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Líderes que atuam em prol de suas comunidades

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PONTA NEGRA - Líder comunitária consegue recuperar sede do conselho

O mister é ingrato. Pouca gente se habilita. Quase sempre, significa abdicar de obrigações com a própria casa, o convívio com a família e o lazer. Tudo isso para resolver sozinho problemas que atingem milhares de pessoas, tendo inclusive que suportar reclamações e desaforos dos que mantêm-se estáticos. Mas sempre há os abnegados. Heróis da resistência, que por vocação e boa vontade – ou por motivos nada elogiáveis -, decidem se entregar ao serviço à comunidade.

O líder comunitário é o porta-voz dos moradores do local em que vive e funciona como um elo entre essas pessoas e o poder público. A facilidade de comunicação e a de reunir os outros ao redor de si, além do espírito empreendedor e de iniciativa, são características típicas desse importante membro da sociedade. O líder comunitário surge como parte fundamental para o exercício da cidadania no ambiente em que se vive e em Natal, alguns deles têm conseguido mudar o cenário da comunidade em que atuam.

A questão é que há algum tempo, ser “líder” por motivos vis ou lucrativos tem sido uma prática comum. Infelizmente, hoje em dia é comum valer-se da confiança de milhares de moradores para conseguir benefícios próprios com o poder público. A questão chegou a níveis absurdos a ponto de a expressão “presidente do conselho comunitário de bairro tal”, ser considerada pejorativa, sendo correlacionada a pessoas interesseiras e mercenárias.

Por tudo isso, é aliviador perceber que em alguns casos o sentimento de servir e o desprendimento em favor do coletivo são as molas-mestras das ações do líder. Em Natal, em alguns, bairros, as lideranças têm desempenhado um papel fundamental para cobrar providências das autoridades e trazer ações sociais para seus bairros. Resoluções de problemas de calçamento e drenagem, construção e reforma de praças, atividades culturais e cursos profissionalizantes são alguns bons exemplos.

Sônia Maria Gomes de Moraes, 49, é presidente do conselho comunitário de Ponta Negra há três anos. Servidora do município, coordena a creche Haidê Monteiro de Melo, no mesmo bairro, há mais de quatorze anos, e sempre se preocupou com os problemas da Vila de Ponta Negra. Porém, nunca se interessou em assumir nada institucionalmente, se limitando a ser uma líder natural, mas informal. Por insistência de moradores acabou se candidatando a presidente do conselho, cumprindo atualmente seu segundo mandato consecutivo.

“A sede de conselho aqui vivia fechada. Cortaram a luz, a água e estava imundo por dentro. Até que as mulheres pediram a chave ao antigo presidente e tomaram conta. Hoje promovemos o resgate da credibilidade do conselho”, contou Sônia. Ela diz que em dois anos, o conselho reformou o reboco da casa onde funciona a sede, o telhado, a pintura e o piso. “Antes aqui o presidente vivia pedindo dinheiro ao povo, aos comerciantes e nada acontecia”.

Atualmente o conselho serve como local para a reunião dos grupos culturais da Vila de Ponta Negra como os bois-de-reis e os congos de calçola, e como sala de aula para cursos para mulheres da comunidade. Este mês, o conselho ensaia com os moradores o “Auto da Vila”, espetáculo teatral montado desde o ano passado.  “Procuramos fazer uma gestão integrada com outros grupos como o clube de mães, associação de moradores e o centro desportivo.

Apesar do bom trabalho que desenvolve, Sônia ressalta a dificuldade que tem para trazer os moradores para participar das discussões na sede do conselho. Segundo ela, convencer cada um a participar das discussões é um suplício, já que o desinteresse e o descrédito são generalizados. A falta de recursos próprios, para a promoção de ações de publicidade, dificulta mais ainda.

Ligação política exige muita cautela

Um outro fator importante dos novos centros comunitários é a falta de compromisso com as autoridades políticas. Ainda é comum ver presidentes de conselhos ou de associações ligados a políticos “a” ou “b”. A partir daí surge uma facilidade de terem os pleitos atendidos, caso o candidato do conselho seja eleito, em troca da  campanha feita dentro das sedes e durante os eventos realizados pela respectiva associação.

Francisco de Assis Henrique dos Santos é professor e fiscal da Secretaria de Transporte e Trânsito Urbano (STTU). Há muitos anos ele lida com questões comunitárias e já foi presidente de dois conselhos comunitários. Mas decepcionado com a prejudicial proximidade das entidades com o poder público, afastou-se dos conselhos e resolveu fundar a Associação de Moradores do Parque dos Coqueiros, bairro onde vive. Nas últimas eleições, Henrique saiu candidato a vereador, em vez de apoiar um político conhecido e com mandato.

“Teve muita gente revoltada porque eu saí candidato. Eu preferi fazer isso e lutar pelo meu bairro. Não precisei bater no ombro de ninguém. Eles só querem que a gente coma do papeiro deles”. Ele defende que todas as associações de moradores de Natal, e se possível, do país, tenham um estatuto único, uniformizando regras como o tempo do mandato e eleições para a associação distante das eleições do país.

“O que acaba o movimento comunitário é a infiltração da política partidária”, reclama o presidente da associação. Francisco Henrique tenta conscientizar os moradores a contribuir com algum dinheiro para a associação não ter que ficar refém do poder público. “Estamos criando uma carteirinha para os associados. Nem que a taxa seja de R$ 1,00 mas já ajuda. Só para não ficar correndo atrás de político”.

O presidente da associação de moradores do Parque dos Coqueiros diz que não pede voto para qualquer candidato a nenhum morador. Segundo ele é importante que se respeite a consciência e a vontade de cada morador para que ele vote no candidato que achar melhor. Mas segundo ele, não é isso que acontece geralmente. “Os conselhos passam o tempo todo falando mal do prefeito, mas quando é na eleição está todo mundo abraçado com ele”.

Um elo entre o povo e poder público

A Secretaria Municipal do Desenvolvimento Comunitário (SMDC) foi criada exatamente para ser o elo entre os anseios do povo e o poder executivo. A meta da Prefeitura Municipal é centralizar os pleitos da população em um só lugar para que os líderes comunitários não precisem rodar várias repartições, a fim de conseguir os benefícios para as respectivas comunidades.  A secretaria atua diária e diretamente com os presidentes de conselhos e associações e segundo o titular da pasta, tentando promover a regularização das entidades e a capacitação dos líderes.

“Temos aqui uma sala com uma equipe técnica só trabalhando nisso”, informou o secretário Ranieri Barbosa, sobre os cursos que estão sendo preparados para os líderes comunitários. Segundo ele, a meta é que ainda este ano, a secretaria possa iniciar o trabalho de conscientização e aprimoramento das lideranças. “Agora no Natal queremos presentear essas pessoas com uma palestra de alguma grande personalidade no assunto”.

Ranieri Barbosa explica que o trabalho é necessário porque em muitas vezes o despreparo da pessoa escolhida pela comunidade acaba atrapalhando o andamento das atividades. “Temos um pessoal aqui que os orienta. Às vezes o líder não sabe sequer escrever um ofício”. Para dar prosseguimento à capacitação dos líderes, a secretaria prepara o projeto para a obtenção de recursos, a fim de que os cursos possam ter início, em sua totalidade, a partir do ano que vem.

Em relação ao caráter primordial da secretaria, Ranieri explica que o estabelecimento de uma pasta para dar atenção a tal questão, tem como objetivo canalizar todas as reivindicações e solicitações comunitárias para um só lugar. “À medida em que canalizamos, facilitamos a vida da população e reduzimos gastos para a prefeitura”.

Sobre o fato de alguns líderes usarem a posição como moeda de barganha junto ao poder público, o secretário Ranieri Barbosa disse tentar combatê-lo, conscientizando as pessoas que o procuram com objetivos escusos. “ Há um bom número que é bem intencionado. Mas quando não é o caso, tento ser sincero com a pessoa”.

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