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Lote 35, quadra 3, setor 2. Onde repousa o cruzado da Esperança

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MORADA DA PAZ - Lembrança de Aluízio Alves expressa em coroas de flores

O relógio marcava 18 horas e 40 minutos desse domingo. É no lote 35, quadra 3, setor 2, do cemitério Morada da Paz, em Parnamirim. Lá repousa o corpo do ex-ministro e ex-governador do Estado, Aluízio Alves. Sob o toque de uma corneta, a salva de tiros da guarda de honra da PM e os aplausos de milhares de amigos, admiradores e parentes, o líder político foi sepultado, pondo fim a uma trajetória de 60 anos de vida pública e ingressando de forma definitiva na história do Rio Grande do Norte.

Aluízio Alves faleceu às 14h55 do último sábado, dia 6 de maio, após 84 anos de vida. Fundador do jornal TRIBUNA DO NORTE e da Rede Cabugi de Comunicação, ele recebeu até os últimos momentos a solidariedade daqueles que o acompanharam em toda a vida. Familiares e muitos dos presentes ao velório, no Palácio da Cultura (o Palácio da Esperança, durante o governo dele entre 1961/1966), e ao enterro, transformaram em lágrimas o sentimento de perda.

Três salvas de tiros de cadetes da Polícia Militar conferiram as honras militares ex-governador, quando da chegada do cortejo ao cemitério Morada da Paz, às 17h30. Porém foram melodias, as antigas e memoráveis músicas de campanha – “Foi no Trem da Esperança, que Aluízio viajou…”, ou mesmo “Aluízio Alves, vem do sertão lá do Cabugi…” – cantadas por toda multidão, que marcaram o clima de comoção e admiração no enterro de um dos mais populares líderes do Estado.

O caixão conduzindo o corpo de Aluízio Alves foi conduzido até próximo do jazigo por amigos. O bispo de Campina Grande, Dom Jaime Vieira Rocha, pediu a Deus para recebe-lo entre seus eleitos. O ex-senador Geraldo Melo falou pelos amigos e de sua própria amizade com Aluízio. O filho, deputado federal Henrique Alves, discursou em nome da família e se emocionou ao homenagear o pai, líder e mestre.

Duas “Ave Marias”, tocados pela flauta de Carlos Zens e pelo violino de Larissa Rodrigues, acompanharam a preparação final do caixão, que desceu à sepultura às 18h40. Por alguns minutos, ninguém deixou o local. A lembrança de quem foi Aluízio Alves deficilmente se apagará da memória dos norte-rio-grandenses. 

Centenas  foram mais cedo para o cemitério

Concorrido como os comícios do velho líder político, assim foi o enterro do “cigano feiticeiro” Aluízio Alves. Segundo informações da própria direção do cemitério Morada da Paz, populares já aguardavam pelo grande momento da despedida desde as 8h da manhã desse domingo. Momentos antes do cortejo chegar, por volta das 16h, os que esperavam já eram centenas.

Acompanhando o trajeto do cortejo de Aluízio Alves pela cidade – através da transmissão da “Rádio Globo Natal”, antiga Rádio Cabugi, fundada pelo próprio jornalista e radialista -, a multidão já se preparava entoando canções políticas que marcaram a vida do ex-governador. A ex-secretária de Educação, Rosário Cabral, resumiu o sentimento dos presentes. “Foi uma perda irreparável. O Rio Grande do Norte está mais pobre. Aluízio Alves foi o último político de sua geração. Um homem obstinado, criativo, inovador”, ressaltou.

Por volta das 16h30, quatro vans trazendo mais de 400 coroas de flores – dentre elas a de parentes, amigos e até mesmo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, permitiram que os funcionários do cemitério criassem um caminho florido para o trecho final do cortejo.

A ‘gentinha’ dá adeus ao cigano

A “gentinha de Natal” saiu às ruas ontem, uma última vez, para dar adeus ao “cigano feiticeiro”. Do Palácio da Cultura, de onde saiu o cortejo com o corpo de Aluízio Alves (1921 – 2006) até a entrada do cemitério Morada da Paz, em Emaús – por todos os bairros onde passou – o carro que transportou o caixão foi saudado por pessoas com  ramos e bandeiras verdes. Foi uma despedida. Mas pareceu uma recepção, uma repetição da época que Aluízio encantou o Estado.

Por sugestão do publicitário Tertuliano Pinheiro, a família resolveu que o cortejo seguiria pelos bairros onde Aluízio Alves fez história. A saída do caixão ocorreu às 16h12. A Guarda de Honra da Polícia Militar tratou de retirá-lo do “Palácio da Esperança (como era chamada a sede do governo) e colocá-lo sobre o carro do Corpo de Bombeiros. A saída foi pela lateral da Praça André de Albuquerque. Na passagem pela rua Rafael Fernandes, no Alecrim (proximidade do Passo da Pátria), houve a primeira mostra de que o cortejo ficaria na memória pela força da manifestação popular.

Dos dois lados da rua, com palhas, galhos e bandeiras, dezenas de pessoas saudavam o caixão. E não eram somente moradores da área. O casal de “bacuraus” Aderbal e Diva Dias, 70 e 66 anos, respectivamente, saiu de Potilândia para se despedir de Aluízio Alves. Os dois já eram casados em 1960 e iam juntos aos comícios do ex-governador. Seguindo pelo Alecrim, a comitiva passou pela praça Gentil Ferreira, onde Aluízio Alves fez grandes comícios.

No local, uma multidão saudou sua passagem. Na seqüência, o cortejo desceu para a “Guarita”, área que fica próximo à avenida Mário Negócio e onde Aluízio Alves desceu no “trem da esperança”. Em alguns trechos dessa passagem pelas Quintas, até a ligação com a avenida Felizardo Moura, parecia que a população ia tomar a via, tamanha era a quantidade de pessoas. Uma das mais emocionadas era Joanize Teixeira, 44 anos. “Ele vai deixar muitas saudades”.

Um pouco mais adiante, outra bacurau, Zoraide de Oliveira Paiva, 54 anos, não conseguia ficar parada ante a emoção da despedida. “Sou aluizista demais, desde criança. Ele vai fazer falta demais até”. Enquanto ela concluía, muitos ao redor gritavam: “Aqui todos são Aluízio”. Depois de passar pelo Alecrim e pelas Quintas, o cortejo desceu pela avenida Napoleão Laureano, bairro Nordeste.

Lá mais gente aguardava a passagem  do cigano. Uma dessas pessoas era Ivete Martins Soares, 60, que fez questão de levar para a rua seus dois discos com músicas da campanha. Um deles era o “Long-play da gentinha”. “Acho que ele vai fazer muita falta. Mas fica Garibaldi”. Na chegada à Cidade da Esperança, bairro construído pelo ex-governador, a exaltação era ainda maior.

A população nas ruas gritava muito à passagem do caixão e dos parentes de Aluízio. Estér dos Anjos Gomes, 59, foi uma dessas pessoas. Com imagens do ex-ministro ela gritava declarando seu amor pelo PMDB e pelo político morto. “Nasci e me criei no PMDB. Estou com Aluízio e não abro. Sou aluizista”.  Ainda na Cidade da Esperança, outra manifestação que chamou a atenção. De cadeira de rodas, segurando uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, Vera Lúcia Bezerra de Araújo, 49, fez questão de prestar uma última homenagem. “Que Nossa Senhora de Fátima olhe por ele aonde estiver”.

Após a passagem pelo bairro que construiu, o corpo do ex-ministro seguiu pela Prudente de Morais e avenida da Integração, até a BR-101. De lá, sempre muito saudado, ele foi levado para o cemitério. A passarela de Neópolis ficou lotada de pessoas que foram se despedir de Aluízio. O cortejo chegou ao local do enterro às 17h23. Foi recebido com aplausos das pessoas que desciam dos ônibus. Cerca de 20 veículos do tipo transportaram os que foram ao Morada da Paz. Lá, hoje, Aluízio Alves descansa em paz. Sob o verde, para sempre.

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