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Kundera, o ser reabilitado

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Alex Medeiros
Já se vão trinta e cinco anos da campanha das Diretas Já, que ganhou as ruas do Brasil a partir de 1984. Eu já vinha há mais de um ano desencantado com a experiência juvenil da militância partidária e iniciava uma nova jornada pessoal, buscando trabalho para me estabelecer num outro patamar de vida. Enquanto as multidões ganhavam às praças exigindo mudanças, eu mudava os planos futuros e tomava o caminho de São Paulo, o velho destino dos nordestinos.
Foi naquele contexto que soube da existência do escritor tcheco Milan Kundera, cujo livro A Insustentável Leveza do Ser chegara no mercado editorial brasileiro e sacudia a cuca da minha geração, aquela que saíra da faculdade imbuída de lutar por uma sociedade igualitária, que na tradução sociológica era na verdade uma sociedade socialista, o primeiro estágio – segundo os compêndios marxistas e leninistas – para uma definitiva vida comunista.
Mas aí apareceu Kundera para apimentar minhas insatisfações pessoais com as baboseiras esquerdistas. Um escritor de peso, no mesmo patamar de Franz Kafka, renegado pela ditadura comunista e pregando amor num romance.
Ele estava exilado em Paris desde 1975, após ser expulso pela segunda vez, em 1970, do partido comunista da Tchecoslováquia. Foi um dos intelectuais de destaque do seu país em 1967 ao lado do renomado cineasta Milos Forman.
Kundera foi a figura ilustre que mais repercutiu no Ocidente as perseguições dos regimes comunistas na chamada Cortina de Ferro, o lado oriental da Europa com suas nações dominadas por governos totalitários soviéticos.
Ser expulso das atividades política e artística, e da própria vivência em sua pátria, foi essencial para construir suas narrativas literárias, nos ensinando que a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento.
Falou do amor como única saída em um mundo incerto e com valores decadentes, e o comparou com os impérios. Quando o ideal sobre o qual o amor é construído desaparece, ele invariavelmente também perece.
Ele foi privado da cidadania tcheca após publicar o Livro do Riso e do Esquecimento, onde numa analogia ele mostrava o presidente Gustav Husak como um arauto do esquecimento e o cantor Karel Gott como idiota musical.
Agora, aos 90 anos, tendo adotado o francês como língua e não permitindo traduções da sua obra em tcheco sem sua supervisão, Kundera foi procurado pelo embaixador da República Tcheca para retomar a sua cidadania.
O diplomata disse à imprensa francesa que era um gesto simbólico muito importante para reparar a injustiça que o regime comunista cometeu contra o melhor escritor do país. Numa cerimônia simples, o autor recebeu o diploma.
A recuperação da nacionalidade perdida de Milan Kundera ocorre depois que o primeiro-ministro tcheco, Andrei Babis, se reuniu com o escritor em novembro de 2018 no seu apartamento de Paris e se ofereceu para sanar a maldade.
Romancista mais popular da Tchecoslováquia desde Franz Kafka, Kundera sempre manteve uma relação difícil com seu país, mesmo com a queda do comunismo. Há décadas se tornou invisível, sem sequer dar entrevistas.
A Insustentável Leveza do Ser, seu maior sucesso editorial, só foi publicado na sua pátria em 2006, trinta anos após eu ter lido e me indignar com um regime que persegue quem diz “onde o coração fala, é indelicado que a razão o contradiga”. Viva Kundera!
Orçamento
É irônico, pra não dizer cínico, o chiado do governo com a Assembleia Legislativa no tocante ao orçamento e empurrando os servidores contra a casa. A AL votou o relatório inteiro, do jeitinho que o governo enviou.

Discrepâncias
Quando os arautos da governadoria pregam a necessidade de “consertar discrepâncias”, deveriam falar diante do espelho, posto que o relator do orçamento foi o então deputado Mineiro, de acordo com a encomenda.

Dinheiro
O projeto de lei enviado em novembro solicitando à AL abertura de crédito extraordinário no orçamento não é apenas para quitar salários dos servidores. O valor pedido, mais de R$ 1,7 bi, é bem acima do necessário.

Shoppings
A tendência no Sudeste vai chegar em breve por aqui. Os shoppings estão reduzindo os espaços de estacionamento para abertura de novas lojas e incrementando mais o uso da propaganda física nos empreendimentos.
Igrejas
Quando se imagina que as benesses públicas estão diminuindo em relação aos interesses privados, vem o Senado e prorroga por mais 15 anos a isenção de ICMS para os templos religiosos. O mercado da fé é poderoso.

Absurdos
Há três graves aberrações no Brasil que silenciam partidos de direita, centro e esquerda, e também a mídia. Ninguém contesta o voto obrigatório, os bilhões do erário no fundo partidário e a isenção de imposto às igrejas.

Papas
Estreou ontem nos cinemas e entra na Netflix dia 20 o filme “Dois Papas”, do brasileiro Fernando Meirelles, abordando a transição em Roma entre Bento 16 (Anthony Hopkins) e Francisco (Jonathan Pryce), duas feras.

Natal Beatles
O livro Três Por Quatro, com poemas em estilo haikai destacando 50 canções eternas dos Beatles, está disponível na Cooperativa Cultural da UFRN, na Banca Cidade do Sol (Afonso Pena) e na Banca do Atheneu.

Rock & Blues
É o nome do show solo do músico Gustavo Cocentino, hoje às 19h, no Bar Me Leve, em Candelária. Noite de clássicos do rock e do blues dos anos 1960, 70 e 80, tudo na levada elétrica da guitarra de Gustavo. O bar abre a partir das 17h, na rua Raposo Câmara, 3438.
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