Dados divulgados nesta semana pelo Banco Central mostram que a taxa de juros do rotativo do cartão de crédito – que entra em ação quando o consumidor paga apenas o valor mínimo da fatura – bateu recorde em janeiro. Em meio à disparada, especialistas chamam a atenção para uma mudança que está prestes a ocorrer e que, espera o governo, vai estimular o uso mais consciente dessa modalidade e ajudar a reduzir as taxas de endividamento e inadimplência.
#SAIBAMAIS#Na prática, a partir de abril, o consumidor só poderá recorrer ao uso do rotativo do cartão de crédito uma vez. O Banco Central limitou o uso dessa linha de crédito pelo prazo máximo de 30 dias. Depois disso, a dívida deverá migrar obrigatoriamente para outra modalidade de crédito com juros menores.
A expectativa com a mudança nas regras é fazer com que as taxas do rotativo, hoje em torno de 486% ao ano, se aproximem mais das praticadas no sistema de parcelamento da fatura, em 150% ao ano. O rotativo tem atualmente as maiores taxas de juros do mercado, batendo até mesmo a do cheque especial.
A mudança no rotativo vai pressionar os consumidores a não pagar apenas o mínimo e evitar a sobreposição de juros – o que deve pressionar também a redução das taxas de juros, explica o economista e professor da Escola de Gestão e Negócios da Universidade Potiguar (UnP), Estevani Oliveira, que pondera: se não houver educação financeira pode haver novas contas em atraso e até retração do consumo.
“É uma medida positiva porque busca incentivar a adimplência, dar condições de pagamento, combater o superendividamento. E a bola de neve dos juros do rotativo vai parar de crescer. Mas é preciso que a taxa Selic continue caindo e o consumidor se eduque e se programe financeiramente”, explica Oliveira.
Inadimplência
A mudança nas regras do rotativo vem no bojo de um conjunto de ações adotadas pelo Governo na tentativa de reduzir as taxas de juros e a alta inadimplência.
Estevani alerta que é preciso educação financeira para não recair no superendividamento, uma vez que a regra é de difícil compreensão para o consumidor.
A limitação do prazo do rotativo reduz o risco de o débito se tornar impagável. Contudo, pondera o professor, quem gasta além da conta precisa ter consciência de que, mesmo no caso do parcelamento do restante do valor da fatura, o juro do parcelamento também é caro. E caso a capacidade de pagamento do cartão esteja comprometida por um prazo maior do que um mês, o ideal é optar por linhas com juros mais baratos em vez de parcelar.
“Quando você ou paga ou faz o refinanciamento automático do saldo devedor, mesmo com juros mais baixos poderá, devido a falta de educação financeira dos consumidores, ter uma nova bola de neve”, explica Estevani Oliveira. Se o usuário não quiser que o banco parcele o saldo do rotativo terá que pagar a fatura integralmente.
O ideal é fazer compras à vista ou para o vencimento do cartão e evitar as compras parceladas. “Quando se divide acaba-se perdendo a noção real capacidade de pagamento. Trabalhar com tabelas de receitas, despesas e reserva é uma forma de não perder a programação das contas”, orienta o professor.