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Luz no fim da tela

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Ramon Ribeiro
Repórter

Nos últimos anos tem sido a mesma coisa. O período que antecede a entrega do Oscar atrai tanto olhares para os indicados que os principais filmes concorrentes acabam ganhando espaço na programação dos cinemas de Natal. Mas depois desse momento volta ao ritmo normal, onde, apesar de um ligeiro crescimento de público, a oferta de filmes alternativos nas salas comerciais não deslanchou, deixando os amantes da sétima arte à mercê da disponibilidade dos exibidores.
Cena do aclamado “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro
Para o produtor cultural, social media e cinéfilo Denis Perferpin, a grande dificuldade para Natal ter mais filmes alternativos é que só se tem salas comerciais e de grandes exibidores na cidade. “Todas as capitais do nordeste tem cinema de arte. João Pessoa tem duas, Salvador tem seis. Fiz esse levantamento para uma pesquisa. Natal não tem nenhuma”, afirma. Para ele, a UFRN já poderia ter uma sala e vias movimentadas como a avenida Roberto Freire também comportaria um cinema de rua.

Para quem quiser ver filmes diferenciados, a única exceção é o projeto Cinema de Arte, que acontece no Cinépolis Natal Shopping. Criado em 1963, em Fortaleza, hoje ele acontece em 10 cidades. Denis é responsável por administrar as redes sociais do projeto, assim como faz com a página Vivo no Cinema. E por esses canais que ele tem acompanhado o comportamento do público potiguar com relação a filmes alternativos.

“Quando existe um filme muito aguardado, que vejo as pessoas perguntando se vem para Natal, a gente inicia uma campanha nas redes. Criamos o evento no Facebook e divulgamos. Se o evento tiver um bom alcance, mostro os resultados para os diretores de programação dos cinemas”, diz. “O público cresceu, está mais informado, por dentro dos lançamentos. Tudo isso conta na força do engajamento deles em campanhas”.

Apesar de nem sempre ser determinante, a estratégia tem gerado bons frutos e bom diálogo com as gerências dos cinemas locais, que apesar de conflitos com as administrações nacionais e os interesses comerciais, tem dado ouvidos às sugestões de filmes fora da caixa.
“Clarisse” veio a Natal graças a negociação com o diretor
O filme “A Bruxa”, de Robert Eggers, é um exemplo bem sucedido das campanhas do Vivo no Cinema, assim como o nacional “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro. “Fizemos a campanha e os cinemas daqui se interessaram. A resposta positiva do público nas sessões, ajuda a manter os filmes mais semanas”, comenta. “A pirataria, os downloads de filmes, tudo isso diminui a frequência de público. As vezes os próprios exibidores querem colocar em cartaz filmes que já caíram nas redes para baixar. E a gente sugere outro, já que o risco de pouco público é evidente”.

Denis também ajudou para que o super comentado “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, entrasse em cartaz com várias sessões diárias. “Iam ser apenas duas sessões por dia e o Cinemark colocou quatro. Depois ainda colocaram no Projeta Brasil, pois não ia ser exibido em Natal. E foi sucesso, com sessões lotadas”, lembra. “A gente faz o que está ao alcance. Tenho contato com exibidores do Brasil, programadores, então dou uma força. Entendo essa função mais como meio de campo entre o interesse do público cinéfilo e as administrações dos cinemas daqui”.

Ele conta que as distribuidoras tem interesse em exibir seus filmes para o público natalense. Mas há conflitos que dificultam a relação, como no caso da Imovisiom, responsável pela distribuição nacional do longa “Aquarius”. “A Imovision exigem no mínimo três sessões por dia para seus filmes. O projeto Cinema de Arte, por exemplo, é uma sessão por dia. Então há esses conflitos de interesse que atrapalham, infelizmente”, explica.

Distribuidora recente, a Celeste, do Ceará, conseguiu colocar o longa cearense “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois” na programação do Moviecom. A negociação envolveu inclusive o diretor da obra, Petrus Cariry. “Há filmes nacionais que estreiam em algumas praças das redes e se a bilheteria foi fraca eles desistem de levar para outros locais. Há essa medição com o resultado de outras cidades. É uma penas. Mas também sabemos que nem todo filme nacional vai conseguir uma resposta como ‘Boi  Neon’  ou ‘Aquarius’”, comenta o cinéfilo.
O sucesso de “Aquárius”, mesmo em poucas salas da cidade
VIRADA CINEMATOGRÁFICA

Há nove anos envolvido com projetos de cinema na cidade, Denis já esteve envolvido com a Virada Cinematográfica, ação do projeto Cine Cult, do finado produtor e cinéfilo Roberto Nunes. Ele conta que há o interesse de voltar a realizar a virada, mas somente para 2018. “O projeto da Virada está pronto. O que inviabiliza o evento é o custo. É muito alto. O Moviecom foi o único que demonstrou interesse. Mas tivemos que cancelar porque perdemos dois patrocínios faltando uma semana para o evento. A dificuldade é encontrar patrocínio”, diz. Ele está buscando aprovar o projeto em alguma lei de incentivo via renúncia fiscal para correr atrás de patrocínio.

Outro projeto que vai ficar de lado por falta de apoio é o encontro de cinéfilos para acompanhar a entrega do Oscar, promovido em 2016 em parceria com o blog Chaplin. “Com o fechamento da cafeteria parceira ficou inviável promover o encontro. Ele tem um custo, que no ano passado contou com o apoio da cafeteria. Para 2017 fomos atrás de lugares e parcerias, mas não houve lugares interessados em entrar com contrapartida”, lamenta.

Mas, o ano nos cinemas de Natal ainda está só no começo e muito ainda pode acontecer. Ele adianta, sem dar muitos detalhes, que no segundo semestre pode pintar alguma mostra especial nos cinemas locais, a exemplo da Retrospectiva François Truffaut. “Esse ano deve vir outra, menor. Ou uma mini mostra com a seleção de filmes de algum festival. É sempre difícil os realizadores encaixar esses projetos nas programações locais. Se acontecer deve ser para o segundo semestre”, diz.

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