Brasília(AE) – Em mais uma cerimônia de lançamento de obras do Programa de Aceleração Econômica (PAC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a legislação eleitoral, que impede a liberação de recursos para os municípios a partir do mês de julho, por causa das eleições municipais de outubro. “É o lado podre da hipocrisia brasileira em que você pára um determinado tempo por causa de suspeição”, disse o presidente, ressaltando que “eleição neste País, em vez de ser uma coisa importante para consagrar a democracia, faz quem governa ficar um ano sem governar, em quatro anos de mandato”. E emendou: “pelo falso moralismo deste País, parte-se do pressuposto de que um presidente ou governador assinar um contrato com um prefeito é beneficiar o prefeito”. O prazo máximo de liberação de recursos, pela lei eleitoral é quatro de julho. Falando de improviso, algumas vezes com tom exaltado, Lula, sempre ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pediu que os prefeitos e governadores venham a Brasília e apresentem, o quanto antes, os seus projetos, alegando que “ainda tem, só da Caixa Econômica Federal, até o final deste mês, R$ 1,5 bilhão” para a contratação de novas obras.
Para o presidente, não é possível que um país que precisa gerar empregos, fazer esgoto, fazer ruas, “ficar três meses sem fazer nada porque o prefeito não veio aqui buscar o dinheiro”. E emendou: “nós vamos continuar chamando os governadores, chamando os prefeitos, até a data limite. Nós não queremos deixar nenhum centavo do PAC na gaveta”.
Lula aproveitou a cerimônia para se queixar da ausência, na cerimônia, de prefeitos e da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, que é do PSDB. O Rio Grande do Sul foi o que receberia o maior volume de recursos ontem, R$ 342,9 milhões dos R$ 2,041 bilhões.
Alfinetando a ausente tucana, o presidente, mais uma vez, se gabou de “não discriminar” nenhum partido na liberação de recursos e assegurou que “duvida que tenha algo mais republicano que o PAC”, assim como “duvida” que algum prefeito ou governador “tenha sido preterido por conta de pertencer a uma organização política diferente da sua”. Em seguida, o presidente Lula contou que “respondeu a manchetes de jornais” que diziam que “governo privilegia os aliados” marcando, para a semana seguinte uma visita a São Paulo, para assinar o PAC com o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, e com o governador paulista, José Serra, que não são seus aliados. “E olha que o PAC de São Paulo, sozinho, tem mais dinheiro que todos vocês juntos”, disse ele, se referindo aos nove governadores presentes.
Lula comentou ainda que as pessoas diziam que ele não podia ir lá em São Paulo, “porque o Kassab é do PFL”. E reagiu: “O Kassab é do PFL, mas o povo de São Paulo é brasileiro, antes de tudo, e merece que a gente cuide dele”. Insistindo na sua tese de que não discrimina adversários políticos, Lula passou a elogiar, então, o único governador do DEM, antigo PFL, José Roberto Arruda, do Distrito Federal. “É o mais esperto dos governadores”, contou ele, sob risos da platéia. “De vez em quando ele pede uma audiência para mim, vem agradecer as obras do PAC, eu fico todo feliz e ele vem atochando novos pedidos de obras do PAC”, disse Lula, passando a comparar o PAC a uma “roda gigante que não pode parar de girar”.
Lula informou ainda, que, a partir de julho, quando entra o período de restrição eleitoral, ele não vai mais viajar para assinar contratos, mas para visitar obras que estão em andamento. Ele quer percorrer municípios onde estão sendo construídas escolas técnicas e universidades e ver de perto as obras das estradas, visitando ferrovias, portos e aeroportos pelo país a fora.
Durante cerimônia, ministra encarna a “mãe do PAC”
Brasília(AE) – Em mais uma cerimônia na qual vestiu o figurino de “mãe” do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que o governo está cumprindo a promessa de acabar com os “esqueletos” de importantes obras paralisadas. “O Brasil, de fato, está virando um grande canteiro de obras”, discursou Dilma, no Palácio do Planalto.
Diante de uma platéia formada por governadores e prefeitos, a ministra assumiu tom de gerente do governo e não fugiu do script: durante 15 minutos, só falou do PAC. A solenidade organizada para assinar contratos do PAC ocorreu horas depois de Dilma ter dito, em entrevista à Rádio Gaúcha, que as denúncias da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, compõem o repertório do “fogo inimigo”.
Denise acusa a ministra de pressionar a Anac no processo de venda da Varig e da VarigLog. O governo decidiu não entrar em bate-boca e aguarda o depoimento da ex-diretora da Anac na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, na quarta-feira, para mensurar o tamanho do estrago e redefinir sua estratégia.
As acusações de Denise preocupam o Planalto e seu potencial de provocar crise é considerado maior do que o escândalo do dossiê montado na Casa Civil com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mesmo assim, Dilma avalia que não vale a pena responder a cada acusação de forma pontual, para não alimentar ainda mais a polêmica. Meio ambiente – Depois de entrar em rota de colisão com Marina Silva (PT), que deixou o Ministério do Meio Ambiente há 25 dias e retomou sua cadeira no Senado, a chefe da Casa Civil procurou ontem desfazer a imagem de que defende o desenvolvimento a qualquer custo. “Investir em meio ambiente, em água tratada e acabar com o esgoto a céu aberto é algo crucial para o governo”, garantiu.
“Obra de saneamento também é obra de proteção ao meio ambiente porque, caso contrário, comprometemos os nossos rios e mananciais.”
Vestida com um terno cor de vinho, Dilma fez discurso sob medida para agradar à eclética platéia, composta por políticos do PT, do PMDB, do PSDB e até do DEM. “O PAC tem desempenho crescentemente eficiente porque tivemos a capacidade de nos organizar em parceria: Estados, prefeituras e União”, disse a ministra na cerimônia, que liberou recursos da ordem de R$ 1,861 bilhão para nove Estados. Para ela, a tática possibilitou encerrar um período de duas décadas “sem investimentos significativos” em saneamento e distribuir recursos.
Pouco antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva incluí-la, em discurso de improviso, no time dos ministros “duros” nas negociações – ao lado de Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) -, Dilma esforçou-se para imprimir estilo menos técnico à sua fala. Seguiu conselho de Lula, que a considera o melhor nome do PT, até agora, para concorrer à sucessão presidencial de 2010. “Nós reconhecemos que investir em infra-estrutura é também acabar com a desigualdade”, admitiu a ministra. Foi aplaudida.
Dilma elogiou o programa Bolsa-Família e disse que o governo continuará a manter o crescimento do País “de forma contínua”. Na tentativa de mostrar que a distribuição de renda ocorre em ritmo satisfatório, lembrou que 20 milhões de brasileiros já migraram das camadas D e E para a classe média. “É impossível pensar que nesse mundo moderno alguém vá ser um cidadão integral se não for consumidor e não tiver acesso aos benefícios do crescimento”, argumentou. Para a gerente do governo, o Bolsa-Família, o PAC e o programa de educação são responsáveis pela “modificação no cenário do País” nesses últimos anos.