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Ler se aprende lendo

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Ana Elisa Ribeiro, 39, é poeta e cronista, nascida em Minas Gerais, será a única convidada de fora do Espaço Professor Leitor, uma organização do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), parceira do Flin. Ela abre hoje a partir das 14h a séries de oficinas que ocorrerão no Auditório do Salesiano, voltada para professores e alunos. Sua palestra será baseada no livro de crônicas, “Meus segredos com Capitu”, cujo teor permeia questões de leitura, produção de textos e produção editorial. A realização desse Espaço contou com o patrocínio do Instituto C&A.
Teor do seu livro de crônicas trata de como escrever e para quem
Ela é autora dos livros Anzol de pescar infernos, Poesinha, Perversa e Fresta por onde olhar, todos de poesia. Sua mãe, escrito em 2011 é seu único livro infantil.  Suas crônicas foram publicadas em dois títulos: Chicletes, Lambidinha e outras crônicas (2011) e Meus segredos com Capitu. Além disso, já participou de coletâneas e antologias no Brasil, Portugal e México. Em entrevista exclusiva para o Letras&Ideias, Ana Elisa Ribeiro falou de suas principais referências: “Comecei com livros indicados pela escola, como a maioria das pessoas; a coleção Vaga-lume, com textos que hoje são clássicos para algumas gerações, uma coleção do José de Alencar da minha avó; uns clássicos estrangeiros. Mas acho que um poetame marcou mais do que tudo: Paulo Leminski. E, na prosa, meu conterrâneo Guimarães Rosa me deixou pasma pra sempre”, enumera.

Ana Elisa Ribeiro vai falar para um público específico no Flin, que precisa aprender a gostar de ler, para poder ensinar aos alunos a se habituar com essa prática. Indagada se tudo pode ser adaptado a uma linguagem que interesse à literatura infantil, ela pondera. “Talvez. A linguagem é uma espécie de máscara. Tudo pode ser escrito de muitos jeitos. O ‘como’ é a questão da literatura, não necessariamente o ‘o quê’. Então, talvez qualquer coisa possa ser escrita para crianças, desde que a gente tenha uma proposta de como dizer. O perigo é fazer adaptações tapadas, meio emburrecedoras. Criança é um ser muito inteligente”.

Novas tecnologias
E acrescenta que embora possa se pensar que seja mais desafiador escrever para esse público em meio à era digital, ela pensa que não. “Sempre foi difícil escrever pra crianças. Interessá-las é algo que sempre exigiu certo esforço (de quem não se acha mais uma delas). É claro que hoje elas andam com mais dispositivos distratores, inclusive nas mãos e nos bolsos, mas coisas legais continuam sendo coisas legais. Quando ponho meus alunos – jovens conectados – de Redação para escrever, o que vejo é uma galera muito empenhada em melhorar, em alcançar algo, em produzir. Escrevo para eles com muito carinho”.

Elisa Ribeiro não acredita que o fenômeno da interatividade inerente às novas tecnologias provoque desinteresse pelo livro em detrimento à internet e seus recursos. “Há uma intercomunicação entre as mídias que termina por nos dar pontes. Meu livro juvenil mais recente é uma brincadeira tecnológica com a Carta de Caminha, você imagina? É como se Caminha pudesse ter tido e-mail. A moçada adora essa possibilidade, mas precisa compreender que a linguagem é feita, também, de possibilidades tecnológicas. Penso que o livro sempre terá seu espaço e sua função. O que for substituível, será. Mas há o que não seja. Pais deveriam dar sempre material de leitura aos filhos, seja em papel ou em telas. Fazer o papel de filtro é muito importante. Mas se nem os pais fazem… não vou atribuir essa responsabilidade total à escola e ao professor”, pondera.

As mesas organizadas pelo IDE para o Flin, dentro do Espaço Professor Leitor,  privilegiam o escritor potiguar. Ela é a única  autora de fora do estado. Indagada sobre o que é importante ressaltar diante de uma plateia formada massivamente por professores, Ana Elisa explica: “Nosso papel – sou professora no meu estado – de formadores, claro; nosso papel de filtradores e de fomentadores de produção de conhecimento. Nossa

segurança como pessoas que têm uma trilha mais experiente do que a dos nossos jovens, talvez para ajudá-los a trilhar a deles, mesmo ela sendo diferente. Professores são meus colegas, meus pares. Sinto-me totalmente emcasa, apesar do sotaque diferente (risos)”.

Sobre aspectos universais e regionais da escrita, utilizados para “educar” as crianças e adolescentes, no que se refere à leitura, Ana Elisa de novo pondera e dá “peso” às duas coisas: “Regionalismo pode se confundir com bairrismo, com separatismo. Nestes tempos bicudos pós-eleição, quando querem nos convencer de que este país está partido ao meio, isso pode ser perigoso. Por outro lado, universalizar é, talvez, oferecer um padrão que não cabe em todas as diferenças de um país enorme como este. Pode ser que universalizar se confunda com achatar. Para se criar uma linguagem universal é preciso escolher alguma base e excluir várias outras. O que será eleito? Penso que é necessária muito mais flexibilidade do que isso. Na minha opinião, o segredo é trabalhar com sensibilidade. Parece pieguice, mas não é. Educar crianças é abrir e fechar, apresentar o mundo e o bairro. Acho que isso, sim, pode oferecer escolhas”.

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