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Macapá

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Gustavo Sobral
Escritor e pesquisador

Macapá. Você vai pensar que está numa ilha cercada de água por todos os lados. Macapá passa pelo rio Amazonas e o rio Amazonas passa por Macapá. Os navios de carga e passageiro repousam no cais, é o que atravessa o rio. Que é um mar. Bicicletas passam como carros e praças formam canteiros centrais arborizados e com equipamentos esportivos ao dispor. A casa do governador dá as costas para cidade e procura olhar o rio.

Mais uma vez é o taxista quem informa: lá não mora o governador. Vive na sua casa própria que ele mesmo aluga ao governo para a sua residência. E diz mais, aprendeu com o prefeito que o fez o mesmo muito antes dele. O Brasil profundo que não difere do Brasil raso do litoral. A madrugada é o espetáculo que o sol preguiçoso levanta às seis. Bem ali se descobre onde dorme o sol: é no leito do rio que ele se deita fim de tarde; é do leito do rio que ele levanta pela madrugada, e quem o acorda são os pássaros.

Infinito de cantos os mais variados, todos ao mesmo tempo, a passarada cochicha o amanhecer, dezenas, milhares deles, pousando aqui e ali, na copa das árvores, na margem do rio, de todas as qualidades, de todos os tamanhos e cores, e passam também em bando, em revoada, junto a eles a presença terrena é dos caminhantes e a gente que corre, os atletas da manhã. São os habitantes da margem. Depois chegam ao dia os trabalhadores, os ciclistas, os ônibus, a cidade.

A bicicleta é um veículo de uso continuo da população, e não espere por ciclovias, elas vão pelas ruas largas e com elas os automóveis convivem de forma pacífica. Há ali um exemplo que as cidades grandes desconhecem andando pelo centro de Macapá. Edifícios com mais de três pavimentos se contam nos dedos. Macapá é térrea como todas as outras capitais de sua região. Na orla do rio, os barzinhos assistem ao futebol com cerveja ou ouvem música. A população também se abriga nos trailers de lanche e tudo isso forma montanha de lixos que pela manhã os garis recolhem e os pombos se fartam.

O fim de tarde é de encontro, o céu bem azul e as pessoas na murada, nos bancos de praça, olham o rio enquanto passam os pássaros. Na grama da fortaleza de cinco pontas, namorados deitados lado a lado, sob a sombra das árvores, brincam de autorretrato com o celular e se bicam de paixão, casais caminham com seus filhos ou se deixam ficar na murada.

A fortaleza de cinco pontas desenha um passeio por onde se caminha no traço do rio. É a Fortaleza de São José de Macapá como está na placa. O atlas geográfico revelará outros dados sobre a cidade: está no sudeste do estado, é a única capital estadual brasileira que não possui interligação por rodovia a outras capitais e que está no extremo norte do país, a 1.791 quilômetros de Brasília. O histórico explicara que foi fundada no século XVIII e que o nome Macapá veio da palmeira ali frequente na região, que espero seja uma que solitária, mas altaneira, residência e ninho de um casal de pássaros, figura despercebida no passeio que dá para o rio bem em frente à casa oficial do governador (a não alugada).

Macapá está a quatorze metros acima do mar. Parte do rio durante parte do dia preenche a margem e outra parte, retrai-se como um mar e deixa a mostra um leito lamacento. O clima é quente e úmido e as temperaturas andam na casa dos mais de trinta graus. A fortaleza, hoje espaço de visitação, foi a razão da criação da cidade. Criar um ponto de defesa no extremo norte. Macapá está acima da linha do Equador, durma com isso. Um marco zero foi construído para registrar o fato.

No caminho para o marco, você avistará outro ponto turístico da cidade, o sambódromo onde rebola o carnaval e marcha a quadrilha junina. Terreiro para shows e festas com arquibancadas e passeio, jardim e iluminação. Já o marco zero é um relógio de sol, uma enorme torre de concreto que registra a linha imaginaria que divide os dois hemisférios. Ali se pode assistir duas vez ao ano ao equinócio. Em março e em setembro, quando a noite tem a mesma duração do dia.

Pecado é ser viajante de segunda-feira. Nada funciona na segunda-feira. Fica o registro de quem esteve lá e não andou na linha. Na linha do Equador, que fique claro. Meninos, eu fui, mas nem vi. A Casa do Artesão, no centro, bem próximo ao forte é o lugar pra encontrar o artesanato local. Excepcionalmente fechada naquela segunda feira, pelo vidro da janela se pode ver que oferece a mais variada produção de artesanato indígena, o que se percebe como único indício da presença do índio na região.  O comércio é outra coisa por lá… Em Macapá as mulheres (e também os homens) não perdem a loja de importados. Perfumes de todas as marcas, óculos e bolsas de grifes, seção de eletrônicos e cama, mesa e banho. É o comércio de luxo. Dizem que o preço é em conta e vale investir nos perfumes a preço de free shop.

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