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Lembrando Xico Santeiro

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Woden Madruga 
No fundo da gaveta dos papéis desarrumados acabo encontrando uma carta de Protásio Pinheiro de Melo (1914-2006), professor, diretor do Atheneu, fundador do Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos, músico amador (baterista do famosa Banda Jazz Acadêmica de Recife (parceiro de Capiba), diretor do Museu Câmara Cascudo (UFRN), muitas coisas. Durante a II Guerra Mundial foi professor de Português para os oficiais americanos que serviam na Base de Parnamirim. Sua carta está datada de 12 de junho de 1998 e tem como mote Xico Santeiro, considerado um “ícone da cultura popular do Rio Grande do Norte”.  Vamos lê-la (apesar do Protásio ter pedido que não a publicasse; mas isso foi há 23 anos; hoje ele concordaria). Vamos lê-la:
“Natal, 12.6.98 Amigo Woden: Li há poucos dias passados, artigo do sr. Carlos Magno Fernandes, aí da Tribuna, onde lamenta a pouca evidência dada pelos natalenses pela figura e pela obra de Xico Santeiro.
Para seu governo, dos animadores de Xico e, dos natalenses em geral, vão aí algumas memórias minhas, guardadas há 50 anos atrás. Cascudo e eu descobrimos Xico Santeiro.
Eis o fato: quando o meu filho Frank Melo tinha dois anos de idade recebi um bilhete de Cascudo que dizia: Protásio aí vai o sr. fulano de tal, artista popular, que faz santos de madeira –  e eu o considero um grande artista – especialmente Santo Antônio e Nossa Senhora. Tome conta do homem. Eu não tenho tempo pra isso e você gosta de escultura em madeira”.
Recebi Xico em minha casa que me mostrou alguns de seus santos que vendia por 10 tostões.
Olhei e vi logo o talento do homem. Comprei dois santos que, ainda hoje, estão no meu Museu Particular. Fiz nova encomenda para os próximos dias. Ele voltou e deu conta do pedido. Daí em diante, cada dia ficávamos mais amigos, e fiquei de ajudá-lo no futuro o que de fato fiz. Depois de conversar com Xico perguntei se ele fazia coisa maior. Ele disse, “se tiver modelo, eu faço”. Então dei-lhe uma foto de Buda de Kamakura, um retrato de Antônio Conselheiro e um retrato de nosso cantador, Fabião das Queimadas, que Hostílio Dantas pintara para mim. Todas as fotos tinham mais de um palmo de altura.
Dias depois me trouxe as 3 peças: uma perfeição! Não sabia cobrar bem e eu disse que cobrasse caro para valorizar sua obra.
Dei-lhe, então, para umas fotos de bonecos da África que Cascudo me dera. Outra maravilha! E, com o tempo e convivência, nos aproximamos ainda mais. Era um homem bondoso e ingênuo. E se divertia com as coisas mais simples. Contava uma “estória” do pai, que era santeiro também. Um dia, pintara um São Benedito e colocara a imagem para seca. Passou um cabra por perto e, com a canga, derrubou o trabalho. O velho chega, olha para a imagem e exclama: “Olha só como ficou este moleque! ”.
Certa vez aparece lá em casa e me presenteia com um Cristo antigo que conseguira no sertão. Hesitei em receber o presente, mas ele insistiu e guardei o Cristo. Certa vez Mucio Ribeiro Dantas, meu amigo do Atheneu, onde era professor, me deu de presente uma imagem antiga do seu engenho. Ela linda a imagem, mas… não tinha cabeça. Esperei Xico lá em casa, mostrei-lhe a santa e disse: “Então, vamos fazer a cabeça”. Ele olhou e disse: “faço na hora”.
Levou para casa e, algumas semanas depois trouxe uma linda obra de arte com uma bela cabeça. Só um entendido descobre o trabalho de restauração.
Depois disso, um dia, me deixou meio emocionado. Levou-me um Cristo grande e disse: “Esse é o primeiro Cristo grande que faço que o sr. bote em sua sala”. Ainda hoje está lá. Muitas peças de Xico dei de presente a Tarcísio Mai, Mauro Mota e Nunes Pereira.
Foi uma amizade que muito me agradava e me lembro hoje com saudade e nostalgia.
Essa carta não é para publicar, mas… você pode dar uma notícia pequena e dizer que, quem quiser ver o que tenho de Xico, apareça em minha casa à Rua Cel. Pedro Soares, 1567 – Tirol, Natal, RN.
Do seu amigo admirador Protásio Melo” 
Livro Deu na coluna de Ancelmo Gois, de O Globo:
– Um dos grandes intelectuais brasileiros, Celso Furtado (1920-2004) deixou cerca de 15 mil cartas. Cerca de 300 delas foram selecionadas pela jornalista Rosa Freire D’Aguiar, viúva do economista, e estarão em “Correspondência intelectual de Celso Furtado. 1949-2004”, que sai pela Companhia das Letras, em março. Os destinatários vão de Fidel a Bob Kennedy ou de Antonio Cândido a Roberto Campos. ”
Brum e Simão
O chargista Ricardo BRUM, desta Tribuna do Norte, está citado na coluna de José Simão, da Folha de S. Paulo, edição de sábado passado,20. O mote é o aumento da gasolina, que tempos atrás foi motivo de uma charge de Brum, aqui na TN.  Confira o que Simão (Macaco Simão) disse:
– E o novo aumento da gasolina. O novo aumento da gasolina se chama Tanque Zero! E o chargista Brum: “Saudades de entrar no posto e gritar COMPLETA! ” E o que sempre digo: a gente não tem posto. Só tem levado! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Glorinha 
Oliveira Perdemos Glorinha Oliveira, glória maior da música norte-rio-grandense, que se encantou terça-feira (23) aos 95 anos. Cantora, rádio-atriz, locutora, animadora cultural. Sua estreia como cantora aconteceu em 1940, no Teatro Carlos Gomes (Alberto Maranhão), aos 15 anos de idade. Menina das Rocas!  O baterista do conjunto que acompanhou Glorinha era Protásio Melo. Três anos depois ela ingressaria no cast da Rádio Educadora de Natal (REN), antecessora da Rádio Poti. Carreira brilhante.
Dica de uma boa leitura:  “A Estrela Conta – Memórias de Glorinha Oliveira”, livro organizado por Nelson Patriota, publicado em 2003, com orelha de Ubirajara Macedo.  O trio se reencontra, agora, lá em cima, nos estúdios de São Pedro.
Chuvas 
Chuvas do final de fevereiro já chegando ao Agreste potiguar depois de boas +entradas pelo Oeste e Seridó. As melhores desta semana (de domingo a sexta-feira, 26) no Oeste foram em Ipanguaçu, 78 milímetros, Mossoró, 60, São Francisco do Oeste e Felipe Guerra, 55, João Dias, 43. No Seridó:  Parelhas, 112, Acari, 76, Carnaúba dos Dantas, 51, Lagoa Nova, 41. No Agreste: Monte Alegre, 81, Lagoa de Pedras, 72, Ielmo Marinho. São números da Emparn.
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