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Lula conversa sobre crise financeira com Bento XVI

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ENCONTRO -  Bento e Lula demonstraram preocupação com a criseRoma (AE) – O papa Bento XVI manifestou preocupação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a crise financeira internacional. Em audiência fechada de 24 minutos na biblioteca do Vaticano, no final da manhã de ontem, Joseph Ratzinger disse que a crise é “grave”, segundo relato do presidente a jornalistas. “Pedi ao Papa que nos seus pronunciamentos fale da crise econômica, pois, se todo o domingo ele der um conselhozinho, quem sabe a gente encontra mais facilidade para resolver o problema”, afirmou.

Lula gastou mais tempo para percorrer salões e corredores do Palácio Apostólico e cumprir o protocolo do que na conversa com o Papa. De acordo com o relato do presidente, foi possível falar da preocupação que a crise deixe ainda mais pobre as camadas de baixa renda, reclamar da rigidez do controle de imigrantes latinos-americanos e africanos na Europa, do combate à fome e de programas do governo, como Luz para Todos e Bolsa Família, além do acordo assinado que ratifica garantias para a atuação de religiosos no Brasil.

O presidente chegou à Sala do Trono, um espaço próximo à biblioteca – decorada com dois quadros do pintor Rafael Sanzio -, na companhia da primeira-dama Marisa Letícia e dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Nelson Jobim (Defesa). “Muito obrigado”, foi logo dizendo Lula quando viu o Papa chegar à Sala “Muito obrigado o senhor, por fechar o acordo com a Santa Sé”, respondeu Ratzinger, em italiano, referindo-se ao acordo que ratifica, por exemplo, o direito individual do ensino religioso nas escolas, como está na Constituição. Somente o Papa, Lula e dois tradutores entraram em seguida na biblioteca, às 11h05 (8h05, horário de Brasília).

Fora o presidente, os visitantes são obrigados a passar por série de corredores estreitos, interligados a uma infinidade de salas, um verdadeiro labirinto, que impede qualquer descrição exata dos espaços mais reservados usados pelo Papa. Foi num desses espaços, com tetos decorados com afrescos do Renascimento, a Sala Clementina, que João Paulo II foi velado, em 2005. Num dos corredores, também repleto de pinturas, soldados do Napoleão montaram acampamento e acenderam fogueiras.

Depois de 24 minutos, uma campainha anunciou o fim do encontro de Lula com o Papa. Foi quando a comitiva brasileira teve acesso à biblioteca. O único que beijou a mão de Ratzinger foi o general de Brigada Gonçalves Dias, chefe da segurança de Lula. Dilma, Marisa e a embaixadora Vera Barroso usavam um véu preto. Ganharam um terço. O Papa ofereceu ao presidente uma caneta. Já Lula retribuiu com a escultura de barro de uma família de retirantes nordestinos, do artista Manoel Eudócio, do Alto do Moura, Caruaru. “Esperamos recebê-lo novamente no Brasil”, disse o presidente. “Obrigado”, finalizou o Papa.

Mais tarde, Lula comentou que o governo brasileiro sempre trabalhou para ter uma boa relação com os papas. “Eu disse uma vez, logo depois que ele esteve no Brasil, que a imagem que eu tinha dele era a que passava na TV: um homem sisudo e de poucos amigos. A verdade é que ele é um homem afável e fiquei surpreso por ele ser bem informado sobre o Brasil”, disse.

Ensino religioso será facultativo

Roma (AE) – Embora não considere ideal, a Santa Sé obteve do governo brasileiro a assinatura de um acordo que mantém o ensino religioso facultativo nas escolas públicas do ensino fundamental. O acordo não traz mudanças práticas, mas aumenta a garantia da Igreja Católica em assegurar as aulas religiosas com eventuais alterações na legislação brasileira. A Santa Sé pressionava o governo desde 2000, durante o pontificado de João Paulo II, a fechar um acordo que ratificasse a garantia do ensino católico. Temendo polêmicas, o Itamaraty costurou um texto que estende essa garantia a outros credos. Por considerar uma intromissão em assuntos do Estado, o governo não aceitou artigo que dava garantias ainda ao cumprimento de feriados religiosos, como Natal e Nossa Senhora Aparecida.

O acordo, que terá 20 artigos, praticamente é uma cópia do parágrafo 210 da Constituição e do artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que estabelecem o direito individual dos alunos em ter disciplina facultativa de ensino religioso no horário normal das aulas, segundo informação de Vera Machado, embaixadora do Brasil junto à Santa Sé.

Em 2007, na visita do chefe da Igreja Católicia a São Paulo, educadores e religiosos travaram uma polêmica sobre um possível acordo que feria o princípio do Estado laico e separado da Igreja Católica, estabelecido pela primeira Carta da República, em 1891. Havia um temor de mais isenções de impostos à pessoa jurídica católica do que a Constituição garante a outras religiões. O governo ainda não divulgou cópia do texto do acordo. Numa entrevista na quarta-feira em Roma, a embaixadora leu os 20 artigos do acordo, especialmente o parágrafo primeiro do artigo 11º  que trata do ensino religioso facultativo, uma forma de atender ao Vaticano e de aplacar a ira dos críticos.

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