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Lira promove uma ‘DR’ entre Bolsonaro e Alexandre

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Felipe Frazão e Julia Lindner
Agência Estado 
O jantar que reuniu integrantes dos três Poderes na residência oficial do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anteontem, teve um momento inesperado. Lira promoveu ali o encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para que os dois desafetos da República fizessem a temida ‘DR’ e discutissem a relação.
Arthur Lira aproveitou para tentar um “armistício”
A reunião era para ser apenas uma homenagem ao decano do STF, Gilmar Mendes, que completou 20 anos na Corte, mas o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) incentivou Lira a aproveitar aquele momento para tentar um armistício. Apesar do gesto, poucos acreditam nos efeitos práticos da conversa.
Logo que chegou ao jantar, Bolsonaro cumprimentou Moraes sob o olhar dos convivas e fez piadas sobre os times de futebol de ambos, Palmeiras e Corinthians. Depois, Lira levou os dois pelo braço até um local mais reservado e os deixou a sós. O diálogo ocorreu no gabinete de trabalho do presidente da Câmara, usado para entrevistas e audiências, ao lado da sala de estar.
“Foi um encontro de distensionamento. O País vive uma escalada em ano eleitoral e isso não é prudente”, disse Orlando Silva.
Já à mesa do jantar, o próprio Gilmar discursou e mandou recados a Bolsonaro, que não fez uso da palavra. O presidente parecia cansado, chegando mesmo a bocejar. Sem reparar nesse detalhe, o magistrado fez uma preleção sobre a experiência que viveu em governos passados, como os de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Disse que adversários sempre se sentaram à mesa com o objetivo de discutir temas de relevo para o País. Bolsonaro e Moraes, por sinal, estavam sentados em lados opostos
“Acompanho as suas críticas, e o senhor tem direito de fazê-las, mas é importante ouvir e dialogar também”, afirmou Gilmar, dirigindo-se ao presidente. O ministro também defendeu a atividade política, no momento em que o Centrão articula uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para rever decisões da Corte, sob o argumento que existe no País um ativismo judicial.
“O Supremo devolveu aos políticos a atividade política. A política tinha sido expropriada. Quem estava fazendo política eram juízes”, argumentou o homenageado, numa referência à Operação Lava Jato.
Lira serviu carne e peixe com alcaparras, acompanhados de taças de vinho tinto. Um dos presentes disse, no entanto, que o cardápio principal era mesmo o “mal-estar” diante do “climão” entre Bolsonaro e Moraes. A noite, porém, transcorreu sem sobressaltos.
Na tentativa de desanuviar o ambiente, Gilmar ironizou o fato de magistrados do STF serem acusados de defensores da esquerda e disse que “um comunista” havia sugerido a recepção em sua homenagem, numa referência a Orlando Silva. “Você, Alexandre, é acusado de ser comunista também”, brincou ele, falando com Moraes.
Quando houve menção de que seria sua vez de falar, Bolsonaro entregou a tarefa ao “terrivelmente evangélico” André Mendonça, ministro indicado por ele para o Supremo. Pastor presbiteriano, Mendonça puxou uma oração.
Participaram do jantar, ainda, ministros de Estado e do Supremo, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e de líderes dos partidos nas duas Casas. O ministro do STF Ricardo Lewandowski destacou a conquista da democracia e cobrou respeito às instituições. Bolsonaro costuma atacar magistrados e questionar, sem provas, a segurança das urnas eletrônicas. Moraes será presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante as eleições de outubro.
O encontro entre Bolsonaro e Moraes ocorreu dias após o presidente acusar o ministro de descumprir um acordo firmado entre os dois, em setembro do ano passado, para que pusesse um ponto final no inquérito das fake news. A investigação tem como alvo o presidente, seus filhos e aliados.
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