo  celular… Enfim, são muitas questões que devem ser respondidas quando se pensa em jovens estressados.

— O que o jovem pode fazer para aliviar o estresse?
É preciso se organizar, dividir bem o tempo, num horário, ter hora pra estudar, para ler, para usar internet… Não acumular tarefas, ter contatos sociais, viajar, fazer sempre algo que gosta, manter um bom clima com os familiares, ouvir música, fazer uma atividade física que ache prazerosa, ir ao cinema, entre outras coisas.

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