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Letras no litoral

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Por Isaac Lira – Repórter

Fim de semana atípico na praia de Pipa. O mar ganhou um concorrente à altura e agora o público disputa espaço no meio da praça para acompanhar o debate com escritores do peso de Mia Couto, João Ubaldo Ribeiro, Daniel Galera, entre outros. O II Festival Literário da Pipa atraiu um grande número de visitantes às tendas literárias, estandes de livros e oficinas de arte. A programação segue hoje, último dia de festival, com João Gilberto Noll, Marçal Aquino, além de autores locais como Moacy Cirne, Ilza Matias de Sousa e Pablo Capistrano.

Público numeroso prestigiou os primeiros dias do II Festival Literário da pipa, que se encerra neste sábado com mais debatesUm dos atributos mais comentados dos festivais literários, em crescimento exponencial pelo país, é o clima de discussão que se instala. As pessoas param para discutir literatura, o que por si só é um evento raro no Brasil. No Flipipa 2010 não foi diferente. No caso de autores como Mia Couto, moçambicano de expressão mundial, faltou lugar para tantos interessados em ouvi-lo. A fila para autógrafos também foi uma das mais concorridas. Quem esperava uma platéia de predominância acadêmica, público especializado, se frustrou. Havia diversidade. Um público de interessados em literatura.

 A primeira tenda literária trouxe Daniel Galera e Rafael Coutinho, que recentemente lançaram “Cachalote”, uma história em quadrinhos para adultos, em conversa com o jornalista potiguar Alex de Souza. “Cachalote” foi o grande evento para os quadrinhos brasileiros no ano passado, por ter sido lançada por uma grande editora, a Companhia das Letras. E também por ser fruto de uma junção de potencial sucesso. Daniel Galera é reconhecidamente uma das melhores revelações literárias do Brasil nos últimos anos e Rafael Coutinho é um desenhista também conceituado, para além do fato de ser filho do cartunista Laerte. E foi justamente essa relação entre literatura e quadrinhos um dos pontos mais abordados.

 Não  é segredo que existe certo preconceito contra quadrinhos como forma de expressão e não é difícil encontrar quem considere o ofício “menor” que outros ditos mais nobres, como a própria literatura. Mas na visão dos dois autores a idéia está equivocada. “Não vejo competição de conteúdo entre quadrinhos e literatura. Acho que as duas formas têm o mesmo potencial de expressão”, disse Galera. Rafael Coutinho complementou: “Um leitor desavisado pode ter dificuldades para compreender a Cachalote numa primeira leitura. Os quadrinhos também podem trazer conteúdos profundos”.

 Dos quadrinhos para o significado da relação Brasil-África na visão de Mia Couto. O escritor moçambicano teve uma noite pop. Houve fila para conseguir lugar na sua apresentação. Quem chegou atrasado acabou ficando de fora. A professora portuguesa radicada em Natal, Conceição Flores, foi a responsável por conduzir a conversa com Mia Couto. Primeiro tratando de similaridades entre a cultura brasileira e africana, principalmente no que diz respeito a relação com os limites e a malandragem. “Vi uma cena engraçada aqui em Pipa que me lembrou Moçambique. Um motorista queria atravessar por uma rua onde o tráfego estava interrompido e perguntou a alguém que estava por perto. “Dá para passar por aqui?”. Respondeu: “Dá, mas não se pode”, comentou.

 A influência da literatura brasileira também foi tema bastante abordado. Mia Couto contou que Jorge Amado é um dos autores mais lidos pelos países africanos que falam português, como Moçambique e Angola. “Há escritores africanos que falam sobre a experiência de ler Jorge Amado como um alumbramento”, disse. E complementou: “Quando li pela primeira vez o Quincas Berro D´água, vi ali a minha terra”. Guimarães Rosa foi outro autor citado por Mia Couto como referência. “João Guimarães Rosa foi o meu mestre. Quando ele fala do sertão, não se trata de algo geográfico, mas um lugar que ele inventou. Em Moçambique, à época que lemos esse livro, a situação era essa. Estávamos em processo de independência e mais do que isso precisávamos inventar esse lugar”, relembrou.

 Por fim, o jornalista Laurentino Gomes encerrou o primeiro dia de discussão, sob mediação do professor Raimundo Pereira Arraes. “1822”, livro-reportagem, na definição do próprio autor, lançado recentemente foi o tema. Não faltou perguntas sobre a especificidade do trabalho de Laurentino, um jornalista tratando de temas caros à Academia na área de História do Brasil. A discussão segue Laurentino Gomes onde ele passa.

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