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Lembrando a Igreja Santa Terezinha

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Jahyr Navarro
Médico

Iniciei meus estudos no antigo colégio Marista que estava situado na ruaStº Antônio e vizinho da Igreja do mesmo nome. Na metade do terceiro ano primário, fomos transferidos para o prédio novo já instalado na rua Apodi, onde até hoje lá se encontra.

Também na metade do mês de junho de dois anos depois, o meu pai foi convidado para uma reunião na diretoria, na qual, depois de uma “bruta delicadeza”, pediram-lhe que eu não mais voltasse. Fui então transferido às pressas para o Atheneu da Junqueira Aires, levando ao lado da expulsão, a minha fé inabalável em Cristo, adquirida no seio de minha família e bem alicerçada na convivência do Marista.

A expulsão em si, em nada diminuiu-me, nem enalteceu-me. Mostrou-me apenas que a minha rebeldia corria solta sobre trilhos inexistentes e, que não se deve ir de encontro com as normas de toda e qualquer Instituição. “Enfia-se o remo na água para impulsionar a canoa, mas é a correnteza que nos impele para queda d’água…”

Como no Atheneu não tinha Capela, nem Igreja, a nossa vizinha sra. Carmem Wanderley, esposa do teatrólogo Sandoval Wanderley, ambos já falecidos, sugeriu que fosse assistir às missas na Igreja Santa Terezinha cujo celebrante era o cônego Luís Wanderley, seu primo.

Por essa época a rua Apodi – por onde eu teria que caminhar – não era calçada o que obrigou-me a seguir por uma trilha serpenteada e bem sedimentada pelos rastros dos moradores da região e que terminava nas imediações da igreja tão desejada.

Embora conhecendo-a apenas por fora, a singularidade de sua beleza externa em nada comparava-se com o que havia de encantador no seu interior. O ambiente era tão agradável que incutia uma tranquilidade tão penetrante que suavizava minha constante e excessiva inquietação.

A pintura de suas paredes, a simplicidade de seus altares e a disposição dos quadros emoldurados davam ao ambiente um ligeiro toque de leveza e distinção. A transparência de seus vitrais que permitia a passagem de feixes luminosos coloridos, ofuscava a impetuosa claridade oriunda de suas portas e janelas sempre abertas. Ali, tudo falava, não na nossa linguagem claro, mas numa linguagem que nos fazia entender toda grandiosidade que existia em seu entorno.

O celebrante era rápido no andar, na comunicação e muito mais rápido ainda na conclusão da missa, o que de fato muito me alegrou. Há muito, já sabia que uma pregação de dez minutos, muitas vezes, diz mais queuma outra de vinte, que só induz ao sono. Analisando por este prisma o celebrante era perfeito.

Com o termino da missa, segui em direção à Av. Hermes da Fonseca para pegar o bonde que voltava do Aero Clube. Já passageiro deste, fiquei contemplando as imagens que desfilavam na minha retina e que recordavam momentos inesquecíveis por mim ali vivenciados.Em cada residência surgia uma lembrança, um rosto amigo. Em cada janela aberta, um sorriso amistoso cumprimentava. À medida que o bonde aumentava sua velocidade, mais detalhes surgiam acompanhando seu ritmo e fazendo o meu coração quase explodir de tanta saudade. Enquanto isso a minha mente ficava dizendo e repetindo que tudo isso também vai passar, que tudo isso também vai passar, que tudo isso também vai passar…

No meio de tantos pensamentos agradáveis, outros surgiam com pitadas de mágoas e tristezas, mascarando a alegria contagiante que sentia. Pensamentos com palavras, adquirem outras cores. São instantâneos fotografados das nossas sensações, como as digitais, permanecem para lembrar alguma coisa ou uma dor que não deseja ser esquecida.

Quando lembro dessa época já bem distante, sinto esvair-se aos poucos tudo que um dia teve muito significado para mim. No espaço que ficará vazio, nele, acenderei uma vela cuja chama tremulará dentro de mim ao sabor de ventos soltos.

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