sexta-feira, 19 de abril, 2024
28.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Ler

- Publicidade -
Dácio Galvão
Mestre em Literatura Comparada, doutor em Literatura e Memória Cultural/UFRN e secretário de Cultura de Natal
A leitura de livros tem sido crescente no Brasil. Índices cresceram. As variantes vão desde a busca do deleite ao exercício intelectual ao neurocientíficos. Explorando a memória ou campos sensoriais. O texto adquire sentido de literatura quando ultrapassa o factual, a precáriedade da escrita. A criação pode aglutinar sentidos, ganhar volume ou diminuir o artístico. Quando a construção é consistente a escritura ganha voltagem literária. Livra o lugar-comum. Como em Luiz Gama, romantizando negritude no poema “Meus Amores”: “Quando a brisa veloz, por entre anáguas / Espaneja as cambraias escondidas / Deixando ver aos olhos cobiçosos / As lisas pernas de ébanos luzidas…”. se percebe a linguagem estruturada alimentando certa teia sígnica. Organizando e desencadeando função. A função poética. Onde aportes semânticos se constroem na(s) leitura(s).  O ensaísta João Alexandre Barbosa observando escritos do linguista Roman Jakobson acentua que a “…função poética nos textos literários, não é vaga nem nebulosa: a sua apreensão depende da capacidade do leitor em descobrir organizações da linguagem”. 
Bom exemplo é Arrigo Barnabé interpretando Dante Alighieri -Canto I do Inferno, Divina Comédia, tradução de Augusto de Campos, no CD Façanhas: “No meio do caminho desta vida / Me vi perdido numa selva escura / Solitário sem Sol e sem saída / Ah! Como armar no ar uma figura / Desta selva selvagem dura e forte / Que só de eu a pensar me desfigura?”  A criatividade, a invenção trazem a marca da subjetividade do escritor, mas oferece a dialética de trocas interpretativas. Significados e significantes a projetar imagens acústicas de vocábulos, da sintaxe, da fonologia, da fonética…
Autor ou leitor ao manipular signos linguísticos verbais ou não, provocará processos. Emissores e receptores.  Praticando literariedade ou a arte da literatura. Uso de linguagem independentemente da consciência conceitual.   
Texto e leitor, produto e consumo, estética e liberdade é transgessão da linguagem. Para Roman Jakobson, “a poesia é o pôr em forma material a palavra com valor autônomo. A poesia é a linguagem em sua função estética”. E arremata o caminho arte: “o objeto da ciência da literatura não é a literatura, mas a literariedade, que dizer, o que faz de uma dada obra literária’.
A relação texto-literariedade é atitude, é formulação inventiva. Ato fixador de conceito categorizando a prosa poética. Admitindo a ruptura de gêneros literários. Em James Joyce, Guimarães Rosa. O texto-inventivo atravessa processos civilizatórios contribuindo para reflexões de gerações. A crônica de Câmara Cascudo fixada na Revista de Antropofagia editada em São Paulo, atávica a Oswald e Mário de Andrade, desenhou fragmentariamente, dentro da perspectiva modernista transformadora instaurada na relação da tradição e das vanguardas históricas europeias, traços do RN: “Cidade do Natal do Rio Grande / Morros, areias, orós, mangues, / siris e aratus grudados nas pedras. / Centros operários. / Cidade pintada de sol / com uma alegria de domingo”. A arte literária oferece o poder de se conhecer. Se localizar em perspectiva cosmopolita!
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas