Villas-Bôas Corrêa – Repórter político do JB
Das muitas intrigas entre aliados em polvorosa, com inflamadas declarações trocadas com o molho apimentado da ironia e das interpretações dos decifradores de índices o que sobra da recente pesquisa do Instituto Data-Folha é a evidência de que o presidente-candidato Luiz Inácio Lula da Silva apronta na raia vazia como candidato único, há mais de três meses em tempo integral na caça ao voto do eleitor abandonado.
O mais é conseqüência da excitação que contagia o PT de crista murcha com o envolvimento como principal beneficiário do escândalo em dose dupla da corrupção para o financiamento da última campanha eleitoral e dos seus filhotes na roubalheira das ambulâncias superfaturadas, nas falcatruas e denúncias de crimes em prefeituras sob o comando petista, que se rejubila com a esperada confirmação que deverá ser premiado com mais quatro anos aconchegado no cofre da Viúva.
Entende-se e mesmo é fácil compreender a fossa em que mergulhou a oposição e o desabafo no sururu doméstico, com as feias acusações de traição, de corpo mole, de incompetência a riscar o ar como setas envenenadas. Os excitados aliados com os nervos tensos e a irritação à flor da pele não conseguem entender a mágica que sustenta Lula como favorito absoluto, enquanto o seu candidato, o ex-governador Geraldo Alckmin, parece colado ao solo, não consegue levantar vôo depois de dois meses de campanha modesta, tão sumida na mídia que parece clandestina.
Fazendo as pazes com o bom senso e a lógica, comecemos pelas preliminares. Antes de catar as culpas alheias, a oposição deveria mirar-se no espelho e examinar as rugas da sua omissão. Com a óbvia ressalva dos poucos que se esbofam nas críticas ao favorito – como os senadores Artur Virgílio, Antonio Carlos Magalhães, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen e meia dúzia dos deputados – a oposição brilha pelo silêncio, atenta ao conselho da sabedoria popular que em boca fechada os insetos não penetram.
E, para agravar os pecados da inércia interesseira de quem não quer correr o risco de pegar a condução errada e ir parar no fim da linha da derrota, poucas vezes um candidato ousou tanto como Lula na sistemática desobediência às restrições legais e aos princípios éticos. A praga da reeleição plantada pelo antecessor odiado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, adoçou a herança maldita com o privilégio de disputar o bis usando e abusando das facilidades da maquina administrativa.
Quando cutucado, Lula bóia na desculpa que segue o exemplo do sociólogo ilustre, o que é truque de puro despiste. E que não o constrange como recordista na contramão da rota simulação, de comicidade debochada, de que não é candidato, cultiva as suas dúvidas com data marcada e programação pronta para o lançamento da candidatura em forrobodó na Praça dos Três Poderes, com o MST, a CUT, o PT garantindo a massa para a festança de arromba.
Ocupada com as CPIs e o chorrilho de um novo escândalo a cada dia, a oposição esquece a campanha e o candidato. Por sua vez, o estilo do opositor, ex-governador Geraldo Alckmin é de quem prefere enfrentar a algazarra do otimismo com o toque abafado, em surdina, de discursos de sobremesa.
Arrancar na reta decisiva como favorito, com altos índices de tendência de voto nas pesquisa, não é vantagem desprezível.
Se a eleição não está decidida e costuma pregar peças nos vencedores de véspera, é evidente que o presidente-candidato tem faturado com esperteza as vantagens do cargo. E o seu carisma pessoal, a sólida liderança popular inflada com os êxitos de programas sociais, como o Bolsa Família, o aumento do salário mínimo e as promessas de milagres adiados para o segundo mandato completam o perfil do candidato que a oposição tem todos os motivos para temer.
A cuca fervilhando com as más notícias, prenuncia o pânico que dispersa os indecisos. Com estabanada reação ao primeiro susto, a aliança PSDB-PL demonstra a sua fragilidade e os problemas de definição do comando da campanha. Erros, hesitações nos acertos para a montagem da chapa com o senador pefelista José Jorge na vice-presidência só agora começam a ser enfrentados.
E, para mal dos pecados, a candidatura do senador Pedro Simon, com o tamanho do buraco dos indecisos, desponta como extremamente sedutora para a banda do PMDB que defende o candidato próprio e promete agitar a Convenção do partido, controlada pela maioria governista, seduzida pelas promessas de Lula.
Se a vantagem de Lula nas várias simulações escora o seu favoritismo, o índice de 27% de rejeição deve assustar o cordão da reeleição.
A eleição não está decidida. Mas, ou a oposição entra em campo no segundo tempo disposta a virar o placar ou o campeonato está perdido.