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K-Ximbinho

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Dácio Galvão

No lançamento da revista Palumbo, editada pelo jornalista Osair Vasconcelos e o escritor Tarcísio Gurgel, em novembro de 2009, o Projeto Nação Potiguar (Fundação Helio Galvão/Escritório Candinha Bezerra) trouxe para abrilhantar o evento o clarinetista Paulo Moura, que faria na ocasião sua última apresentação em Natal. Na mesma edição da Palumbo, publiquei uma entrevista exclusiva na qual o músico e compositor falou sobre Sebastião de Barros, o nosso K-Ximbinho, nascido em Taipu, que no ano de 2017, se celebra os cem anos do seu nascimento. Para encorpar a trajetória desse excepcional músico achei por bem republicar esse depoimento histórico.   
                   
K-Ximbinho, estudou com  Hans-Joachin Koellreutter o compositor e flautista que revolucionou a pedagogia musical na América Latina. Foram alunos de Koellreutter, maestros do porte de Júlio Medaglia, Diogo Pacheco, Isaac Karabtchevsky, Benito Juarez;  compositores  da categoria de Cláudio Santoro, Edino Krieger, Guerra Peixe, Marlos Nobre, Roberto Schnorrenberg, Olivier Toni, Gilberto Mendes. Virtuoses pianistas como Gilberto Tinetti, Clara Sverner e  músicos populares do naipe de Tom Jobim, Tom Zé, Moacir Santos, Severino Araújo, Tim Rescala e Rogério Duprat. Salve nosso K-Ximbinnho! Vamos ao bate-papo.

Como traduzir a experiência do disco K-Ximblues. Diálogo sonoro, tributo?
Conheci o K-Ximbinho pessoalmente, Trabalhamos juntos na Rádio Nacional, e sempre foi um exemplo para mim o fato dele fazer shows tão brasileiros, ao mesmo tempo em que compunha para conjuntos de jazz e participava ativamente nas jam sessions que aconteciam na época. Ele tinha essa dimensão entre a música popular brasileira e o jazz. Quando eu estava começando a tocar, na segunda metade dos anos 50, ele já era famoso no Rio. Era figura constante da música popular, em gravações e tocava no rádio com muita frequência, na voz da Ademilde Fonseca. Eu gravei esse disco, “K-Ximblues” quando recebi convite para fazer uma apresentação no Teatro Leblon, no Rio, e pediram para eu escolher um compositor para interpretar. Escolhi K-Ximbinho. Discuti com meu grupo os arranjos e o show foi gravado. É uma homenagem um tributo ao K-Ximbinho. Resolvemos usar esse nome no disco devido à aproximação de K-Ximbinho com o blues, que é natural, digamos assim, do Nordeste, onde ele nasceu, e ao mesmo tempo pelo lado do jazz.

Você concorda que K-Ximbinho foi o responsável pela introdução de elementos de jazz no choro brasileiro?
Eu concordo com isso! Há inclusive na melodia dele, nas progressões harmônicas, que também na época aconteciam, na época, com Charlie Parker.

Na pluralidade melódica de K-Ximbinho você identifica a influência da música francesa?
Não. Influência mesmo do que há no choro e também do jazz. A influência francesa já vem com o nosso choro… K-Ximbinho simplificou a forma de tocar o choro. Em vez de três partes diferentes, ele passou a fazer com duas partes, dando assim a possibilidade até de produzir a improvisação.

As músicas de K-Ximbinho ainda são pouco executadas. A música instrumental é relegada a planos secundários, apesar de alguns avanços pontuais como em canais fechados de televisão. Você é um expoente maior desse segmento. Você consegue vislumbrar um espaço generoso na mídia para a obra de K-Ximbinho?
Numa certa época eu comecei a tocar uma música dele que havia gravado num disco “Choro na Praça” ( 1977 ), onde participaram Zé da Velha, Rodrigo Monteiro, Abel Ferreira e Waldir Azevedo. (N.R.: Nesse disco, foram gravadas “Sonoroso” e “”Eu quero é Sossego” ). Mas ele não era tocado. Depois disso, eu continuei tocando as músicas de K-Ximbinho, e tive a alegria de ver, em São Paulo, num festival de choro, esse disco sendo premiado. E daí prá frente, as pessoas passaram a conhecê-lo mais, os músicos de choro passaram a tocar muitas de suas composições, como “Ternura” – sempre muito tocada -, e ainda, claro, “Sonoroso”, “Sonhando”; tem bastante material e cada vez estão tocando mais. Mas da mesma forma que há alguns anos, na época em que Pinxinguinha era vivo, estava próximo do Jacques Plain, que era um grande pianista, e perguntava; “Quem ouviu falar em Pinxinguinha”. A resposta era “quem”, “quem é essa pessoa?” Para você vê como o Pinxinguinha era menos conhecido naquela época… Mas acredito que a tendência é o brasileiro ir cada vez mais valorizando seu trabalho. Isso é natural. É música. E e é brasileira. Já não pertence ao K-Ximbinho. Mas na mídia, tudo é passageiro…

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