sábado, 20 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

Livro conta saga dos Neri na praia do Gostoso

- Publicidade -

Nelson Patriota [escritor]

Quando a história de uma família se identifica com a história de uma cidade a ponto de não se poder distinguir uma da outra, então é inevitável que a história de uma seja também a da outra. Esta é a síntese do livro “Cabeças do vento” (Post, 2013, com prefácio de Xico Sá) do jornalista Emanuel Neri e que trata simultaneamente das origens do município praieiro São Miguel do Gostoso, litoral norte potiguar, e da gênese família Teixeira Neri. Nas palavras de Xico Xá, o livro seria “esta bela fábula da memória afetiva do jornalista Emanuel Neri […] A Macondo real de ‘Seu Nilo’ e ‘dona Isabel’”.

Dentro desse espírito é que o livro reserva ao menos dois capítulos para “legendar” as origens familiares dos Teixeira Nery: de um lado, a linhagem dos Neri, que recua a ancestrais italianos. Emanuel Neri relata que seu avô Ângelo Mariano Neri “foi uma das autoridades que recepcionaram em 1928 o avião que fez a primeira travessia do Atlântico, ligando a Itália ao Brasil, guiado pelos pilotos Del Prete e Ferrarini”.

Quanto aos Teixeira, defende o jornalista que suas origens se situam nos cristãos-novos, ou seja, judeus que foram forçados a trocar seus nomes originais por nomes “neutros” como Teixeira, Pereira, Silveira, entre outros, para fugir à perseguição da Inquisição. Porventura, foi isso que se deu com os ascendentes da matriarca Isabel.

Mas se o texto final pode ser atribuído ao jornalista sem contestação, ele próprio se apressa a enunciar na “Apresentação”, que parte do trabalho foi fruto do esforço de sua mãe Isabel em anotar histórias relacionadas à vida familiar, desde a morte do marido Nilo. Outras lembranças ajudam a matizar a história do casal Nilo-Isabel, ao mesmo tempo em que acompanham passo a passo a evolução do município.

Elas são particularmente abundantes na segunda parte do livro, composto de depoimentos escritos pelos filhos do casal Nilo-Isabel. São eles: Ana Maria, Ângela Maria, Carlo Christian, Fátima, Gilson, Gorete, Graça, Izabel Cristina, João Wilson, José Roberto, Marcos, Maria da Conceição, Nilo Júnior, Teresa que, juntamente com Emanuel, totalizam os quinze filhos do casal.

E, como seria de esperar, há diferentes retratos dos pais, mas muitas coincidências de opinião. Neste último caso, todos os quinze filhos são unânimes em realçar a religiosidade, o realismo e a dedicação de dona Isabel. Sobre esta, há um fato curioso: após enviuvar, revelou-se exímia empreendedora, sempre a favor dos interesses da família.  As opiniões divergem quando algum filho tenta evocar as relações de afetividade com os pais, raras e comedidas, para uns, caprichosas e variáveis, para outros.

Vale salientar que Nilo e Isabel, protestante aquele, católica esta, formam um casal singular, conforme transparece na história narrada por Emanuel e corroborada por seus outros irmãos, em variada medida.  Ex-militar cuja grande frustração foi não ter podido combater no front (foi impedido de última hora, quando já se aprontava para embarcar: a guerra acabara no dia previsto para o embarque), seu Nilo deveu muito ao Exército, pois lá aprendeu de tudo um pouco, o que lhe possibilitou fazer as vezes de veterinário, dentista e médico em Gostoso numa época em que tais profissionais eram inexistentes lá.

As ligações da família Teixeira Neri com São Miguel de Gostoso, conforme se depreende da leitura de “Cabeças do vento”, não são apenas demográficas; elas englobam os negócios e a política, haja vista que o primeiro prefeito eleito do município, em 1996, foi um membro do clã Teixeira Neri: João Wilson Teixeira Neri. Outros parentes próximos desse ex-prefeito têm pousadas e outros negócios no município, o que sinaliza vida longa para o clã Teixeira Neri na bela praia potiguar.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas