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Lázaro Ramos desbanca galã com personagem trapaceiro

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EXPERIENTE - Lázaro Ramos começou a carreira no cinema

Por Luiz Carlos Merten

Lázaro Ramos virou o primeiro protagonista negro da história da telenovela brasileira. Bravos que ele merece. Tendo feito teatro antes do  cinema, Lázaro integrou o elenco de “A Máquina” no palco, do qual também saíram Wagner Moura e Gustavo Falcão.

No cinema, começou arrebentando em “Madame Satã”,  de Karin Aïnouz, cinebiografia do famoso malandro da Lapa, mas centrada na fase  em que ele ainda era só João Francisco dos Santos, colhendo pancadas por ser  pobre, negro e homossexual. 

Lázaro fez depois “Meu Tio Matou Um Cara”, de Jorge Furtado. Merece toda a consagração que um grande ator brasileiro pode ter, independentemente de cor  da pele, mas existe um problema com “Cobras & Lagartos”.  

A novela de João Emanuel Carneiro já deu origem a uma polêmica quando os diretores  Walter Salles e Daniela Thomas acusaram o autor de roubar a idéia de um filme que pretendiam realizar. Coloco no passado imperfeito porque Daniela e Salles  talvez desistam da produção, convencidos de que Carneiro, co-roteirista de “Central do Brasil”, inviabilizou o projeto deles sobre o romance entre um motoboy e uma garota rica amante de música. Ambos têm todo o direito de se sentir ofendidos, mas “Cobras & Lagartos” dificilmente terá pontos de contatos com o que será  (seria?) o filme deles.  

Duda é motoqueiro, mas e daí? O protagonista de “Os Doze Trabalhos de Hércules”,  filme inédito de Ricardo Elias, também é, porque motoboy, como personagem de ficção, não é propriedade de ninguém. A pobre menina rica, Bel, começou violoncelista na novela, mas depois daquela apresentação na Luxus, que a aproximou de Duda, nunca mais foi vista com o violoncelo, permanecendo na trama como perfumista. O romance dos dois virou fábula dentro de “Cobras & Lagartos”, uma coisa que  Salles e Daniela, com certeza, evitariam. 

A tal fábula ajuda a entender como e por que Duda virou personagem secundário na própria novela, suplantado pelo Foguinho de Lázaro Ramos, que ganhou o primeiríssimo  plano graças ao interesse do público.

Não se trata de opor Lázaro a Daniel de Oliveira, que é outro ator maravilhoso, conforme demonstrou em “Cazuza”, de Sandra Werneck e Walter Carvalho. O público não deve estar preferindo Foguinho a Duda por causa do intérprete. É muito mais  pelo personagem e é aqui que ocorre o problema. Duda é do bem, um anjo sem asas que habita o Rio ficcional de João Emanuel Carneiro. Ele só faz o bem, não tem malícia, parece despreparado para a violência do mundo e, conseqüentemente, torna-se alvo de todas as maquinações. Um personagem assim vira muito chato porque, no fundo, no Brasil atual, com tantas denúncias de corrupção envolvendo figuras que até ontem pareciam acima de qualquer suspeita, Duda é um corpo estranho.

Não deixa de ser interessante observar que ele tem o mesmo nome do trapaceiro Foguinho e esse é o elo entre os dois. Foguinho também é do bem, tem até crise  de consciência, mas quer sair do atoleiro em que vive e isso, no Brasil atual, pressupõe certos comprometimentos. É a ‘mensagem’ subliminar da novela. Na base da trapaça, Foguinho se apossou da fortuna de Duda, mas foi sem querer prejudicar o outro, que ele reconhece ser bom. 

O telespectador sabe que, no desfecho, vai dar tudo certo e, portanto, pode se entregar sem culpa à incorreção política desse personagem.

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